The Voice Portugal: os concorrentes que perderam no concurso mas que vingaram na música
Às portas da final do The Voice Portugal, a RTP prepara-se para revelar o nome do próximo vencedor. Carolina Pinto, Gabriel de Rose, Joana Alegre, Rita Sanches ou Sebastião Oliveira, um destes nomes irá conquistar o tão desejado contrato discográfico com a Universal Music.
Mas até que ponto uma vitória num concurso de talentos é sinal de sucesso? Enquanto mentora do programa, a cantora Aurea adverte por várias vezes os seus concorrentes eliminados para o facto da sua saída ser o início de um percurso na música, e não o fim da linha. The Voice Portugal.
Depois de termos analisado o percurso dos seis vencedores do The Voice Portugal, eis que chega a altura de virar a face da moeda e observar outros seis concorrentes que, mesmo não tendo vencido o formato, conseguiram singrar no mercado musical português. Em certos casos, mais até que os ditos “campeões”.
Neste artigo, o Espalha-Factos recorda as participações de Bárbara Tinoco, Tiago Nacarato, Cláudia Pascoal, Francisco Murta, Soraia Tavares, Leonor Andrade… e guardamos um membro extra para o fim.
Bárbara Tinoco – Tanto em tão pouco tempo
Respondendo à questão acima colocada: não, uma vitória num programa de música não é, por si só, uma premissa para uma carreira de sucesso. O caso de Bárbara Tinoco é talvez o mais recente, e ao mesmo tempo mais gritante, de uma concorrente que viu no The Voice uma rampa de lançamento mesmo sem conseguir virar uma única cadeira.
Acompanhada por uma guitarra, a jovem lisboeta de 19 anos interpretou o maior sucesso da cantora Dolly Parton, a reconhecida ‘Jonele’. Visivelmente nervosa, não conseguiu convencer o painel de jurados, que rapidamente se arrependeu da decisão ao ouvir ‘Antes Dela Dizer Que Sim’, um tema original cantado a pedido de Marisa Liz.
Quase instantaneamente, a música tornou-se viral nas redes sociais até conquistar as rádios um pouco por todo o país. Estava dado o pontapé de saída para a construção de uma carreira de sucesso que culminou no agenciamento por parte da empresa Primeira Linha, que representa nomes como Miguel Araújo, Janeiro ou The Black Mamba.
Um ano depois, a cantautora aceitou o convite de João Só para abrir os concertos de celebração dos seus 10 anos de carreira. Em nome próprio, estreou-se no Capitólio, em Lisboa, e prepara-se para pisar o palco da Casa da Música, no Porto, a 25 de março. Conseguindo demarcar-se da associação natural ao concurso da RTP, Bárbara Tinoco reencontrou o êxito em canções como ‘A Fugir de Ser’ e na recente ‘Sei Lá’, que com um mês ultrapassa as 700 mil visualizações no YouTube.
Tiago Nacarato – Com um brilhozinho nos olhos e o samba na voz
De pés bem juntos em Portugal mas com o Brasil na coração, Tiago Nacarato fez as delícias dos telespectadores ao explorar géneros musicais até então pouco presentes em formatos como este. Apresentou-se com o tema ‘Onde Anda Você’ e rapidamente foi apontado como um dos possíveis vencedores da quinta edição do The Voice Portugal.
Ao lado da mentora Marisa Liz, apostou na língua de Camões como fator distintivo num formato que claramente primava pelo inglês. De Djavan a António Zambujo, passando por Zé Keti e Rui Veloso, foram várias as canções que provaram que para se chegar longe – neste caso até à semifinal – não é preciso apostar nas sempre óbvias baladas de sempre.
Apesar do relativo sucesso junto da comunidade brasileira, escolheu o sotaque nacional para se estrear com ‘A Dança’, tema que fez parte da série Golpe de Sorte. Em 2019 edita o seu primeiro álbum de originais – Lugar Comum – com um conjunto de 12 canções, destacando-se os duetos com Ana Bacalhau (‘Só Me Apetece Dançar’) e Salvador Sobral (‘Tempo’).
Em constante ascenção, Tiago Nacarato é indiscutivelmente um dos artistas mais requisitados da sua geração. Um pouco por todo o país, tem esgotado concertos em nome próprio e feito parte de cartazes como o do NOS Alive, MEO Marés Vivas e Festival do Crato. No último dia do ano atuou na Avenida dos Aliados, no Porto, para um plateia de 200 mil pessoas. Para 2020 fica para já garantida uma participação no Festival da Canção como compositor.
Cláudia Pascoal – Um ‘Jardim’ de emoções
Com uma energia fora do comum e emoções sempre à flor da pele, Cláudia Pascoal encontrou no The Voice o reconhecimento que não havido recebido por inteiro no Ídolos, em 2015. Tal qual no programa da SIC, escolheu o cavaquinho para se mostrar ao país, desta vez ao som de ‘Dream a Little Dream of Me’, conquistando todo o painel de jurados.
Foi, como Nacarato, eliminada a um passo da final, mas o maior desafio televisivo estaria ainda a chegar. Sob a alçada da cantora Aurea, Pascoal foi também uma concorrente distinta no formato e precisamente por isso foi convidada por Isaura a participar, como intérprete, no Festival da Canção de 2018, o primeiro após a vitória de Salvador Sobral em Kiev.
Na competição nacional não teve dificuldades. Venceu confortavelmente a segunda semifinal e voltou a vencer, desta vez por desempate do televoto, a final na cidade de Guimarães. Já no concurso europeu, que pela primeira vez se sediou em Lisboa, acabou no fim da tabela com apenas 39 pontos. O resultado, pouco esperado pelos portugueses, coincidiu com a já previsível vitória da israelita Netta.
Competições à parte, a cantora lançou em 2019 o seu primeiro single a solo. ‘Ter E Não Ter‘ conta com mais de 200 mil vizualizações no YouTube e serve de mote para aquela que será a sonoridade de Pascoal para o seu primeiro disco. Para terminar o ano, apresentou um dueto com Samuel Úria, denominado ‘Viver‘.
Francisco Murta – Demorou mas valeu a pena
Quando um concorrente não vence um concurso de música, e por consequência perde a oportunidade de começar imediatamente uma parceria com uma editora, o seu percurso fica automaticamente dependente de si próprio. Por muito talento que tenha, um candidato terá de enfrentar as adversidades de uma indústria que não tem lugar para todos.
Francisco Murta, hoje simplesmente Murta, impressionou os quatro mentores com o clássico ‘Georgia on My Mind‘ e foi, semana após semana, ultrapassando todos os desafios até alcançar o segundo lugar, apenas atrás de Fernando Daniel. A aptidão estava lá, mas seria o suficiente?
Passaram-se três anos, a memória do público podia já não ser clara, mas o seu nome entrou com o pé direito nas rádios nacionais. Com uma sonoridade diferente daquela que apresentou no palco do The Voice, Murta encontrou uma identidade própria, de certa forma invulgar na indústria nacional, mas que o carateriza enquanto artista.
O tema ‘Porquê‘ é indiscutivelmente um dos maiores sucessos de 2019 e valeu ao cantor uma presença no palco que o viu nascer, desta vez como artista convidado. A sua outrora mentora admitiu mesmo que o seu concorrente deveria ter vencido a competição. Seguiram-se outros três temas originais – ‘Respeitar‘, ‘Segredos‘ e ‘Saudade‘ – e um novo sucesso, ‘Sweet Spot‘, desta vez em dueto com o rapper Papillon.
Soraia Tavares – Feliz em todos os palcos
De todos os nomes aqui apresentados, o de Soraia Tavares é com certeza o que menos presença tem no panorama musical português. Por oposição, é sem qualquer dúvida o que mais projetos carimbou no currículo após o programa. Isto porque a sua vida vai muito para além da música.
Com uma paixão inerente por musicais, deixou os mentores abalados com a interpretação de ‘I Dream a Dream’ dos Miseráveis. Escolheu a então estreante Aurea, o que lhe valeu uma posição confortável na tabela classificativa, um lugar nas Galas ao Vivo. E aí começou o seu percurso.
No teatro, integrou as peças As Aventuras de João Sem Medo, Terra dos Sonhos, Sonho de uma Noite de Verão, Simone, o Musical e é hoje uma das protagonistas de Chicago. Do palco para a televisão, fez parte da telenovela Paixão, na SIC. Já na Televisão Independente (TVI) representou nas telenovelas A Única Mulher e Valor da Vida, tendo vencido também a última edição do programa de imitações A Tua Cara Não Me É Estranha.
A cantora e atriz participou ainda na última edição do Festival da Canção com o tema ‘O Meu Sonho’, a convite da compositora Lura. No grande ecrã, deu recentemente voz a Nala no filme O Rei Leão, onde também interpreta a música ‘Esta Noite O Amor Chegou’.
Leonor Andrade – A eterna procura pelo “eu”
Um artista, independentemente da sua arte, tem por vezes a necessidade de mudar, fazer diferente, crescer. No caso da cantora Leonor Andrade, a transformação é constante e por vezes difícil de acompanhar. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.
Estávamos em 2014 e a RTP voltava a apostar no programa The Voice Portugal. Adotando pela primeira vez a denominação inglesa (a primeira edição, em 2011, chama-se A Voz de Portugal), a primeira edição do formato de sucesso internacional continuava apenas Rui Reininho no júri. Ao vocalista dos GNR juntaram-se Marisa Liz, Mickael Carreira e Anselmo Ralph, a escolha de Leonor.
Com uma Prova Cega repleta de personalidade, conquistou os quatro mentores com ‘Feeling Good’, de Nina Simone. Ao longo do programa foi sempre apostando em temas intensos vocalmente mas acabou por ser eliminada a uma semana da final. Um anos depois viria a vencer o Festival da Canção, representando Portugal em Viena.
A jovem doce de ‘Há Um Mar Que Nos Separa’ deu lugar a uma rapariga que abraçou a dark pop com todas as suas forças. Em 2016 lançou o seu primeiro álbum, intitulado Setembro, com temas como ‘Strong for Too Long’ e ‘My Heart Is Bleeding Out of My Chest’. Entretanto acabaria por deixar o nome de batismo, assumir o pseudónimo Ella Nor e apagar os videoclips do seu anterior álbum.
Com um novo nome e uma mudança de visual, a cantora lançou ‘Não’, mas foi com ‘Bang’ que chamou finalmente a atenção do grande público. A música, que foi banda sonora da novela da TVI Jogo Duplo, parece servir para encontrar a persona que Leonor tanto procurava e que acabaria por obter uma maior visibilidade.
Não esquecer o The Voice Kids. Reconheces esta criança?
No ano de 2014 a RTP apostou também numa versão – única até hoje – do The Voice Kids. Realizada após a versão dos adultos, o formato manteve Anselmo Ralph no painel de jurados, adicionando ainda Raquel Tavares e Daniela Mercury. No painel de apresentadores, Catarina Furtado deu o seu lugar a Mariana Monteiro.
Com apenas 13 anos, Bárbara Bandeira escolheu ‘One Night Only‘ para conquistar a aprovação dos três jurados. Escolheu Anselmo Ralph como mentor e com ele chegou até à primeira Gala ao Vivo, onde foi eliminada. Estreou-se profissionalmente em 2015 com o primeiro single ‘Crazy’ e desde aí que tem cimentado o seu nome como uma das maiores promessas da pop nacional.
Três anos e dois novos singles depois, Bandeira vence o Prémio Revelação na XXIII Gala dos Globos de Ouro. Ainda em 2018 vê o seu EP ‘Cartas’ a atingir o primeiro lugar do top de vendas português e é nomeada para Best Portuguese Act, categoria dos MTV Europe Music Awards.
De realçar que são vários os nomes que construíram carreiras após a participação no The Voice Portugal, pelo que estes sete representam uma amostra significativa desse talento.