“Overlord”, de Julius Avery: entretenimento esquecível
Ponto prévio, “Overlord”, ou em português “Operação Overlord“, é um B movie que consegue com alguma qualidade corresponder ao que se propõe: entreter. Mais, em termos de produção e realização, “Operação Overlord” destaca-se logo no seu início com uma excelente sequência inicial em pleno avião de guerra sob fogo inimigo onde passamos em segundos a conhecer praticamente todos os intervenientes principais de um filme que, se fosse apenas de guerra, teria em si cenas de fazer inveja a muitas das grandes produções. Mas, posto isto, e apesar dos elogios, o que vale na sua globalidade leva-nos mais longe, e para um filme que quer chegar a vários géneros, então terá também de saber uni-los.
Produzido por J. J. Abrams, que nos dias de hoje ainda vive num estado de graça pelo sucesso de uma série “(“Lost”) que cativou milhões de pessoas mas que não passava de um engodo argumentativo com sucessivas reviravoltas e as respostas que nunca foram dadas não eram mais que artifícios e banalidades que, com qualidade estilística, e com a ajuda de todas as histórias paralelas que a formavam, davam a sensação de estarmos perante um acontecimento televisivo sem paralelo. Os criadores e produtores de “Lost” tinham sim criado um labirinto sem saída, mas não tinha mal, pois já todos estávamos perdidos com eles. No entanto, crédito lhe seja devido, e Abrams, com todo o peso que isso acarreta, conseguiu dar novo fôlego a duas das maiores sagas de sempre – “Star Trek” e “Star Wars” -, além do bom filme que foi “10 Cloverfield Lane”, até ter vindo por aí abaixo com os outros “Cloverfiels” (para esquecer).
Neste Operação “Overlord” o peso da realização recai no entanto pelo relativamente desconhecido Julius Avery que não consegue fugir ao plot repleto de chavões e falta de humor, assim como a umas quantas falhas perfeitamente evitáveis (já lá iremos).
Do início do filme já falámos com merecidos elogios. A forma como num avião sob fogo inimigo se dá a conhecer as personalidades dos intervenientes principais da história é feita com habilidade e mestria, mas até aí revela a sua insipiência. Nada nos vai surpreender nos personagens que conhecemos nos primeiros minutos. Nada. E é por isso que logo a partir daí que começa a queda (literal e figurativa) do filme. Boyce (Jovan Adepo) é o pêndulo emocional do filme “herói” que supera as probabilidades e se torna o salvador; Ford (Wyatt Russell) o corajoso, silencioso, e onde reside o músculo; e John Magaro (Tibbet) como canastrão de serviço com coração bondoso (lá bem no fundo).
Temos de ser “brandos” com um filme que retrata experiências nazis a pessoas transformando-as em zombies praticamente invencíveis? Nem por isso. Com um filme em que soldados – num ataque a uma base altamente segura (supostamente) – passam praticamente ao lado de inimigos e estes não os vêem? Muito menos. Há claramente elementos a mais a funcionarem mal num filme que, se ignorarmos pontos crassos (como se fosse possível isso), seria até aprazível na sua globalidade. É um filme que resulta de um trabalho preguiçoso e pouco rigoroso, achando que “não se levar a sério” é desculpa para desleixo. Não é. No final, “Operação Overlod” é um filme que não vai além de pequenos esboços de entusiasmo, laivos de terror sem consequência ou segmentos de história por aproveitar (a história da tia é um desses casos, assim como a falta de uso dos restantes “mutantes” para adicionar algum condimento à história).
Nem a candura de Mathilde Ollivier, como Chloe segura um filme desmembrado, no pun intended. Uma proposta como tantas outras esquecíveis nas salas de cinema, mas ainda assim, uma proposta diferente do que estamos habituados – para o bem e para o mal – num tipo de conteúdo diferente que, ainda assim, não se pode só fiar-se disso como único chamariz para a conquista dos sentidos e da satisfação do público.