Rita Silva, da ANIMAL: ‘Há uma maioria de pessoas contra as touradas’
O que vais ouvir, ler ou ver foi produzido pela equipa do É Apenas Fumaça, um projeto de media independente, e foi originalmente publicado em www.apenasfumaca.pt
Fez cinco anos este mês que morreu Dinis Janeiro, 18 meses, vítima de graves lesões no crânio, após ter sido atacado pelo pit bull da família, Zico, em Beja. A trágica história não saiu das páginas dos jornais durante meses. Pediu-se a execução imediata do bicho. O país envolveu-se numa contenda entre quem defendia a morte do cão e quem exigia a sua reabilitação.
Rita Silva, presidente da associação ANIMAL, deu a cara pelo canídeo. Depois de petições, programas de televisão, crónicas inflamadas e muitas reviravoltas nos tribunais conseguiu, para espanto de muitos, impedir que fosse abatido e ficar com a sua guarda. O animal foi reabilitado, passou a chamar-se Mandela. Os tribunais absolveram a família e nenhum adulto foi responsabilizado pelo que aconteceu à criança.
Durante meses, acompanhei o “caso Zico” com atenção. Lembro-me de ir a Beja, falar com os avós do pequeno Dinis, visitar o local onde tudo aconteceu. Lembro-me de andar entre os Tribunais Judicial e Administrativo e Fiscal de Beja para poder consultar os vários processos. Lembro-me das explicações de Cláudia Estanislau, a treinadora que o reabilitou. Lembro-me da sessão fotográfica com o cão que a lei classifica como perigoso, mas que de tão amedrontado parecia inofensivo.
De lá para cá, muito mudou.
As redes sociais amplificam casos de abusos e maus tratos a animais instando as autoridades a agir. Nos últimos anos a Assembleia da República alterou várias leis, para que os animais de companhia deixassem de ser juridicamente iguais a coisas e quem lhes fizesse mal fosse punido. Com a entrada do PAN no Parlamento a causa ganhou uma visibilidade e força nunca antes vista. Os hábitos de comer e vestir têm mudado e o veganismo e o vegetarianismo são mais populares do que alguma vez foram.
Contudo, a tourada está de pedra e cal e parece não haver vontade política de acabar com esta prática de tortura que muita gente entende como manifestação de cultura e tradição. Nos circos, continuam a usar-se animais como estrelas de cartaz.
Conversámos com Rita Silva para nos explicar como têm evoluído os Direitos dos Animais em Portugal e de que forma as leis aprovadas recentemente são aplicadas. Será que deixaram mesmo de ser “coisas”? Que quem lhes fizer mal é realmente punido? Será que as entidades públicas – das Câmaras Municipais à Direção-Geral de Alimentação e Veterinária – aplicam, de facto, a lei? Talvez não seja bem assim…
Ouve o episódio aqui: