Podcast. Fábio Lopes (Conguito): “Os grandes youtubers que comunicam agora fazem-no de forma errada”
As redes sociais e a liberalização dos conteúdos na Internet impulsionaram toda uma nova dinâmica de publicidade, difícil de imaginar há 20 anos. Sob este novo paradigma, surgiram igualmente profissões novas, como YouTubers ou influencers, que rentabilizam o público que conquistaram para apresentar e publicitar produtos de marcas que os contratam para tal. Cada vez mais, o mundo virtual está a sair da sua própria bolha e a tocar no mundo, dito, real.
Os empreendedores desta nova geração são mais do que meros criadores de conteúdos: trabalham na área das relações humanas, que não se limitam pela distância física; são os seus próprios chefes, mexem com dinheiro e estatísticas, em alguns casos, a partir da secundária e, na maioria, já no início da vida adulta. Uns investem na criatividade para se distinguirem da competição, outros deixam-se levar pelas modas ou ditam-nas e, como em diversos ramos da sociedade que sejam mediáticos, há quem seja polémico. Não tentar percebê-los é não tentar perceber como o mundo actual se move. É não tentar compreender o impacto na vida dos jovens que, em sociedades como a portuguesa, consomem avidamente este tipo de conteúdos.
Numa sociedade onde cada um de nós, teoricamente, pode ser influenciador e, ao mesmo tempo, sermos influenciados pelos outros, não é possível precisar com exactidão o real impacto de cada um. Por outras palavras, não é facilmente perceptível o contributo de cada um na publicitação de uma determinada marca ou produto. No final, o resultado, em certos momentos, pode ser sumarizado da seguinte forma: todos acabamos por consumir, de forma homogénea, as mesmas coisas.
Assim, surgiu a ideia de entrevistar um dos muitos exemplos nacionais, Fábio Lopes, mais conhecido por Conguito. Começou por partilhar conteúdos no YouTube e, no final da secundária, após ter recebido algumas ofertas, optou por não dar continuidade aos estudos. Neste momento, trabalha em meios de comunicação como a rádio e a televisão e tem uma forte ligação com as marcas. E é disso que vamos falar neste podcast: de marketing, de transparência, da forma como a sociedade olha para os influenciadores das redes sociais, entre outros assuntos.
Esta conversa teve como intuito compreender a vida profissional destas pessoas que, aos poucos, vão tendo cada vez mais impacto na nossa sociedade e nas novas gerações.
A conversa pode ser ouvida na íntegra aqui:
A opinião por parte de algumas pessoas, relativamente à forma como esta nova geração lucra, ainda é negativa: “quando nós [influenciadores] começámos a trabalhar com marcas, porque realmente queríamos essa independência financeira, houve imensa gente a dizer que nos tínhamos vendido”. E esta opinião, após alguns anos do surgimento de novas plataformas de comunicação e de estes jovens darem-se a conhecer, não se alterou, “Agora é difícil. Há uma opinião errada, porque muito do que vemos dos youtubers é mau. Os grandes youtubers que comunicam agora – esta nova geração – fazem-no de uma forma errada. Para mim não é correcto um youtuber fazer um vídeo dele deitado numa banheira com quinze mil euros.”
Não é só agora que a publicidade e a forma como nos chega são relevantes, mas provavelmente em momento algum do século teve tanto impacto nas vidas dos cidadãos. Só com uma foto é possível fazer publicidade a um produto (roupas, calçado, livros, óculos). E o debate que começa a surgir, por vezes até por parte dos seguidores dos influenciadores, é se as parcerias remuneradas deviam ser transparentes. Por outras palavras, se o público devia ter conhecimento da parceria e ser claro que é uma publicidade ou se é uma questão meramente do foro pessoal, da vida privada da pessoa, “O público, por exemplo no YouTube, topa que tu estás a produzir conteúdo por dinheiro, que estás inserido com um certo tipo de marcas por dinheiro. E acaba por ser melhor para o influencer ou para o youtuber assumir que está a produzir um conteúdo patrocinado”. Relativamente à criação de leis que obriguem os influenciadores a serem transparentes, Fábio Lopes afirmou: “Se isso devia ser legislado ou não? Não tenho ainda uma opinião formada. Acho que devia, mas ao mesmo tempo percebo que não seja, porque não tens de dar justificações… as pessoas escolheram ver o teu tipo de conteúdo”.
Quanto à possibilidade de alguém publicitar uma marca ou um produto que não utiliza e, assim, estar focado meramente na questão financeira, o Fábio disse: “Sinto que isso é totalmente errado. Vai contra todos os meus ideais. Se eu tiver uma persona e para chegar àquela posição tenho de fingir que gosto cerveja e que gosto de café…aí faz todo o sentido ser criticado pelos seguidores”.
A forma como estes jovens podem influenciar a sua própria geração vai para além de estilos de vida. Mostra uma nova forma de trabalhar e de conseguir determinados resultados que não precisam de ser atingidos necessariamente através do ensino superior. “Nós olhamos para os influenciadores e pensamos: ‘eu sou como ele’. Há uma proximidade. Eu não tenho voz de rádio, mas ele está na rádio, ele conseguiu. Agora já há pessoas “reais” a serem o que eu quero ser. E essa proximidade fez com que conseguíssemos dar outro tipo de resposta. Não há aquela diferença entre fã e superstar. Não, são pessoas que seguem o trabalho de outras”. Apesar disto, esta proximidade e o instantâneo consumismo das pessoas trouxe algumas problemas para os criadores de conteúdos, “ao mesmo tempo, isso é mau, porque as pessoas [os fãs] pensam que são donas do conteúdo e não são. É por isso que já não faço vídeos há um ano, porque houve um certo momento em que parou de ser divertido para mim e passou a ser obrigatório. Lançava um vídeo e automaticamente recebia mensagens de pessoas a perguntarem quando saía o próximo vídeo. Nós somos consumidores e queremos cada vez mais e mais e mais, mas as pessoas [os fãs] não estavam a valorizar o agora”.
A conversa pode ser ouvida na íntegra aqui:
Esta entrevista teve a contribuição de Miguel Fernandes Duarte. Fica aqui uma nota de agradecimento.