Teremos Julian Schnabel e László Nemes às portas da eternidade?
Às Portas da Eternidade é o título filme do artista Julian Schnabel com Willem Dafoe no corpo e na pele de Vincent Van Gogh. Mas pode também ser a segunda tentativa do húngaro László Nemes, em Sunset, igualmente em competição para o Leão de Ouro, em dar corpo e forma à obra iniciada com o portentoso O Filho de Saúl, premiado em Cannes em 2015, precisamente no ano em que Audiard ganhou de forma inexplicável com Dheepan, no que parece ter sido um voto de compromisso. Curioso é também perceber como é que todos se encontram este ano em Veneza. Terão abordado o tema?
Em todo o caso, temos dois casos de esforços artísticos. Pena é que Schnabel tenha tentado fazer uma espécie de bio do pintor holandês mas que se fica por uma espécie de versão para totós. Pelo menos, é o que temos em boa parte do filme, dificilmente saindo da cartilha de clichés do género, aqui e ali optando por movimentos de câmara bruscos, o uso de lentes desfocadas, etc. Como se assim chegasse mais perto do tal conceito de Arte. A carta na manga fica mais para o fim quando o impecável Dafoe se revela numa versão crítica do pintor. Enfim. Poderá ser o rasgo de asa, mas nem por isso chega a voar.
Já em Sunset, László Nemes opta pelo cunho autoral e mantém o estilo de Saúl agora numa Hungria nas vésperas da Primeira Guerra Mundial. Aqui seguimos a rapariga que procura o passado da família de uma forma que reconhecemos. A câmara é a sua cúmplice e também quer saber. A diferença é que aqui não há catacumbas nem fornos crematórios. Tudo agora se passa no meio da delicadeza dos tecidos finos de uma chapelaria de classe de Budapeste. Afinal de contas o lado decorativo tão característico daqueles anos galantes em que uma Europa pomposa se preparava para se atirar de peito aberto para um interminável conflito em trincheiras.
Se pensarmos bem, são também esses elementos de descoberta que o húngaro vai exorcizando a memória dos seus antepassados trespassada por duas guerras. Também por isso dizemos que este Nemes merece ficar também às portas da eternidade.
Artigo escrito por Paulo Portugal, em parceria com Insider.pt