TAGV, em Coimbra, estreia espetáculo “Frágua de Amor”: teatro e música reencontram-se em palco
O espetáculo “Frágua de Amor” é construído na sequência do vasto e reconhecido trabalho que A Escola da Noite e O Bando de Surunyo têm desenvolvido em torno do reportório vicentino e da música dos séculos XVI e XVII, respetivamente.
As linguagens do teatro e da música reencontram-se em palco, precisamente 500 anos depois da escrita desta peça celebratória, encomendada a Gil Vicente por D. João III para assinalar o seu casamento com D. Catarina.
Com encenação de António Augusto Barros, direção musical de Hugo Sanches e um elenco de 16 intérpretes, entre atores e músicos, trata-se de uma das mais ambiciosas produções dos dois coletivos de criação artística, só possível graças à coprodução com o Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), de onde partiu o desafio original para a construção deste espetáculo, que inclui ainda a participação de mais quatro estruturas coprodutoras: o Teatro Nacional São João, o Centro Dramático de Évora, o Centro Dramático Galego e a Artway.
O Bando de Surunyo é uma frente interpretativa e laboratorial do projeto de investigação “Mundos e Fundos” da Universidade de Coimbra, projeto multidisciplinar de estudo e divulgação de música ibérica dos séculos XVI e XVII. Assume como objetivo proporcionar ao público, através da música e da poesia, o contacto com a pluralidade, ecletismo e riqueza do pensamento e imaginário do renascimento e barroco europeus. A sua participação neste projeto garante o cruzamento das práticas de criação artística com a investigação académica, assegurado por criadores/as e investigadores/as reconhecidos nacional e internacionalmente.
Escrita em 1524, a Tragicomédia da Frágua de Amor é uma festa sobre amor e mudança. Peregrinos e romeiros ouvem falar da fama dos reis e de como o amor os juntou. Cupido fugira da mãe Vénus para ajudar D. João III a conquistar o castelo maravilhoso, metáfora de Catarina. Vénus, deusa da música, com lágrimas transformadas em canções, procura o filho. Este inventou uma forja especial (a tal frágua) que prepara Portugal para um novo tempo. É uma máquina movida com a música dos planetas e dos gozos de amor, que transforma quem quiser em algo melhor. Vários se apresentam para a refundição: escravos negros, parvos, pagens, frades. Até a justiça – “corcovada, torta, muito mal feita” – quer ser reformada na frágua. A espetacularidade para a festa imaginada pelo autor (visível na cenografia e nas músicas que propõe) não amacia os olhos críticos de sempre: a igreja, através da prática clerical afastada dos princípios espirituais; a fidalguia improdutiva aspirando a regalias; a justiça corrupta, que tem de ser reformada “para o resto não se perder”. A frágua serve afinal para “fazermos refundição / nesta portuguesa gente”, a propósito da anunciada chegada de “rainha tão excelente”.
A Escola da Noite (fundada em 1992) chega agora ao 25.º espetáculo vicentino do seu percurso, confirmando uma vocação de que se orgulha. A companhia assume a dimensão deste novo desafio – pela complexidade da transposição cénica do mecanismo transformador; pela distância temporal e sócio-política entre o Portugal do século XVI e os dias de hoje; pela dimensão do elenco (à equipa permanente da companhia, constituída por Ana Teresa Santos, Igor Lebreaud, Miguel Magalhães e Ricardo Kalash, juntam-se Maria Quintelas, Nuno Meireles e a atriz galega Mónica Camaño); pela integração no espetáculo de uma componente musical ao vivo sem precedentes na história do grupo, que inclui a participação de nove cantores/as e instrumentistas.
O Bando de Surunyo é um ensemble especializado na interpretação de música dos séculos XVI e XVII. O grupo, cujo nome é retirado de um vilancico de negro seiscentista português, é uma frente interpretativa e laboratorial do projeto de investigação “Mundos e Fundos” da Universidade de Coimbra, projeto multidisciplinar de estudo e divulgação de música ibérica dos séculos XVI e XVII. Assume como objetivo proporcionar ao público, através da música e da poesia, o contacto com a pluralidade, ecletismo e riqueza do pensamento e imaginário do renascimento e barroco europeus. Para este espetáculo em concreto, o grupo reuniu um naipe de intérpretes que inclui vozes – Eunice Aguiar (soprano), Irene Brigitte (soprano), Patrícia Silveira (alto), Carlos Meireles (tenor) e Sérgio Ramos (baixo) –, alaúde (Hugo Sanches), viola da gamba (Xurxo Varela) e flautas (Carlos Sánchez e Rita Rodríguez).
A equipa artística inclui ainda a cenografia de João Mendes Ribeiro e Luísa Bebiano, os figurinos e adereços de Ana Rosa Assunção e o desenho de luz de Danilo Pinto. A versão do texto utilizada apresenta a tradução dos versos em castelhano feita por José Bento, publicada em 2008 pela Assírio & Alvim.
O espetáculo é apresentado em Coimbra em apenas três sessões, no TAGV, nos dias 14, 15 e 16 de novembro (quinta e sexta-feira às 21h30 e sábado às 18h30). Os bilhetes custam entre 5 e 10 euros e já estão à venda, na bilheteira do TAGV e na bilheteira on-line. Depois disso, será apresentado em digressão em Évora (Teatro Garcia de Resende), no Porto (Teatro Carlos Alberto) e em Santiago de Compostela (Salón Teatro).
Conteúdo patrocinado por Universidade de Coimbra.