‘The Nun’, mais um spin-off medíocre da saga ‘The Conjuring’
Um dos mais aguardados filmes de terror do ano, não fosse ele um spin-off de “The Conjuring”, uma das sagas de terror americano mais rentáveis de sempre, teve honras de abertura do festival Motelx em 2018. Com polémica à mistura, numa sessão apenas acessível mediante convite ou passatempo. Não se pode dizer que os fãs do festival que não conseguiram estar presentes tenham perdido algo de relevante além da sempre agradável e bem organizada apresentação deste excelente festival, pois “The Nun” é, no limite, um filme de terror medíocre, que acentua a sua mediocridade com base em todo o orçamento que poderia ter feito dele um filme no mínimo decente mas que parece contentar-se com o mais básico dos básicos.
O sentimento é de pena perante o realizador Corin Hardy, esforçado aprendiz e amante de horror que em 2015 se havia estreado nas longas metragens com “The Hallow”, um filme de orçamento bem inferior que, apesar de frágil, apresentou muito mais criatividade, quer narrativa, quer técnica, que esta freira maldita.
Em “The Nun” a linguagem do horror americano mais básico, de maldição e mistério, já explorada até à exaustão, despe-se de quaisquer adornos vistosos e torna-se apenas o esqueleto mais básico da sua fórmula, que nem vistosa consegue ser. O jogo entre o trio de protagonistas (padre, aprendiz de freira e… carteiro?), interpretados por 3 fracos actores, e a freira maldita que dá título ao filme é o das escondidas: a freira esconde-se, passeia pelos corredores, surge atrás por trás, surge no espelho, esconde-se outra vez, tudo isto à medida que os 3 “heróis”, enviados do Vaticano, a tentam seguir perguntando “Olá? Olá? Está aí alguém?”. Detestamos o facilitismo da aplicação da palavra “cliché”, mas “The Nun” é um elogio a essa palavra e um maravilhoso exemplo de negação de criatividade, de preenchimento de lugares comuns, enfim, um maravilhoso exemplo de preguiça. Tudo é tão vazio, tão simplório, que se torna exasperante.
“The Nun” começa alegremente, com algum comic relief, perpetuado nas cenas pretensamente mais dramáticas do filme, o que borra por completo esta pintura que se quer horrífica e misteriosa e que se apresenta com um cenário medieval, mas que afinal se passa na década de 50 do séc. XX e que de horrífico e misterioso não tem nada. Ao dissolver-se essa alegria introdutória todo o novelo narrativo se torna pífio, confuso, ilógico, e pior: desinteressante e inconsequente, digno de um filme televisivo baratucho, que além do nome chamativo nada mais tem a apresentar. Personagem tão intrigante e aterradora a deste Valak, o Conspurcador, a Freira, peça fulcral do belíssimo “Conjuring 2”, a ser aqui reduzida a truques baratos de jump scare, volume no máximo, e jogo de escondidas e quarto escuro.
No fim, quando finalmente aparece, a brilhantemente maquilhada a actriz Bonnie Aarons, a freira, é rendida na tela por um ridículo CGI que ninguém pediu. O filme termina, finalmente, ele próprio ansioso para terminar e encerrar mais um brilhante golpe de marketing. Mais um péssimo spin-off realizado depois de “Annabelle”, mais dinheiro em caixa. “Venha o próximo “Conjuring””, dizemos com esperança divina…