Portugal volta a ter representação oficial na UNESCO, Sampaio da Nóvoa irá assumir o cargo
Após a nomeação do Conselho de Ministros faltava apenas a aprovação oficial do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para que o ex-candidato à presidência da República António Manuel Seixas Sampaio da Nóvoa pudesse confirmar a sua ida para Paris – onde a organização internacional está sedeada.
Apesar da contestação do corpo diplomático do país sobre a escolha não-diplomática do governo, por não se tratar de um membro da carreira diplomática portuguesa, ainda assim os dois órgãos de soberania com uma palavra a dizer no processo tomaram uma decisão conjunta de avançar com esta nomeação.
O atual Ministro dos Negócios Estrangeiros – Augusto Santos Silva – lembrou ainda que a pessoa em questão para além da experiência como académico, Reitor da Universidade de Lisboa, trabalhou já inúmeras vezes junto da instituição (a última dessas contou inclusivamente com uma estadia no Brasil, em 2014, quando trabalhou igualmente junto do governo brasileiro, enquanto lecionava também na Universidade de Brasília).
Acima de tudo, tornar-se-ia imperativo este apontamento uma vez que Portugal integra, desde Novembro passado, o Conselho Executivo da organização para a Educação, Ciência e Cultura, sendo um dos 57 países que fazem parte do mesmo. Desde o período de contração económica no país, foram inúmeros os postos diplomáticos que tinham sofrido um “corte” ou até mesmo sido abolida a sua existência sendo que no caso em questão, era até ao momento o embaixador de Portugal a Paris que fazia representar os interesses multilaterais do país junto dos seus congéneres.
Com a ida do ex-professor para o órgão da ONU, o Ministro dos Negócios Estrangeiros acredita ainda que a mesma demonstra a relevância que o país dá aos setores que são trabalhados e discutidos na mesma, sendo que poderá ser este o garante do lançamento de iniciativas inéditas que caso não se verificasse esta transição, podiam ser muito difíceis. Lembrou ainda que a nomeação de membros não-diplomáticos, no nosso país, tem por norma acontecerem apenas em organizações multilaterais e as escolhas são sempre fundamentadas tendo em conta o candidato em questão.
António Sampaio da Nóvoa nasceu em Valença, tendo depois estudado na Universidade de Coimbra, onde foi jogador-estudante. Desistiu do curso de Matemática e ingressou na Fundação Calouste Gulbenkian onde estudou Teatro quando lhe foi oferecida uma bolsa. Posteriormente, em termos letivos, após o 25 de Abril ruma à Suíça, onde obtém o Diplôme d’Études Avancés em Ciências da Educação que seria reconhecido equivalentemente pela Universidade de Aveiro, em 1984. Dois anos depois conclui o seu doutoramento pela Universidade de Genebra, defendendo uma tese sobre a história do processo de profissionalização da actividade docente em Portugal (séculos XVIII a XX).
Para além da Universidade de Brasília, foi professor-convidado para leccionar em Barcelona, Genebra, Montreal, São Paulo, Wisconsin-Madison e em Columbia, em Nova Iorque. Em 1995, foi investigador visitante, durante um semestre, do Institut national de recherche pédagogique da Universidade de Paris V e em 2001 da Universidade de Oxford.
O seu contacto com a UNESCO vende desde longa data quando em 1992 co-criou a IDEA – Associação Internacional de Drama/Teatro e Educação. É ainda Comendador da Grã-Cruz da Ordem de Instrução Pública e em 2014 foi-lhe também atribuído o Prémio Universidade de Coimbra.