‘Roma’, de Alfonso Cuarón, e a Netflix vencem o Festival de Veneza

por Paulo Portugal,    8 Setembro, 2018
‘Roma’, de Alfonso Cuarón, e a Netflix vencem o Festival de Veneza

Willem Dafoe e Olivia Colman premiados pelas melhores interpretações e Jacques Audiard melhor realizador. László Nemes vence prémio FIPRESCI.

Vamos ver se consigo pronunciar bem o nome“, disse sorridente o mexicano Guillermo del Toro, Presidente do júri, da 75.ª edição do Festival de Veneza. “Alfonso Cuarón!“, sentenciou apenas a confirmar a opção unânime da crítica internacional em relação a “Roma”. Aliás, o palmarés foi (quase) isento de surpresas. E também jogou pelo seguro, como aliás costuma ser habitual em Veneza. Ganhou Cuarón e ganhou também a Netflix e o patrão Ted Sarandos ao atingir o prémio máximo com um filme que, em Maio passado, fora afastado da competição no festival de Cannes em virtude da lei francesa obrigar a que os filmes só possam passar a plataformas streaming três anos após a sua estreia em sala. Naturalmente, Veneza recebeu o filme de braços aberto, bem como diversos outros em competição e em diversas secções. Com esta vitória da Netflix num festival que ganha peso ano após ano, é de crer que muito vai mudar já para o ano.

Willem Dafoe em “At Eternity’s Gate”, de Julian Schnabel

No plano interpretativo confirmou-se também o esperado, com Willem Dafoe, na sua interpretação de Van Gogh, em “At Eternity’s Gate”, no muito convencional filme de Julian Schnabel, e Olivia Colman, no vibrante e provocador “The Favourite”, em mais um filme em língua inglesa do grego Yorgos Lanthimos.

A diferença é que Dafoe se limita a fazer o seu papel numa personagem que se cola naturalmente à sua fisionomia – são gritantes as parecenças e é tremenda, como quase sempre, a sua entrega. Digamos que Dafoe faz o filme. Mais trabalho de composição de Olivia Colman, numa quase caricatura da monarca inglesa Anne, apanhada no centro de uma disputa de atenções, entre Emma Stone e Rachel Weisz. Aliás, Lanthimos viria a ganhar também o Prémio Especial do Júri, o segundo prémio, a confirmar, aliás, as opiniões da imprensa no festival.

“The Favourite” de Yorgos Lanthimos

Em todo o caso, valerá a pena salientar que ficaram afastadas todas as propostas mais radicais, como “Nuestro Tiempo”do outro mexicano, Carlos Reygadas, seguramente o mais ousado na sua concepção de cinema. Ou mesmo “Sunset”, do húngaro László Nemes (mas que venceu o prémio FIPRESCI), a prolongar a sua visão complexa do cinema. Incompreensível no entanto foi a escolha de Jacques Audiard na sua tentativa de filmar um western, em “The Sisters Brothers”.

Não surpreende também a escolha, digamos de algum sabor político, a reconhecer o filme da australiana Jennifer Kent, em “The Nightingale”. Ao que se somou ainda o reconhecimento do actor Baykali Ganambarr, recebendo o prémio para o melhor novo talento. Emenda assim o festival a gafe de incluir apenas uma realizadora na competição, reforçado até pelo facto desse thriller de época vincar precisamente esse lado da exploração feminina na Tasmânia. Para além disso, “The Nightingale” ficou ainda marcado pela bronca provocada por um jornalista italiano que lançou um impropério à realizadora na sessão de imprensa, acabando por provocar um tsunami de críticas internacionais que o levou a retratar-se mas também a ver a sua acreditação revogada.

Foram estes os prémios de Veneza 75. No fundo, a consagração aguardada dos eleitos, inegavelmente com muito glamour. Mas com pouco rasgo de asa, diga-se.

Palmarés Completo

Competição
Prémio Marcello Mastroianni (Best New Talent) – Baykali Ganambarr, The Nightingale
Prémio Especial do Júri – The Nightingale, de Jennifer Kent
Prémio Melhor Guião – Joel e Ethan Coen, The Ballad of Buster Scruggs
Taça Volpi – Prémio Melhor Interpretação Masculina – Willem Dafoe, de At Eternity Gates
Taça Volpi – Prémio Melhor Interpretação Feminina – Olivia Colman, The Favourite
Leão de Prata – Melhor Realização – Jaques Audiard, The Sisters Brothers
Leão de Prata – Prémio do Júri – The Favourite, de Yorgos Lanthimos
Leão de Ouro – Melhro Filme: ROMA, de Alfonso Cuarón

Leão do Futuro
Prémio Obra Prima “Luigi de Laurentiis” Bet Debut Film – The Day I Lost My Shadow, de Soudade Kaadam (Síria)

Prémios Orizzonti
Melhor curta metragem – Kado, Aditya Ahmad
Melhor Argumento – Pema Tseden, de Jinpa
Melhor Interpretação Masculina – Kais Nashif, em Telaviv on Fire, de Sameh Zoabi
Melhor interpretação Feminina – Natalya Kuddryashova, de The Man Who Surprised Everyone
Melhor Realização – Emir Baigazin, de Ozen
Melhor Filme – Manta Rey, de Kraben Rahu

Prémios Colaterais
Prémio FIPRESCI – Sunset, de László Nemes
Prémio Signis – ROMA, de Alfonso Cuarón
Menção especial – July 22, de Paul Greengrass
UNICEF – What You Gonna Do When the World’s Od Fire?, de Roberto Minervini

https://www.youtube.com/watch?v=fp_i7cnOgbQ

Artigo escrito por Paulo Portugal, em parceria com Insider.pt

Gostas do trabalho da Comunidade Cultura e Arte?

Podes apoiar a partir de 1€ por mês.

Artigos Relacionados