The Off-Season: o contraditório mundo de J. Cole
“You the one, yo, why you make that shit?”, terá alegadamente dito o rapper Nas a propósito do single “Work Out”, lançado por Cole em 2011, que catapultou a sua carreira para os lugares cimeiros dos tops da Billboard. Figura incontornável do hip-hop norte-americano desde o início da década passada, J. Cole tem lutado constantemente por garantir um equilíbrio entre a identidade da sua música e a busca pelo apelo comercial. Tal facto tem contribuído para que os álbuns que lançou até hoje não tenham alcançado o patamar que o seu potencial fazia prever. Talvez com exceção de 2014 Forest Hills Drive, é difícil encontrar um fio condutor que ligue as várias músicas, resultando em projetos irregulares, seja a nível da qualidade ou da consistência e unidade sonora.
The Off-Season, o novo álbum do rapper da Carolina do Norte, padece dos mesmos males dos seus antecessores. Se há momentos em que Cole aparece em todo o seu esplendor, outros há que destoam do mundo criado pelo MC. “95.south” — pontapé de saída e entrada com pé direito — parece retirado de um projeto dos The Diplomats dos anos 2000. A presença de Cam’ron na introdução da música reforça este sentimento, garantindo a rampa de lançamento perfeita para Cole mostrar todo o seu talento sobre um triunfante instrumental.
A partir daí, o álbum vai-se desenvolvendo entre diferentes sonoridades, oscilando entre o J. Cole clássico (“applying.pressure”, “punchin’.the.clock”) e as influências do trap (“amari”, “interlude”). Ironicamente, estes dois últimos momentos, onde arrisca fora da sua zona de conforto, são dos mais bem conseguidos do álbum, provando a versatilidade que o rapper consegue alcançar. No entanto, músicas como “100.mil’” e “pride.is.the.devil” ficam aquém das restantes, contribuindo para a tal incongruência e irregularidade. Felizmente são casos isolados, sendo o saldo claramente positivo.
“let.go.my.hand” é provavelmente a epítome do álbum, consubstanciando os anseios e contradições da carreira de J. Cole: “I’m wonderin’ just when did I become my biggest critic? I wanna be my biggest fan, like how I was when didn’t nobody know my jams”. A produção melódica e as contribuições vocais de Bas e 6LACK contribuem para sublinhar o tom melancólico da faixa, um dos pontos memoráveis de The Off-Season.
“The money might fade, but respect don’t, still gon’ be me when success gone” canta Cole no refrão de “hunger.on.hillside”, a última música do álbum. Paradoxalmente, as contradições artísticas de J. Cole trazem também uma camada extra de interesse ao seu trabalho, uma luta interior entre a fama e a identidade que emana para as suas criações. The Off-Season ainda não é a obra-prima que sabemos estar ao alcance do rapper, mas os seus melhores momentos provam que poderá estar já ao virar da esquina.