Resistir, escrevem as mulheres

por Mário Rufino,    14 Abril, 2025
Resistir, escrevem as mulheres
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A literatura deve ter um papel de resistência e mudança?
Que impacto tem a palavra escrita na luta pelos direitos das mulheres?
A 19º edição do LeV- Literatura em Viagem, em Matosinhos, recebeu Inês Pedrosa, Sofi Oksanen e Teolinda Gersão para debaterem “Mulheres de Palavra”.

Sofi vem de dois países onde a literatura teve um papel transformador muito importante. Na Estónia, sob ocupação soviética, não havia liberdade de expressão. Era muito importante ler sobre a Estónia. Os livros sobre Natureza eram muito vendidos.

Num país tão pequeno, vender tantos exemplares em estónio era impactante.
A sua experiência indica-lhe que a literatura pode realmente mudar o mundo. 
A literatura faz parte da identidade nacional. Sofi Oksanen escreve em finlandês, que é a sua língua materna. Também a vê como um ato político porque assim se mantém uma língua. Sem a língua materna o pensamento fica limitado.

“Escrever na minha língua materna é um privilégio, um direito e um ato político”, afirmou.
Inês Pedrosa afirmou que a literatura luta contra os totalitarismos e estabelece pensamento crítico.
“Toda a literatura é política, e a das mulheres é ainda mais do que a dos homens.”
A literatura dá voz aos que não têm voz, especialmente o romance. É por isso que é tão controlado e por vezes proibido.

Segundo Teolinda Gersão, a grande revolução pacífica na sociedade tem sido feita pelas mulheres.
Há ainda muito a fazer pela igualdade de género. Em todos os seus livros fala da situação dos mais fortes, dos mais fracos e da mulher. O seu primeiro romance chama-se “O Silêncio” e é sobre o silêncio das mulheres.

“É a história de uma mulher que se vê subjugada pelo marido, que afirma que tudo o que ela fala é uma estupidez.”

O papel da literatura é também conservar a memória de momentos fulcrais, como a Revolução de Abril e o papel da mulher nessa época.
Com “A Purga”, Sofi Oksanen ajudou a colocar as mulheres no centro da narrativa. Traz as mulheres para a História de onde as mulheres têm sido apagadas.

A parte sexual tem sido uma arma nas guerras e invariavelmente contra as mulheres.
Vivemos tempos estranhos porque nunca houve tantos documentos sobre a violência sexual na guerra. Há documentos de várias instituições. Pela primeira vez, já houve pagamentos indemnizatórios por violação em guerra, afirmou a autora de “A Guerra de Putin contra as Mulheres – uma história antiga de violência e opressão”.

Uma mulher russa foi condenada por incentivar o marido a violar ucranianas.
Ao mesmo tempo, existem constantes usos da violência sexual em guerras atuais.
Há uma grande disparidade, mas há alguma evolução na punição destes crimes.
“Nunca tivemos tanta informação, mas o que vamos fazer com ela e como a vamos preservar?  Vai estabelecer o paradigma para o futuro.”

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