Os Pond regressam com ‘The Weather’ e estão maduros, conscientes e em crescimento
Os Pond são um grupo australiano de rock psicadélico formado por Joseph Ryan, Jay Watson (um dos membros dos Tame Impala) e o frontman Nick Allbrook (que foi durante cinco anos o baixista dos Tame Impala nas actuações da banda). A ideia dos três amigos era criar um grupo de colaboração entre várias pessoas com um elenco de artistas em constante rotação, e de facto é isso que se tem verificado ao longo do percurso musical de Pond. Além do núcleo duro composto pelos três artistas já referidos, pela banda já passaram membros como Cameron Avery (que lançou o seu primeiro álbum a solo este ano) ou Kevin Parker (o proficiente frontman de Tame Impala), sendo que Parker também produz os álbuns da banda desde 2012.
Antes de The Weather, Pond lançaram o caótico Man It Feels Like Space Again, um dos melhores álbuns da sua discografia. O seu nome foi proferido por um dos membros da banda depois de uma trip de ácidos e, adequadamente, o álbum divaga pelo rock psicadélico (“Man It Feels Like Space Again”, “Sitting Up on Our Crane” ou “Zond”), o funk exacerbado e a rapidez que caracteriza a música electrónica (“Outside Is the Right Side” e “Elvis’ Flaming Star” respectivamente) e sons mais contidos e bem construídos com uma aura de folk psicadélico como “Holding Out for You” ou “Medicine Hat”. À semelhança de álbuns anteriores, os Pond conseguem mostrar o lado jocoso e jovial que já é apanágio da banda, e mais uma vez juntam as letras nonsense e humorísticas a boas interpretações instrumentais, provando que apesar de mostrarem a imaturidade típica da juventude não se descuidam nos deveres musicais.
O conceito de The Weather é a cidade natal de Nick Allbrook, Perth, e os seus aspectos mais disfuncionais e caóticos, aliados à tranquilidade de uma cidade à beira-mar e à natureza que abunda neste local. A produção de Kevin Parker denota uma influência da sonoridade de Currents, o álbum mais recente de Tame Impala, evidenciado pelos singles “Paint Me Silver”, leve, descontraído e com um riff contido que preenche a música como o motivo principal, e “Sweep Me off my Feet”, que tem um belo solo rasgado antes do último refrão, em que Allbrook chama por alguém que o arrebate totalmente com uma investida de paixão fervorosa e ardente. Há espaço também para a “parvoíce” já conhecida da banda, ilustrada pelo verso “Between my penis and my chin is Camembert and shame” da já referida “Sweep me off my Feet”, ou pela música “All I Want for Xmas (Is a Tascam 388)”, uma música cómica, um suspirar musical sem muito que se lhe diga mas que é claramente de Pond.
Em The Weather a “chinfrineira” psicadélica e o “exagero” sonoro que caracteriza Man It Feels Like Space Again soa mais contido e polido. É clara uma maturidade no seio da banda, algo que se nota logo na primeira música do álbum: “30000 Megatons” é um tema profundo, uma faixa “atenta” de Pond que sob um arranjo de sintetizadores falam sobre a falta de esperança na Humanidade e os vários erros que assolam a nossa existência, com um ribombar semelhante a bombas antes do riff final, concluindo uma boa faixa de introdução a um álbum e a um grupo mais maduro, consciente e menos brincalhão. “Edge of the World Pt.2” é outro exemplo desse crescimento, a epopeia deste álbum, uma bela música progressiva que sobe gradualmente de intensidade até um arranjo vocal quase angelical e com um sabor agridoce.
Além do aprimorar da sonoridade de Pond, o mais interessante de The Weather são as novas experimentações. “Zen Automaton” mistura jazz com o universo psicadélico da banda, mostrado pela parte atmosférica de sopros a sucederem um verso particularmente ridículo (“Holy shit is that Sir Ian McKellen leaning from the clouds?/Shooting lightening from his eyes all across the Burmese crowds?”), parecendo qualquer coisa escrita com a ajuda do grupo de jazz BADBADNOTGOOD, . “Edge of the World Pt.1” não se afasta muito da sonoridade da banda, uma música soturna com um teclado saltitante que se instala a certa altura, mas a letra mostra um lado mais nihilista e triste (“We’re all just a waste of good meat/In a godless world”). A sua parte final é grandiosa, completa, acabando com um solo rasgado e uma bateria efervescente.
Mas nem tudo é um mar de rosas neste novo álbum da banda. A faixa “A/B” é um tema fragmentado, que tem uma primeira parte mais corrida e cheia de pujança, e após se ouvir um sintonizar de rádio transforma-se em algo completamente diferente, uma segunda parte estranhamente calma que destoa da anterior. Mas a música acaba por não ter grande sentido, parece ser só um tema para completar a lista de músicas. “Colder than Ice” é outro exemplo de faixas menos conseguidas neste novo álbum de Pond: a sua sonoridade lembra qualquer coisa vintage e tenta mostrar maturidade ao abordar o problema das drogas na Austrália. Mas é demasiado repetitiva e tem falta de profundidade, reduz algo sério e importante de discutir a uma melodia “gaguejada” acompanhada por um instrumental saído dos anos 80.
Pond estão em crescimento e The Weather espelha isso. Na faixa título somos apresentados a uma voz transfigurada de Nick Allbrook acompanhada por um arranjo discreto mas maravilhoso na sua simplicidade, contido mas maduro. “No place, no mark/Just voices, in the dark” diz o frontman da banda escondido atrás de efeitos, como se a sua voz surgisse desse recanto escondido. Mas desse local a banda volta com uma visão mais clara do seu mundo, mostrando um lado mais preocupado e atento, usando a música como uma bela expressão artística das observações que Allbrook e companhia tecem sobre a condição humana e sobre o dia-a-dia em Perth. Ainda assim, não se esquecem de viver a vida, de a aproveitar de forma jovial. Depois de um divagar psicadélico poderoso em Man It Feels Like Space Again os Pond estão de volta, maduros e conscientes mas sem nunca abdicarem da sonoridade que os deu a conhecer ao mundo.
Músicas preferidas: “30000 Megatons”, “Sweep Me off my Feet”, “The Edge of the World Pt.2” e “The Weather”
Músicas menos apelativas: “Colder than Ice”, “All I Want for Xmas (Is a Tascam 388)” e “A/B”