Parlamento alemão define “Holodomor” como genocídio. “Grande fome” terá vitimado mais 3 milhões de ucranianos sob o regime de Estaline
O parlamento alemão aprovou hoje uma resolução que define de genocídio o “Holodomor”, a “grande fome” que atingiu a Ucrânia em 1932-1933 e que terá vitimado mais de três milhões de ucranianos sob o regime repressivo de Josef Estaline.
A resolução foi apresentada no Bundestag (câmara baixa do parlamento) pelos três partidos da coligação governamental liderada pelo chanceler Olaf Scholz e pelo principal bloco da oposição.
Após um debate ao qual assistiu o embaixador ucraniano na Alemanha, a resolução foi aprovada por larga maioria, e a abstenção de dois outros partidos da oposição.
A votação ocorreu pouco dias após a Ucrânia ter assinalado o 90º aniversário do início da fome.
Holodomor significa extermínio em massa dos ucranianos pela fome e resulta da fusão das palavras “holod”, a fome, e “mor”, do verbo moryty, que significa esgotar, deixar sofrer sem intervir, matar por privações.
A resolução declara que “as mortes em massa pela fome não foram o resultado de uma colheita fracassada; a liderança política da União Soviética sob Josef Estaline foi responsável por elas”. O texto acrescenta que os ucranianos manifestavam uma “profunda suspeita” por Estaline, de origem georgiana, e que “o conjunto da Ucrânia foi atingido pela fome e repressão, e não apenas as zonas de produção de cereais”.
“Numa perspetiva atual, é óbvia uma classificação histórica e política de genocídio”, indica a resolução. “O parlamento alemão partilha esta classificação”.
“Este horror teve a sua origem no Kremlin – aí, o ditador tomou a cruel decisão de promover a coletivização forçada e provocar a fome”, disse no hemiciclo Robin Wagner, um deputado dos Verdes, um dos partidos da coligação no poder.
“E a morte pela fome também tinha como objetivo a repressão da identidade nacional ucraniana, da cultura ucraniana e da língua”, acrescentou, citado pela agencia noticiosa Associated Press (AP).
Wagner considerou ainda que “os paralelos com a atualidade são inadmissíveis”, um aspeto também sublinhado por outros intervenientes nove meses após a invasão da Ucrânia pela vizinha Rússia.
Os meios académicos permanecem divididos sobre se a designada “grande fome” constituiu um genocídio, como a principal questão relacionada com a intenção de Estaline de pretender intencionalmente matar ucranianos numa tentativa de suprimir um movimento independentista contra a União Soviética, ou se a fome teve como causa principal a incompetência oficial, associada às desfavoráveis condições naturais.
De acordo com o Museu Holodomor em Kiev, 16 países para além da Ucrânia, já reconheceram a fome como um genocídio: Austrália, Equador, Estónia, Canadá, Colômbia, Geórgia, Hungria, Letónia, Lituânia, México, Paraguai, Peru, Polónia, Portugal, Estados Unidos e Vaticano. Outros países, incluindo a Argentina, Chile e Espanha, condenaram um “ato de extermínio”.
Na semana passada, o Papa Francisco relacionou o atual sofrimento dos ucranianos ao “genocídio artificial provocado por Estaline” na década de 1930.