“Primeiros princípios”, a maneira inteligente de inovar e resolver problemas
Todo o ser vivo está condenado a ter que resolver problemas. Sem nos apercebermos, todos os dias resolvemos milhares de problemas, uns mais difíceis do que outros, uns têm uma solução intuitiva porque já o fizemos ou porque é muito simples de resolver, outros parecem não ter solução quando nos deparamos com eles. Problemas emocionais, problemas racionais, problemas na vida pessoal, problemas no trabalho, problemas na escola, problemas na universidade, a lista é infinita.
O ser humano começou por ter que resolver problemas básicos e práticos relacionados com a sua sobrevivência no mundo, evoluindo para problemas intelectuais com a crescente consciência de si mesmo e do mundo. Filósofos, físicos e matemáticos sempre se interessaram pelas grandes questões do mundo, capazes de dedicar uma vida a avançar o conhecimento sobre um par de dúvidas que nós seres humanos temos, algo que tem um valor inestimável para todos nós. Um dos conceitos comummente utilizado nestas áreas do saber foi o de raciocinar a partir (e apenas) de verdades básicas inquestionáveis.
Aristoteles definiu os primeiros princípios / conhecimento primário como a base a partir da qual nasce o conhecimento sobre algo. No seu livro “Física”:
“Em todos os inquéritos sistemáticos (métodos) em que existem os primeiros princípios, ou causas, ou elementos, o conhecimento e a ciência resultam da aquisição de conhecimento a partir destes; pois pensamos saber algo apenas no caso de adquirirmos conhecimento das causas primárias, os primeiros princípios primários, até aos elementos.”
Outro grande filósofo, Sócrates demonstrou como devemos constante questionar o que pensamos saber e como ficou conhecido: “só sei que nada sei”. Quando deparados com um problema difícil para o qual a intuição não está a resultar, devemos questionar-nos:
- Porque penso isto? De onde vem este conhecimento?
- Como sei que isto é verdade? Quais são as fontes?
- Como sei se estou correto?
- O que é que sem dúvida nenhuma é mesmo verdade sobre este problema?
Um génio da atualidade que é fã deste método é o empreendedor Elon Musk. Voltemos atrás no tempo, algumas pessoas diziam que ninguém ia querer um carro porque os cavalos eram bons e resultavam. Isto mostra um pensamento fechado que não olha os primeiros princípios. As pessoas queriam mover-se de um sítio a outro sem caminhar quando utilizavam o cavalo, fosse grande ou curta distância. Como resolver o problema? Precisamos de algo que nos leve um sítio ou outro. Pode ser um cavalo ou outro animal porque andam e têm energia, verdade, mas também podemos construir uma estrutura de metal alimentada de energia que se vá recarregando e assim não dependemos de animais. Daí nasceu o carro. Daí resultam outros problemas: “não vai ser possível alimentar tanto carro”, “vai ser demasiado caro para os não ricos” etc. E para estes problemas a solução foi raciocinar com princípios primários e ir aprendendo dos erros na execução e planeamento. Um dos celebres exemplos do uso dos primeiros princípios por parte de Elon Musk é o de como a Tesla resolveu um grande problema com as baterias. Vejamos neste excerto como ele explicou a Kevin Rose como ele aplica este método no seu trabalho:
“Penso que é importante raciocinar a partir dos primeiros princípios e não por analogia. A forma normal como conduzimos as nossas vidas é raciocinar por analogia. Fazemos isso porque é como algo que foi feito, ou é como o que outras pessoas estão a fazer… com ligeiras iterações sobre um tema. É mentalmente mais fácil raciocinar por analogia do que a partir dos primeiros princípios. Os primeiros princípios são uma espécie de forma física de olhar para o mundo, e o que isso realmente significa é … resumir as coisas às verdades mais fundamentais e dizer: “ok, o que é que temos a certeza que é verdade”? … e depois raciocinar a partir daí. Isso requer muito mais energia mental.”
Quando queremos inovar ou resolver um problema complexo, não podemos pensar por analogia ou copiar o que “toda a gente faz” ou utilizar a desculpa “sempre se fez isto assim”. Precisamos de fazer uma lista curta das verdades básicas/primárias sobre o tema e raciocinar com mente aberta a partir de aí. Por hábito, o nosso raciocínio funciona por analogia, comparando algo que estamos a fazer agora com algo que fizemos antes ou que vimos alguém fazer. É mais fácil para o nosso cérebro copiar.
A busca desse conhecimento primário não se aplica apenas à filosofia ou física, aplica-se a tudo na vida. Raciocinar a partir daquilo que é elementar de verdade abre as portas a soluções criativas. A nossa mente vai criando atalhos e sem esta capacidade desprovida de preconceitos ou suposições talvez o mundo hoje não fosse tão desenvolvido, talvez não soubéssemos ainda sobre a gravidade, talvez não houvessem computadores ou carros.