“The English Game”, um estudo social sobre a importância do desporto
Hoje em dia vivemos momentos difíceis, de incerteza e angústia. O futebol está parado e assim sendo, não se sabe qual vai ser a resolução dos campeonatos e das competições. Não sabemos se o Porto vai ser campeão, não sabemos se o Liverpool finalmente ganha a Premier League e não sabemos se o Cristiano Ronaldo vai ganhar a Liga dos Campeões com aquele penteado de samurai. Brincadeiras à parte, não existe melhor momento que este para consumir séries. Para os amantes do futebol que estejam um pouco fartos de ver a repetição da final do Euro de 2016 ou a final da Liga das Nações, a Netflix oferece uma curta alternativa para preencher esse vazio com uma minissérie chamada The English Game, de Julian Fellowes (criador de Downtown Abbey).
A série leva-nos ao século XIX no Reino Unido, às origens do desporto rei, mais concretamente o ponto de profissionalização da modalidade. Um período histórico de mudança, tanto a nível profissional como a nível social, uma altura em que as equipas compostas por operários estavam cada vez mais perto de conquistar a Taça de Inglaterra (algo nunca antes feito). Todavia, para dar o passo em frente era preciso uma atitude audaz e é nesse instante que o clube Darwen contrata os escoceses Fergus Suter e Jimmy Love, mudando assim, para sempre o desporto pois até esta altura, o futebol era amador e era ilegal contratar jogadores. A classe alta dominava o desporto devido ao facto de terem melhor condições para estar fisicamente melhor preparados para treinar.
A contratação dos escoceses não trouxe apenas uma revolução no desporto a nível a profissional, mas também mudou o paradigma do futebol jogado. Antes de Suter, o futebol praticado era muito físico, agressivo e um pouco aleatório com muitos jogadores atrás da bola e apenas um ou dois recuados para defender. Com Suter o futebol tornou-se mais tático, os jogadores procuravam ocupar diversos espaços e usar o passe como forma de ultrapassar os adversários, existindo assim uma maior consciência do jogo.
Baseado em factos reais, o argumento procura contar este acontecimento histórico através de duas perspetivas opostas. Uma através de Fergus Suter da classe baixa e outra através de Arthur Kinnaird da classe alta. Esta dualidade de realidades é o ponto mais envolvente da premissa que possibilita um estudo social sobre a importância do desporto numa sociedade. O desporto para os pobres era uma luta amigável de respeito com os mais ricos e uma forma de quebrar a rotina difícil do dia a dia, enquanto para os elitistas era uma forma de serem mais selvagens, meter a etiqueta de lado por uns minutos e ter puro lazer. Julian tenta transmitir a importância da modalidade no seu país, e como um desporto e a sua cultura ajudaram a que duas classes opostas se entendessem e convivessem.
Infelizmente, a história perde o rumo em pequenos clichés e dramas baratos de personagens secundárias, metendo o enredo principal numa pausa desnecessária e consequentemente, afetando o seu ritmo. Entre o terceiro e o quinto episódio começamos questionarmos: “então? Onde é que está a bola?”, porque a história muda radicalmente o foco e para onde miram não é profundo, didático (no sentido histórico) ou sequer artístico (no sentido cinematográfico). No entanto, no desfecho, a evolução do caráter dos protagonistas é satisfatório e a boa produção ajuda a menosprezar o sentido por vezes questionável do argumento.
The English Game podia ter mais futebol e menos telenovela, todavia não deixa de ser uma boa série que dá para enganar o “apetite” futebolístico com energias positivas que celebram o prazer de ver e jogar o desporto rei.