Post Malone: do Guitar Hero à música country
Austin Richard Post, mais conhecido como Post Malone, nasceu a 4 de Julho de 1995 em Siracusa, Nova Iorque. Desde muito jovem, mostrou um fascínio pela música, influenciado pela vasta coleção musical do pai, Rich Post, que já havia trabalhado como DJ em casamentos e era um grande apreciador de diferentes géneros musicais, incluindo folk, funk e rap. Aos 9 anos, muda-se com a família para Grapevine, Texas, onde se dedica afincadamente ao jogo “Guitar Hero”, um dos principais responsáveis por despertar o seu interesse pela guitarra e, eventualmente, pela criação musical. O seu pai, Rich Post, ávido consumidor de música, diz-lhe que se continuasse a jogar, lhe daria aulas de guitarra, o que Post Malone declina mais tarde por ter desenvolvido o seu próprio estilo. Com uma guitarra “a sério” oferecida pela mãe, a transição para um instrumento real foi sofrida e sofrível, entre tutoriais online e vídeos no YouTube.
Com a influência da música que se fazia ouvir na sua casa, o estilo próprio de Post Malone leva-o a fazer uma cover metal de Umbrella, de Rihanna, com a qual ganha o concurso escolar de talentos no 8.º ano. Um par de anos mais tarde, dedica-se a aprender software como o Audacity e FL Studios para produzir a sua própria mixtape. Sem dinheiro (trabalhava na Chicken Express), a vontade de fazer música nunca tropeçou na dificuldade em aprender a tocar ou a produzir, nem na ferocidade das críticas que ia ouvindo. “Vai haver sempre contratempos, vai haver sempre falhas, vai haver sempre pessoas que te dizem: ‘Não prestas!’ Se gostas mesmo disto, continua. Mas se nem sequer gostas, então não faças mais.”
Em 2013, muda-se para Los Angeles, onde conheceu FKi 1st e o seu colaborador Rex Kudo. Numa manhã de Fevereiro de 2015, Post Malone e Rex Kudo gravam White Iverson, que disponibilizam no SoundCloud. Horas depois, o primeiro tema conhecido de Post Malone torna-se viral, meses depois lança o segundo single Too Young e não faltou muito até assinar contrato com a Republic Records. Sem gostar de rótulos ou etiquetas sobre o seu estilo de música, faz questão de mostrar que não é apenas alguém que funde rap com uma sonoridade mais melódica, dá a conhecer a sua cover de Don’t Think Twice, It’s All Right de Bob Dylan e aproveita a sua ida à BBC 1xtra para apresentar uma versão acústica de Heartless de Kanye West.
O álbum de estreia de Post Malone sai a 9 de Dezembro de 2016. Stoney, composto por 14 temas (mais 4 bónus), conta com a participação de Justin Bieber, Pharrell Williams, Quavo, entre outros. Stoney era a alcunha de Post Malone, que parece encontrar explicação nos primeiros versos da primeira canção do disco “I done drank codeine from a broken whiskey glass/I done popped my pills and I smoked my share of grass”. Na sofreguidão de lhe atribuir um género, são feitas equações – Emo + rap + folk = White Iverson / Country + R&B + pop = Go Flex – que Post Malone refuta. No Twitter, escreve “não sou um rapper, sou um artista. não me podes encaixar num género nem em nada, só faço o que quero”. Com algumas polémicas devido a vídeos e publicações antigas pelo meio, os primeiros passos para uma carreira ecléctica estavam dados.
Em 2018, lança Beerbongs & Bentleys, que esteve longe de reunir o consenso da crítica. Com colaborações com Ty Dolla Sign, Nicki Minaj, Tommy Lee ou 21 Savage, o segundo disco de Post Malone conhece sucesso comercial, tem 4 nomeações nos prémios Grammy, entre as quais para álbum do ano de 2019, mas são várias as publicações que lhe atribuem críticas de ausência de originalidade e fragilidade poética, que são equilibradas, segundo a Pitchfork, pelos instintos melódicos de Post Malone. A revista Time, porém, não se compadece e classifica Psycho como a pior música do ano e a Rolling Stone não hesita em apelidar o disco de “um ouroboros de narcisismo do novo riquismo”.
No ano seguinte, lança Hollywood’s Bleeding, que conta com a participação de Future, Meek Mill, Ozzy Osbourne, Travis Scott, SZA, Halsey, entre outros. Presente em várias listas de melhores álbuns do ano, o terceiro longa-duração de Post Malone é mais uma vez nomeado para o Grammy de álbum do ano e vence na categoria de melhor álbum de rap nos Billboard Music Awards. A versatilidade que Post Malone defende desde que começou nestas lides começa, finalmente, a ser reconhecida e valorizada. “É um cantor de rap nascido no norte, com um toque sulista, que mistura country, rock, hip-hop e soft soul moderno num conjunto harmonioso”, escreve-se na Variety.
As palavras e desenhos que gradualmente lhe vão sendo tatuadas na pele e os dentes de diamante, posteriormente platina, imprimem a Post Malone uma imagem de aspereza que pouco condiz com o seu sorriso aberto. Algo excêntrico na sua imagem – em tempos gastou um ordenado para comprar uns loafers Versace, sugere por várias vezes que as tatuagens que lhe adornam o rosto podem ser uma estratégia de defesa. “Talvez venha de um lugar de insegurança, onde não gosto do meu aspecto, por isso vou pôr algo fixe para poder olhar para mim e dizer: “Estás fixe, miúdo”, e ter um pouco de autoconfiança, no que diz respeito à minha aparência”. Foi numa entrevista à GQ, em 2020, que Post Malone assume querer falar mais abertamente sobre saúde mental, que sabe ser um trabalho permanente. Reconhecendo os excessos que permearam a sua vida desde a adolescência, sabe que vive no mesmo limbo que, numa encruzilhada de eventos, já nos fizeram perder Mac Miller, Lil Peep ou Juice WRLD. Post Malone diz então na música a sua terapia, refuta o consumo de drogas, mas também se diz relutante em falar cara a cara.
A meados de 2020, ano em que o mundo parou, Post Malone fez o mesmo que a maioria de músicos: actuações em casa transmitidas pela internet. Em Abril, faz um set apenas composto por covers dos Nirvana, acompanhado por Travis Barker na bateria, angariando assim 5 milhões de dólares para o fundo solidário de resposta à COVID-19 das Nações Unidas. É durante um desses livestreams, anuncia Twelve Carat Toothache, que seria lançado em 2022. Com colaborações de Doja Cat, Fleet Foxes ou The Weeknd e sem a possibilidade de ser apresentado em digressões, não é um disco marcante nem com sucesso assinalável, mas não deixa de ser algo confessional. Em Love/Hate Letter To Alcohol, Post Malone conta com os Fleet Foxes na canção onde fala da sua luta contra o álcool, enquanto se refugia no mesmo para afogar as mágoas. O álcool é, aliás, o seu companheiro de vida, ainda que actualmente assuma ter uma “relação menos tóxica” com ele. Há muito que tem uma parceria com a Bud Light e, em 2020, lançou o Maison No.9, um vinho rosé que concilia o amor de Post Malone pelo estilo de vida mediterrânico e vinho rosé.
Em 2023, lança a compilação The Diamond Collection, para comemorar o facto de se ter tornado o artista com mais singles certificados com diamantes pela Recording Industry Association of America (RIAA). Semanas mais tarde, lança Austin, que volta a não ter um grande sucesso comercial, ainda que a crítica especializada tenha sido bastante mais suave nos seus pareceres. Também neste disco parece haver um tom de confissão, de um regresso de voltar às origens em Somethin Real “I would trade my life just to be at peace” ou a sobre a vida mundo ficcionado de quando se é rico e famoso “When money ain’t a problem, everyone’s lyin’” em Mourning. A escolha do seu nome de baptismo para o nome do álbum não terá sido inocente. Há um desejo de cisão, de saudades do que foi e não voltará a ser.
O Post Malone de agora é um work in progress. Depois de ter sido pai em 2022, abrandou o ritmo e colocou as coisas em perspectiva. Perdeu 25 kg, passa mais tempo ao ar livre e come de forma mais saudável. Almeja um estilo de vida mais simples por, como disse à New York Times, acreditar que as pessoas sentem falta de alguma autenticidade, em parte devido ao ritmo e digitalização excessivos da vida moderna.
A 11 de Fevereiro de 2024, antes do SuperBowl, acompanhado apenas pela sua guitarra acústica, com um um blazer e botas de camurça, um laço de bólingue e calças de ganga Wrangler, Post Malone entoa America the Beautiful e dá-nos indicações sobre o que por aí vem. Com Taylor Swift nas bancadas, mal sabíamos nós que os dois nos dariam Fortnight, single de The Tortured Poets Department, no qual colabora. Tampouco sabíamos que Post Malone colaboraria em LEVII’S JEANS, do disco de Beyoncé, Cowboy Carter, numa incursão conjunta na música country.
Em Março, lançou I had some help, com o cantor country Morgan Wallen, que foi sucesso imediato de vendas e audições. A confirmação de que o disco country estaria finalmente por aí deu-se em Junho, depois de muitas sugestões e presenças em eventos dedicados à música country. F-1 Trillion chega a 19 de Agosto e conta com colaborações de Tim McGraw, Luke Combs, Morgan Wallen, Blake Shelton e até a rainha da música country, Dolly Parton, colabora em Have the Heart.
Charlie Handsome, produtor do disco, há muito que via Post Malone a virar-se para a música country. À NYTimes, o produtor diz Post Malone conhece todas as canções country, “podemos escolher uma canção aleatória de Hank Williams Sr. de 1954 e ele sabe a letra”. Talvez por isso, e também devido ao desânimo algo sentido por Post Malone na sequência do insucesso aparente dos dois discos anteriores, Charles Handsome tenha levado Post Malone para Nashville para conhecer e escrever com artistas daí, como Ernest. Talvez também nós o soubéssemos, quando, há 8 anos, em entrevista à Fader, Post Malone respondeu “os antigos cantores de música country eram uns badass. Eu sou um badass americano. Aos 40 anos, vou ser um cantor country” à pergunta de qual o papel por si desempenhado no ecossistema do rap.