“Tales From the Loop”: a ficção científica necessária
O trabalho do artista sueco Simon Stålenhag deu origem a “Tales From the Loop”, série de ficção científica da Amazon Prime. Quando se observam as diversas ilustrações do mesmo, entende-se porquê. As casas rústicas na pradaria com robôs perdidos no meio da paisagem, estragados ou desativados, marcam a estética de “Tales from the Loop”. Foi com este cruzamento entre o ordinário e o extraordinário que Nathaniel Harpen decidiu criar a série, atribuindo-lhe o mesmo nome que o livro de ilustrações de 2014 de Stålenhag.
O enredo centra-se numa família tipicamente americana de Ohio que está intimamente ligada ao grande empregador da cidade: o Loop. É com esta premissa que o livro de Stålenhag ganha vida. Cada episódio é dirigido por um realizador diferente — com menção honrosa para o último episódio dirigido por Jodie Foster — e segue uma personagem também ela diferente, ora da família referida ou de outro habitante da pequena cidade. Outra característica deste “Tales From the Loop” é o facto de os oito episódios não terem que ser visualizados numa ordem específica. Apesar de certas personagens existirem em episódios diferentes, estes podem ser visualizados por si só, pois cada um é uma construção desta pequena cidade perdida no meio dos EUA.
A narrativa desenvolve-se nos anos 80, contudo rapidamente entendemos que tal é irrelevante. Não há uma tentativa de saudosismo a esta década como tem sido comum nos últimos tempos. Estas histórias podiam ocorrer em qualquer outro lugar ou época.
A premissa é semelhante a “Black Mirror”. No entanto, aqui não nos é dado o suspense ou o grande desenlace final a que essa série nos habituou. Tratam-se de oito episódios contemplativos sobre as relações que nos tornam humanos, mesmo quando temos tecnologia de um futuro distante à nossa disposição. Os mistérios não são resolvidos ou explicados durante os vários episódios, pois não servem senão de um pretexto para dar início à reflexão sobre as motivações das diferentes personagens desta pequena cidade permeada pelo Loop. É devido a esta característica que talvez “Tales From the Loop” não cative todos os espetadores, pois trata-se de uma série lenta. Em certos episódios talvez até demasiado lenta.
A série conta com atores como Jonathan Pryce — nomeado para o Óscar de melhor ator por “The Two Popes” — Rebecca Hall e Paul Schneider em papéis de destaque. A banda sonora minimalista de Philip Glass e Paul Leonard-Morgan é uma adição extremamente positiva que ajuda à contemplação das várias histórias e perspetivas apresentadas.
Esta série é uma ótima adição ao universo de ficção científica. Não está repleta de explosões, extraterrestres ou monstros geneticamente modificados. Os robôs ou objetos que habitam nesta história não surpreendem quem com eles coabita e tornam-se rapidamente também familiares para o espetador. “Tales From the Loop” é uma série melancólica e, acima de tudo, harmoniosa que toma o seu tempo em cada episódio, agarrando-nos ao ecrã, aproveitando durante a viagem para nos ensinar que a tecnologia não nos salvará de sermos irremediavelmente humanos.