Taylor Swift: uma breve análise da influência cultural e política de uma ícone pop
Uma psyop é a abreviatura para “operação psicológica”, uma técnica militar que consiste numa estratégia para transmitir determinadas informações a públicos específicos de forma a influenciar comportamentos e opiniões. Este é um artigo sobre Taylor Swift. O que é que uma psyop tem que ver com Taylor Swift? Tudo. E já explicaremos mais à frente.
Uma pesquisa rápida por Taylor Swift devolve-nos quase mil milhões de resultados. Basta abrir os websites dos mais variados órgãos de comunicação internacionais e poucos há que não tenham noticiado algo que a cantora, natural da Pensilvânia, tenha feito. O The Guardian dedica-lhe uma newsletter, semanal, onde se disseca quase todos os passos de Taylor Swift; o The New York Times publicou, entre várias notícias sobre discos, digressões e feitos, uma crónica de uma psiquiatra que diz que a Taylor Swift ajudou a acompanhar e a perceber os mais jovens e, há alguns meses, um artigo de opinião em como Taylor Swift seria, com base nas suas letras, secretamente gay; as revistas cor-de-rosa digladiam-se por fotografias de Taylor Swift de férias, com quem está, com quem esteve, o que comeu ou o que bebeu e a mera publicação da bebida que a cantora pediu em determinado sítio torna-se, imediatamente, na bebida mais pedida (já agora, o cocktail preferido de Taylor é o Cosmo, em tempos popularizado pela série “O Sexo e a Cidade”, que marcou os pais, ou mais as mães, da geração que agora segue Taylor).
A influência e quase ubiquidade de Taylor Swift não é de agora. Desde cedo, e principalmente a partir do álbum “1989“, lançado em 2014, que a cantora tem vincado a sua posição na indústria musical. No mesmo ano, retirou todo o seu catálogo da plataforma Spotify devido ao valor baixíssimo que a plataforma paga aos artistas. Aquando do lançamento da plataforma Apple Music, escreveu uma carta aberta à Apple para que, no período experimental, os artistas recebessem os royalties correspondentes, algo que a Apple não pretendia fazer. Como finca-pé, não permitiu que “1989” ficasse disponível na plataforma. A Apple cedeu, para Taylor e para todos os artistas. Por estes dias, a música de Taylor Swift volta a estar disponível na plataforma TikTok, mesmo antes de a sua editora ter chegado a acordo com a plataforma.
Também na venda de bilhetes para as suas digressões, especialmente nesta última, “The Eras Tour”, a afluência foi de tal ordem que milhões de fãs ficaram sem bilhete e com a elevada suspeita da existência de bots para a compra de bilhetes, para depois serem vendidos a preços especulativos. Perante os protestos, a LiveNation/Ticketmaster, promotora da digressão, é intimada pelo Senado dos Estados Unidos, abrindo-se assim um caminho para uma regulação e controlo na venda de bilhetes para espectáculos. No Brasil, e perante situação semelhante, foi apresentada a proposta de Lei Taylor Swift, proibindo a venda de bilhetes acima do valor oficial.
Tudo se transforma quando Taylor Swift está por perto ou diz algo ao seu público. Quem a ouve, identifica-se. Os temas que mais aborda, de amor, de desilusão, de corações partidos, são tão universais que não há vivalma que não encontre nas letras de Taylor as palavras que expressam os seus sentimentos. Com noção do volume que a sua voz alcança, Taylor Swift começou, a partir de 2018, a expressar-se politicamente. Primeiro, insurge-se contra a lassidão da regulação de porte e uso de armas nos Estados Unidos, demonstrando solidariedade e apoiando financeiramente o movimento March For Our Lives, na sequência do massacre na escola Marjory Stoneman Douglas em Parkland. Meses mais tarde, apoia publicamente os candidatos democratas Phil Bredesen para o Senado e Jim Cooper para a Câmara dos Representantes pelo estado do Tennessee, contra a posição da candidata republicana Marsha Blackburn, que mais tarde apelidou de “inimiga flagrante do feminismo e dos direitos dos homossexuais”. Na altura, Taylor Swift escreve na sua conta de Instagram “Acredito na luta pelos direitos LGBTQ e que qualquer forma de discriminação baseada na orientação sexual ou no género é ERRADA. Acredito que o racismo sistémico que ainda vemos neste país em relação às pessoas racializadas é aterrador, doentio e prevalecente”. Em plena era Trump, Taylor Swift dirige-se por várias vezes à Casa Branca, condena o racismo, a supremacia branca, a misoginia, e, acima de tudo, apela ao voto, que os seus seguidores acatam. Se os republicanos ficaram desiludidos na altura, visto que antes de se pronunciar politicamente, Taylor era a princesinha perfeita da sociedade americana, a verdade é que actualmente tanto o Partido Republicano como o Partido Democrata tentam que Taylor Swift demonstre o seu apoio a um deles. Se Donald Trump for candidato, como assim se prevê, será claro que Taylor não o apoiará, mas ainda assim o seu opositor Joe Biden prefere continuar a rondar a cantora, estando até previsto estar presente num dos concertos da artista, como demonstração de um apoio tácito ao candidato do Partido Democrata.
O romance recente com Travis Kelce, tight end dos Kansas City Chiefs, quase que tem honras de namoro da realeza. A presença de Taylor nos jogos da NFL para apoiar o namorado valorizou o clube em mais de 300 milhões de dólares e trouxe-lhe reconhecimento mundial. As câmaras, em especial no Super Bowl, focavam Taylor Swift no camarote com tal frequência que a cantora iniciou um drinking game sempre que aparecia nos ecrãs do estádio. Desde então, páginas e páginas já se escreveram, Travis Kelce esteve em concertos no Brasil, Taylor viajou do Japão para o Superbowl, passaram férias nas Bahamas, tudo sob o olhar atento dos milhões de fãs nas milhares de contas de Instagram, X, Facebook dedicadas à cantora.
O namoro com Kelce veio acicatar os ânimos entre os que já achavam que Taylor Swift faz parte de um plano do governo para manter o Partido Democrata no poder. Uma operação psicológica, a tal psyop de que falava no início deste texto. Com Travis Kelce, cara da campanha para a vacinação contra a COVID-19, alvo fácil entre os conspiracionistas e que não o torna o atleta preferido entre os conservadores, a teoria da conspiração agudizou-se e, no submundo dos podcasters que se dizem anunciadores da verdade, o casal nada mais é do que uma manobra, um engodo para manipular massas.
Taylor Swift chateia muita gente. Mas chateia ainda mais os que veem, em cada passo que dá, uma conspiração, uma psyop para convencer centenas de milhares de americanos a votar em Joe Biden nas próximas eleições. Chateia, principalmente, o Partido Republicano, os apoiantes de Trump com os seus bonés MAGA, os podcasters ao estilo Andrew Tate, que advogam que o lugar da mulher nunca se deverá situar nos lugares cimeiros da sociedade, numa combinação de misoginia, ressentimento em relação às suas filiações políticas e inveja do seu sucesso. A oposição conservadora a Swift reflete também um receio mais amplo da sua influência e poder, particularmente entre o público jovem e, principalmente, feminino. Ao desacreditarem os seus feitos como parte de uma suposta agenda política ou como um estratagema para manipular a opinião pública, os conservadores tentam minar a sua credibilidade e diminuir o seu impacto na formação do discurso político.
Psyop ou não, Taylor Swift foi considerada a Personalidade do Ano pela revista Time. A sua digressão actual, “The Eras tour”, já gerou receitas superiores ao PIB de 50 países. Nas cidades por onde passa, há um retorno económico que poucos eventos conseguem reproduzir. As suas letras são estudadas em Harvard. Os jovens que a ouvem sentem-se menos sós e compreendidos num mundo hiperligado, mas, paradoxalmente, cada vez mais individualista. Não é preciso saber as músicas de Taylor Swift de trás para a frente, nem é preciso sequer gostar das mesmas. Mas o fenómeno Taylor Swift, dure o tempo que durar, já marcou a História do nosso tempo.
O novo disco de Taylor Swift, “The Tortured Poets Department”, sai esta sexta-feira (dia 19). O produtor Jack Antonoff e Aaron Dessner, guitarrista dos The National, colaboraram com a artista norte-americana neste novo trabalho. Post Malone e Florence Welch, de Florence and the Machine, também participam no álbum. Nos dias 24 e 25 de Maio, Taylor Swift actua no Estádio da Luz, em Lisboa.