‘The Thrill of it All’, de Sam Smith: a monotonia disto tudo
O segundo álbum de Sam Smith fazia-se esperar. Depois do sucesso comercial que foi In The Lonely Hour, lançado em 2014, e com a posição cimentada no mundo da pop, esperávamos por The Thrill of it All.
Este segundo trabalho não surpreende. “Em fórmula que vende, não se mexe” parece ter sido a atitude durante a gravação deste trabalho, que contou com a produção de Timbaland. A voz do cantor é magnífica; contudo, o trabalho como um todo fica aquém do que poderia ter sido feito. Os temas são os mesmos que anteriormente: relações falhadas, relações por falhar e relações que quase resultavam, mas afinal falharam. Sam Smith é um jovem com um coração frágil, assumidamente homossexual, mas que canta sobre as dores amorosas do crescimento transversais a todos nós. Mais especificamente, em “HIM“, toca ainda nos problemas de conciliação da fé e da homossexualidade.
Todo o trabalho é, do ponto de vista instrumental, minimalista – um piano, uma guitarra e eventualmente uma bateria disfarçada. “Say It First“, co-produzida por Malay (colaborador de Zayn e Frank Ocean), é exemplo deste minimalismo que nos remete para The xx. Foi dada ainda primazia aos coros, que existem na grande maioria das músicas (e às vezes em demasia). Especial destaque para “Baby, You Make Me Crazy“.
De todas as colaborações possíveis, Smith apresenta-nos a faixa “No Peace“, em colaboração com YEBBA, onde as vozes de um e de outro se confundem. Contudo, a música não parece soar como seria expectável, tornando-se um apontamento diferente no álbum, apesar de facilmente esquecível. Por outro lado, existem algumas músicas que se destacam, como o single “Too Good at Goodbyes” ou “Midnight Train“. Este último parece pedir emprestada a guitarra a uma sobejamente conhecida música dos Radiohead.
É este o maior problema do álbum, usa uma fórmula gasta. Quatorze músicas (na versão especial) tristes tornam-se difíceis de aguentar, especialmente quando não existe um intervalo mais animado para nos relembrar que nem tudo é angustiante. Outros artistas com álbuns como 21 ou Back to Black – de Adele e Amy Winehouse, respetivamente – tiveram essa sensibilidade. A tentação de fazer algo semelhante é notória, mas falha.
The Thrill Of it All é um trabalho monótono que nem a voz de Smith, nem todos os coros conseguem animar. São quatorze músicas passíveis de passar na rádio, muito provavelmente até à exaustão. Sam Smith é um artista pop – um bom artista pop – e este álbum não é mais do que a continuação dessa carreira. Esperamos apenas por mais imaginação no próximo trabalho.