‘The Commuter’: Liam Neeson numa viagem de comboio a caminho de lugar nenhum
Estranhos num comboio a alta velocidade cumprem uma dinâmica de thriller hiperativo, ainda que sem grandes preocupações de coerência narrativa. Ou seja, a forma antes do conteúdo, cronometrada pelo ritmo de uma história com o design de viagem acidentada. Jaume Collet-Serra é o maquinista a bordo deste comboio em fuga, e em fúria, encarado talvez como veículo calhado para acrescentar a quarta colaboração com Liam Neeson.
É por isso mesmo um filme de forma, de pura emoção, em que mais de 80% do filme é passado a bordo deste intercidades vazio de significado. De tal forma que nos interrogamos se no final desta viajem acidentada de Nova Iorque até à periferia chegaremos mesmo a algum lugar.
O início servido por uma montagem alucinante até dá o mote que sublinha a rotina daqueles “commuters” que todos os dias viajam para Manhattan a tempo de picar o ponto no local de trabalho e regressam quase sempre a casa à mesma hora e com o destino marcado. É neste micro-cosmos que Michael Macauley (Liam Neeson), o ex-polícia tornado agente de seguros, se integra sem alternativa, convertido num passageiro assíduo ao longo de um percurso que faz há dez anos, pelo meio com várias amizades ocasionais de passageiros com quem partilha a cabine. Só que a viagem de regresso a casa de Michael é agravada pela notícia abrupta do seu despedimento.
Vara Farmiga é a ‘estranha no comboio’ que propõe o jogo forçado com a possibilidade deste recém desempregado ganhar 100 mil dólares, embora com um insucesso pago com a vida da mulher e do filho. O McGuffin, o tal item banal que movimenta a ação, pelo menos segundo Hitchcock, é encontrar uma determinada pessoa a bordo e colocar-lhe um localizador.
O Desconhecido do Norte-Expresso, um clássico de Hitckcock, de 1951, Snowpiercer, de Bong Joon-ho, de 2013, ou Comboio em Fuga, de Andrey Konchalovskiy, de 1985, são alguns dos filmes que servem esta resenha sob carris capaz de elevar Liam Neeson à categoria de um verdadeiro super-herói, tentando prolongar a imagem e o sucesso de Taken. Já os secundários resumem-se a figuras planas sem espessura, com a presença lamentável de Florence Pugh (genial a Lady McBeth) relegada a um quase papel de mera figurante.
Pena é que à medida que a ação acelera, também o interesse do filme se vai esfumando, de tal forma que o espetador mais exigente pode ser tentado a não seguir até ao fim da viagem, apeando-se eventualmente numa qualquer paragem ou apeadeiro.
Artigo escrito por Paulo Portugal em parceria com Insider.pt