“The King”, de David Michôd: não é brilhante mas é sólido
“The King”, filme realizado por David Michôd, retrata a história verídica do rei Henry V de Inglaterra e a sua subida ao trono. Embora alguns dos factos não sejam reais, grande parte da história principal é de facto baseada em escritos históricos. Interpretado por Timothée Chalamet, Joel Edgerton (também argumentista e produtor), Robert Pattinson, Steven Elder, Sean Harris, entre outros, “The King” não tem nenhuma interpretação brilhante, mas Timothée Chalamet tem um papel bastante sólido, que infelizmente não evolui o que poderia ter evoluído ao longo do filme.
O filme centra-se exactamente na guerra dos cem anos, a famosa guerra que opôs dois dos reinados mais relevantes da história mundial, o inglês e francês. Este período é normalmente retratado no cinema através das inúmeras versões da história de Jeanne d’Arc, embora neste caso não exista nenhuma menção à heroína francesa, porque a acção se concentra nos primeiros anos de reinado de Henry V (embora no total tenham sido apenas 9).
Inicialmente vemos o jovem Henry/Hal como apenas um bêbedo que não se interessa pelo seu pai, Henry IV, nem pelo seu possível futuro reinado. A relação entre ambos é bastante má, ao ponto do rei convocar Hal à corte para lhe revelar que este, apesar de ser o filho mais velho, não será rei. Hal reage de forma natural, visto não ter interesse em reinar. Hal vive sob o olhar cuidado de Falstaff, antigo guerreiro com bastante experiência de combate, mas que vive agora uma vida boémia, centrada em roubos “a quem merece”, segundo o próprio. Após meia dúzia de reviravoltas, Hal torna-se Henry V, mas os grandes desafios da sua vida começam aqui, já que a corte está minada de traidores e conspiradores. Ao longo do filme vamos assistindo a diversos desses momentos, onde Henry V é manipulado de forma a conquistar França.
O maior trunfo de “The King” é a sua sobriedade. Sobriedade a nível de argumento, fotografia, interpretações e realização. Todas as componentes técnicas e estéticas estão a um nível bastante decente, sendo que não existe nenhuma característica demasiado boa ou má. Adam Arkapaw é o director de fotografia, ele que já tinha trabalhado em True Detective, Macbeth (2015) e Assassin’s Creed. O seu trabalho é reconhecido essencialmente pelo uso da luz, de forma bastante sóbria, tentando usar luz natural para embelezar cada plano. Arkapaw foi bastante falado em Macbeth, a adaptação de Justin Kurzel, onde além das cores frias que são usadas em abundância neste “The King”, podemos também ver a sua técnica com cores mais quentes, nomeadamente em momentos de batalha.
A banda sonora de Nicholas Britell é subtil, mas essencial. Não existem momentos demasiado épicos, mas o som e a música está sempre a um nível excelente, sem se fazerem notar demasiado, mas dando pequenos ares de sua graça, criando momentos de tensão através de detalhes. Britell foi nomeado para óscar pelos seus trabalhos em Moonlight e If Beale Street Could Talk. A edição a nível de montagem tem aqui também um papel fulcral, tendo em conta que é um filme histórico com sequências de acção, e nesse campo o cargo não poderia ter sido melhor entregue que a Peter Sciberras, habituado a trabalhar com David Michôd em alguns dos seus filmes anteriores. Brad Pitt surge aqui como produtor, um papel que o actor tem vindo a desempenhar cada vez mais nos últimos anos.
“The King” é um filme bastante decente, com um conjunto de pessoas muito relevantes para o cinema actual, desde actores a produtores. Não ficará na história como um dos melhores filmes históricos de sempre, mas é difícil ser um desilusão. Timothée demonstra traços importantes para um actor que está a crescer e que vai desempenhar em breve o papel de Paul Atreides na nova adaptação ao cinema de Dune. Contudo, a nível de narrativa e história faltam elementos dramáticos que possam criar momentos únicos ao longo do filme. Tudo é demasiado estável e confortável para um filme que retrata um dos momentos mais importantes e sangrentos da história da Europa.