‘Party’: Aldous Harding e o seu vulnerável melodrama
Depois de lançar o seu primeiro álbum em 2015, a cantora neozelandesa lança um novo álbum em 2017,’Party’. O seu mais recente trabalho, lançado em Maio, foi produzido por John Parish, também ele produtor de PJ Harvey, Perfume Genious, Laura Jean, entre outros. Trata-se do segundo álbum da carreira da artista.
A música continua a ter uma composição minimal, com poucos instrumentos, variando entre a guitarra e o piano. O que sobressai nas diferentes músicas são as variações vocais. A sua voz, neste álbum, é altamente exposta, e muda de carácter de canção para canção. Segundo Aldous, a parte mais importante da música é o que a voz nos pode dar, e é nisso que ela se tenta focar.
É um álbum obscuro. Insere-se dentro do goth-folk, sugerindo, por isso, uma estranheza poética. A sua melodia, também ela assimétrica, traz consigo alguns sons invulgares, electrónicos, bateria, e até coro. Apesar de ser um folk sombrio, também se encontram referências no jazz, e até a um ímpar indie-rock. Toda esta fusão cria uma assinatura única, que começa já a ser uma marca de passagem de Aldous pela música.
“Party” expõe uma certa vulnerabilidade. Aldous fez um álbum de veludo intenso, desproporcional, mas harmónico e vibrante. Cada música sugere uma nova máscara, uma nova alma, e uma mesma voz de diferentes tons. Fala-nos de isolamento, desolação, desilusão, no amor , torna o nosso ouvido amante da preocupação, do pensamento stressante e da sugestão abstracta. Deixa-nos perdidos nas suas declarações eróticas e ardentes, ao mesmo tempo que nos embrulha numa escuridão sentimental, meio amorosa meio irreal.
“Imagine my man” é a segunda música do álbum e também uma das músicas mais marcantes. Fala sobre o medo de estar no amor, e a descoberta de nós e do outro, a criação da distância que parece que torna tudo irreal; mais cedo ou mais tarde temos de lidar com ela. Uma música lenta, que leva o seu tempo; o tempo para sentir e, não raras vezes, ficar.
Outra faixa que marca a passagem de Aldous neste novo álbum é “I’m So Sorry”, a primeira música escrita para o LP, de forma rápida e espontânea. Deixa um rasto de confiança, e fala sobre a luta contra um vício; neste caso, o álcool. Não apresenta uma briga consigo mesma, mas expõe uma das suas paredes mais frágeis. Também é com esta música que percebe que pode trabalhar sobre este assunto, pode explorá-lo artisticamente e ver no que resulta.
Já a música que apresenta a perspectiva mais interessante é “Horizon”, que revela a escolha entre a própria vida e a das outras pessoas com ela. Normalmente retirando-se a si própria do enquadramento, deixa-se ir e sobra apenas a vida. Esta escolha recorrente entre uma pessoa e a arte: e ela, como artista e também pessoa, dá a preferência e escolhe a arte. Necessita deste espaço, desta solidão, para entender como abordar a sua própria vida.
Desta maneira, podemos dizer que é um álbum que atravessa vários estados sentimentais, apresenta uma certa modernidade na forma como os aborda, intimamente; a melodia e harmonia não têm problemas em mostrar a sua fragilidade e insegurança. As emoções são meio cruas, tornando o álbum carismático e particular, deixando-nos num mundo de subjetividades, no desejo, na demência e na expectativa de ser ou não ser.