Teóricos norte-americanos Bill Nichols e Paula Rabinowitz vão orientar masterclasses gratuitas no Porto
Os teóricos norte-americanos Bill Nichols e Paula Rabinowitz vão estar no Porto para orientar duas masterclasses gratuitas no âmbito do Family Film Project – Festival Internacional de Cinema de Arquivo, Memória e Etnografia, cuja 7.ª edição acontece entre 15 e 20 de Outubro.
A masterclass “In the Beginning”, orientada por Bill Nichols no dia 17 de Outubro, quarta-feira, às 15:00, no Passos Manuel, parte de exemplos de documentários para examinar as cenas de abertura dos filmes e como estas se relacionam com o sucesso geral de uma obra. Os inícios, como Roland Barthes e muitos outros argumentaram, definem mais do que o plano: estabelecem a questão fundamental, o mistério básico ou a necessidade que o filme irá abordar e resolver. O início paira sobre todo o filme na forma de um final que ainda não aconteceu. Assim, esta masterclass lança questões como: serão as cenas de abertura de um documentário apenas uma maneira de dar o pontapé inicial? Serão secundárias ao núcleo do filme que lentamente se desdobra e se torna mais complexo e intenso? Ou serão absolutamente cruciais para o sucesso do filme como um todo?
Crítico de cinema e teórico norte-americano, Bill Nichols é conhecido pelo seu trabalho pioneiro como fundador do estudo contemporâneo do documentário. Editou Movies and Methods, vols. 1 e 2, trabalhos que ajudaram a estabelecer os Estudos de Cinema como disciplina académica. Publicou diversos livros, mais de 100 artigos e leccionou em diversos países. É consultor de realizadores de documentários e escreve regularmente sobre filmes, tendo integrado também o júri de diversos festivais de cinema.
No dia 19 de Outubro, sexta-feira, também às 15:00 no Passos Manuel, Paula Rabinowitz orienta a masterclass “Cold War Dads: Fathers and the National Security State”. O projecto inclui um livro de memórias que investiga dois pais da Guerra Fria, o da autora e o do seu marido: o primeiro, engenheiro responsável pelo Projecto Defender da ARPA e o segundo um editor e tradutor banido pela lista negra, investigado pelo FBI como espião comunista. Este é um exame de dois homens na periferia da história cujas vidas assumiram um estatuto emblemático durante as décadas de 1950 e 1960, mas cujas histórias devem ser vistas pelas lentes das décadas de 1930 e 1940 e os poderosos impactos do Partido Comunista e da Segunda Guerra Mundial. Nesta investigação, Rabinowitz descobre tensões de segredos pessoais e nacionais de segurança escondidos no ADN do folclore familiar. Usando histórias orais, diários e memórias não publicadas, registos públicos (incluindo materiais desclassificados do Projecto VENONA, o FBI e o Departamento de Defesa), cultura popular e histórias publicadas da Guerra Fria, Rabinowitz pesquisa entre a miríade de fragmentos de memórias, fatos, fantasias e afectos que contribuíram para os espaços de ignorância no conhecimento colectivo. Esta é a história do que é largamente desconhecido: como, e por que razão, as famílias durante a Guerra Fria guardaram segredos a coberto da preservação do seu bem-estar e da segurança, entendidas de forma muito diferente para o indivíduo particular e para o Estado.
Paula Rabinowitz é Professora Emérita de Inglês na Universidade de Minnesota. A sua monografia, American Pulp: How Paperbacks Brought Modernism to Main Street, (Princeton University Press, 2014) ganhou o Prémio DeLong de 2015 para livros de História. Os seus inúmeros ensaios versam sobre os papéis interconexos do cinema, fotografia, trabalho, género, literatura, espaço e objectos na formação dos modernismos americanos do século XX. Recebeu uma Bolsa de Pós-Doutoramento Mellon, uma Residência Rockefeller em Bellagio, na Itália, e duas posições de Professores Distintos Fulbright em Roma e Xangai. Actualmente, trabalha como editora-chefe da Oxford Research Encyclopedia of Literature.
As duas masterclasses resultam da parceria entre o Balleteatro e o Instituto de Filosofia da Universidade do Porto e são de frequência gratuita mediante a inscrição antecipada no site do festival.
Com o seu tradicional enfoque nas paisagens familiares e no cruzamento entre a intimidade e o olhar etnográfico, o Family Film Project – Festival Internacional de Cinema de Arquivo, Memória e Etnografia leva, entre 15 e 20 de Outubro, ao Passos Manuel, Maus Hábitos e Coliseu do Porto Ageas, um programa variado que inclui sessões competitivas, eventos performativos e vídeo-instalações. O festival é organizado pelo Balleteatro, estrutura residente no Coliseu do Porto Ageas e financiada pelo Governo de Portugal e a DGArtes, com co-produção da Câmara Municipal do Porto.