Tiago Bettencourt, Tomara e Surma em residência artística no Festival Impulso, nas Caldas da Rainha
“Olhando para trás aquilo que acabámos por fazer foi criar uma estrutura musical e depois tudo o que se passa é um diálogo dentro das peças que cada um tem nas mãos.”
O Festival Impulso, surgido nas Caldas da Rainha em 2018, é o resultado de uma colaboração entre alunos e professores da ESAD.CR (Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha) e a Associação da Juventude da cidade. Uma das novidades da sua 2.ª edição, que acontece de 23 a 25 de Maio, são as residências artísticas. Músicos reúnem-se para criar e parte dessa “criação” chega ao público, numa noite do festival, sob a forma de um concerto único.
No sábado passado viajámos até às Caldas para conhecer uma das residências. Sentámo-nos nas escadas da Igreja do Espírito Santo na companhia da Surma (Débora Umbelino), do Tomara (Filipe C. Monteiro) e do Tiago Bettencourt. Naturalmente a conversa fluiu e rapidamente constatámos a cumplicidade que estes três músicos criaram entre eles. Uma semana de convívio, de partilha, de invenção resultou em 1000 minutos de gravações. O entusiasmo era palpável. Sem nos apercebermos o tempo passou. Fica o registo dessa hora, desses 60, 70 minutos de conversa.
Como surgiu a ideia de fazer esta residência artística? Quem foi o impulsionador?
Tiago Bettencourt: Foi o Nuno Monteiro, que é um dos realizadores do Festival Impulso, que me ligou a perguntar se eu queria fazer uma residência artística cá. Ele tem conhecimento que eu tenho andado a fazer umas coisas eletrónicas. A primeira ideia que eu tive foi vir sozinho, mas depois pensei “sozinho se calhar vai ser um bocado triste e para fazer sozinho faço em casa, consigo fazer uma residência sozinho em casa”. Pensei melhor e achei que era giro fazer com mais pessoas e lembrei-me aqui do Filipe, que já conheço há uns tempos, mais propriamente desde o principio do projeto Tomara, que é um projeto que eu adoro e admiro imenso. A Surma conheci já há uns tempos, também, depois fui ouvi-la ao Living Room Sessions, que acontece em Lisboa, e adorei a postura, a personna que ela é em cima do palco. Primeiro liguei ao Filipe, perguntei-lhe o que ele achava da Surma e ele concordou.
Surma: O Filipe concordou, concordou… Torceu o nariz, disse que não…
Tomara: Se têm de ser três, têm de ser três… Pronto, vamos lá.
Os três apresentam estilos diferentes, que tanto se cruzam como se distanciam. Optaram por cruzar os vossos estilos ou criar algo totalmente novo? Qual foi o caminho?
Tomara: Bem acho que não houve nenhuma ideia inicial. O Tiago escolheu instintivamente e agora passado uma semana já podemos analisar o que aconteceu. Eu pessoalmente acho que há coisas que se cruzam nos três. O Tiago não é tão óbvio mas, se formos ao seu último disco, verificamos que tem um background sonoro semelhante ao que trouxe para aqui. A Surma como eu, em Tomara, exploramos muito a parte cenográfica da música. Acho que esse foi o primeiro sitio onde nos encontrámos muito rapidamente. Chegámos cá, montámos tudo e começamos rapidamente a tocar e a gravar.
Surma: Fizemos quanto tempo de gravação?
Tomara: Fizemos 1000 minutos. Nós nunca falámos do processo de criação, se íamos fazer canções ou não… Simplesmente montámos as coisas e começamos a tocar. Foi a melhor maneira de nenhum de nós se sentir inibido. Fomos dando consoante aquilo que recebíamos dos outros.
Surma: Parece-me, tendo em conta aquilo que tenho conhecido de nós em termos de conjunto, é que temos muitas influências parecidas e gostos semelhantes em termos musicais. Isso ajudou bastante. Criou-se uma química muito grande entre todos. Aconteceu tudo muito naturalmente, não forçamos nada. Zero. Temos canções, temos fritaria, rock, temos tudo a acontecer ali. Já toquei em outras bandas e nunca me senti tão à vontade como me senti aqui. Fomos muito ao encontro de cada um.
Tiago Bettencourt: Não nos anulámos uns aos outros. Complementámo-nos.
Tomara: Uma das coisas que este tipo de projeto, residência permite, se viermos todos com o mesmo espírito, obviamente, é sair da tua zona de conforto. Estás com outras pessoas e perdes preconceitos uma vez que admiras tudo o que as outras pessoas estão a fazer. São pessoas que tu gostas musicalmente, logo não estranhas. Acabámos por ir a inúmeros sítios que nenhum de nós iria sozinho. Confiámos muito uns nos outros. O Tiago já conheço há algum tempo, a Surma já conhecia à distância e correu tudo mesmo muito bem. Esta experiência influenciou muito a minha forma de encarar os próximos tempos. Quando te juntas com pares, com pessoas que te identificas de alguma maneira, surge uma química que não se explica. Ou acontece ou não acontece. A partir do momento que isso acontece ganhas algo que é impossível ganhares quando trabalhas sozinho. Ganhas a interferência de outra pessoa que traz uma coisa que acrescenta algo ao que tu fazes. Isso não é linear. É uma questão de sorte. Funciona ou não funciona. Neste caso correu lindamente. Nunca nos sentimos perdidos ou sentimos que não estava a sair nada. Ficámos mal habituados!
Quando vemos o trabalho fluir sentimos que o tempo voa. Aconteceu-vos isso?
Surma: Sim. Às vezes começávamos a trabalhar às 10h e quando dávamos conta já eram 15h e pensávamos “Bem se calhar é melhor irmos almoçar!”. É incrível, incrível. Nunca me aconteceu. Mesmo com malta com quem tive bandas não me sentia assim. O processo demorava e não me parecia muito natural. Nas participações que tive noutras bandas já havia uma ideia pré-definida. Aqui não. Vínhamos a zero, sem trabalho de casa feito. No entanto parece que já tocamos todos juntos há anos. Senti isso.
Tomara: Acontece em bandas tu teres uma ideia e teres de batalhar por essa ideia. Tens de explicar aos outros qual é a ideia para poderem chegar lá. E quando não chegas ficas frustrado. Aqui nunca aconteceu isso porque não havia ideia! Podia acontecer virmos a medo, ficarmos contidos e ninguém querer arriscar mas aconteceu sempre alguém se chegar à frente, fazer algo mais arrojado e ninguém se negou. Nunca ninguém se negou a nada. Isso permite, que de repente, tenhas 1000 minutos de gravação que dá para tudo. Fomos ouvindo e escolhendo as coisas que funcionavam melhor e daí construímos o alinhamento. A ideia que o Tiago teve de abrir a igreja à noite, para as pessoas assistirem, só aconteceu porque nos sentíamos muito bem com aquilo que estávamos a fazer. Que se não tínhamos isto fechado!
Surma: Foi estranho mas acabou por fluir mesmo muito bem! Claro que foi uma fritaria autêntica mas a malta estava mesmo interessada e foi uma coisa bonita.
Tiago Bettencourt: E nesse concerto, ao contrário do que vamos fazer agora no festival que já sabemos mais ou menos para onde vamos, não tínhamos a mínima ideia para onde íamos! Era totalmente improviso. Ah tínhamos um single.
Tomara: Dissemos que íamos tocar uma música. Era para fazermos uma introdução até chegar aquela música. Demorámos quase duas horas a chegar lá!
Tiago Bettencourt: É que eu não sabia que era para ir para aquela música!
Tomara: De repente acabámos por fazer mais coisa novas e aumentar mais a gravação!
Surma: Eu acho que é o ambiente das Caldas que é muito produtivo!
Verificamos, facilmente, que esta experiência foi extremamente positiva. O que acham que isto vos pode trazer no futuro? Tanto coletivamente como individualmente.
Tomara: Já falámos em não ficar por aqui. Acaba por ser ingrato produzires tanta coisa, tanta coisa que te diz alguma coisa e de repente dás um concerto e acabou. Temos todos a vontade de poder fazer isto mais vezes e ver o que acontece. A mim pessoalmente, este trabalho, altera muito a forma como encararei um projeto futuro. Não vou, possivelmente, gravar tudo sozinho como fiz no outro disco. O prazer que isto dá, a forma como te atiras para o escuro e sais mais rico não tem preço. A história dos discos é a história do processo que levou aquele disco. Neste momento o que sinto, quando sair das Caldas, é que quero ter um processo colaborativo mesmo de raiz. Eu não tenho pudor nenhum em fazer isso com Tomara. Tomara nunca passou por ser uma cena egocêntrica. O primeiro disco foi assim por uma questão de timidez. Agora se tiveres com alguém que confies é como aquele jogo que te atiras para trás e alguém te agarra. Claro que se não agarrar nunca mais faço isso!
Tiago Bettencourt: Sou sempre esponja daquilo que faço e que vejo, exposições, filmes… Obviamente esta residência vai ter um impacto gigante, o prazer que isto me deu foi gigante. Parece quase como se estivesse a dividir-me em dois, em duas pessoas personnas. Continuo a gostar de fazer músicas e a fazer as canções que sempre fiz por isso se acontecer alguma coisa para além disso poderá ser um projeto em três personnas até. Não sei. Mas de certeza que em algum lado isto vai interferir. Já tinha acontecido no penúltimo álbum em que meti sintetizadores, comprei coisas, comecei a aprender a mexer em novos instrumentos. Neste último a coisa ainda se tornou mais óbvia. Resultou em algo, que não sei bem definir mas que, também, trouxe para a residência. E se calhar se não fosse esse novo universo, que comecei a explorar em separado, não iria conseguir tocar outras coisas e seria demasiado acústico. Obviamente tudo isto terá influência mas nunca vou deixar de fazer as minhas canções. A banda que eu tenho agora, que mudou um bocadinho, está a ir para um lado um bocado mais rock que não é muito este lado. Por isso os meus dois “eus” vão-se afastar, por agora, um bocadinho mas quem sabe se no futuro não se voltam a aproximar. Não tenho pudor nenhum em ter vários “eus” por aí a passear.
Surma: Se calhar comigo vai ser o contrário. Vou começar a fazer canções, não sei! Acho que nenhum de nós pensou em nada do que estava a fazer. Eu naturalmente quando faço música não penso nada. Lanço-me só. Mas digo sempre “Ok isto está muito mau”. Com eles não senti nada disso. Pelo contrário pensei “Ok, isto está fixe.” Porque eles complementaram aquilo de uma maneira única. Foi uma experiência mesmo incrível. Esta residência foi um abre cabeças de uma maneira especial. Foi especial. Acho que a palavra é essa. Eu queria muito que este projeto acontecesse fora desta igreja e fora do Impulso. Não queria que parasse aqui. É pena que estes minutos imensos fiquem pelo caminho, restritos a um computador. Era muito fixe fazermos mais coisas.
Tomara: Falando em canções e olhando para a ordem em que nos sentámos isto é quase um degradê! O Tiago é o verdadeiro escritor de canções, eu faço um misto entre canções e ambiental e a Surma vai para uma coisa ainda mais ambiental. Mas na minha opinião as canções estão nos três sítios porque eu ouço canções em todo o lado. As coisas que aqui gravámos, se agora quiséssemos dar um passo em frente para gravar, nós conseguiríamos obter canções, boas canções. Estruturadas. Tudo depende muito do que tu queres fazer, do teu interesse. Eu compreendo perfeitamente que o Tiago tenha necessidade de escrever canções. Eu, por exemplo, às vezes apetece-me muito escrever uma canção às vezes não. Aqui deu-me um prazer danado porque o que eu gosto mesmo é tocar, fazer arranjos, ver os beats, o ambiente da coisa. Ver se aquilo me traz alguma imagem ou não. E a Surma é a mesma coisa. Tudo depende do foco, do caminho que queres seguir.
Têm 1000 minutos de gravações. Como sintetizaram para o concerto? Qual foi o processo?
Tomara: Temos uma baliza de 45 minutos para tocar e foi isso que nós fizemos. Escolhemos alguns momentos e sabemos mais ou menos que tempo temos para tocar cada coisa. Há coisas que podem demorar duas horas e dali partimos para outro sitio qualquer e acontece o mesmo da outra vez! É a coisa boa disto, se nós quiséssemos até podíamos ir para o palco sem nada. Era arriscado fazer isso mas não tenho medo nenhum. Ainda vamos a tempo!
Tiago Bettencourt: É como se tivéssemos criado uma cidadezinha e combinássemos nos encontrar em três ou quatro sítios a tal hora. A partir daqui cada um segue o caminho que quer.
Surma: Temos um caderninho onde colocamos a base lógica de cada um ou seja temos a nota e cada um segue o caminho que quer e juntamo-nos no meio.
Tomara: É uma coreografia. Agora entras tu sais tu, ficas a fazer aquilo. A verdade é que antes de vocês chegarem estávamos a fazer o set e deu precisamente 50 minutos. E ontem, sem estarmos a contar o tempo, deu o mesmo. Instintivamente é o tempo natural para nós.
Tudo o que estão a referir faz lembrar bastante o universo do jazz. Notam isso?
Surma: Há muito jazz neste projeto.
Tomara: Sim é um bocado isso. Não é fácil explicar porque há coisas que nem sequer foram faladas. Mas agora olhando para trás aquilo que acabámos por fazer foi criar uma estrutura musical e depois tudo o que se passa é um diálogo dentro das peças que cada um tem nas mãos. O Tiago tem os teclados, o piano e afins, a Surma tem os samplers e muito mais e eu tenho os tambores, percussão e outros. Basicamente estamos todos a comunicar. Sabemos que a estrutura é aquela, há ali um caminho e sabemos o momento em que cada um vai entrar. Se algum demora mais tempo automaticamente o outro vai fazer qualquer coisa para colmatar.
Surma: No fundo também estamos a ligar o analógico ao digital. Temos o old school com o new future. Acho que vai ser uma mistura muito fixe. Temos muita confiança uns nos outros.
Tomara: Eu nunca tinha participado numa residência deste género, é a primeira vez que faço.
Tiago Bettencourt: Também não.
Surma: O que eu fiz foi sozinha.
Tomara: Isso é um isolamento artístico não é uma residência!
Surma: Por acaso senti-me muito isolada, senti medo! Foi mesmo muito solitário.
Tomara: Acho que vamos sair daqui muito mal habituados. Agora se me convidarem para outra vai ser “Claro que sim meu!” e depois vai ser “O outro é que foi meu…” E torno-me no chato do grupo!
Uma vez que o alinhamento já está “alinhavado” falemos de planos que vocês tenham para o futuro a título individual. A Surma está a apontar para o Tiago por isso comecemos por ti.
Tiago Bettencourt: Eu tenho rapidamente de gravar qualquer coisa. Fazer um isolamento e ver se escrevo umas canções para saírem, supostamente, em Setembro.
Tens um deadline portanto. Lidas bem com essa pressão?
Tiago Bettencourt: Eu obrigo-me a ter deadlines que se não começo a viajar um bocado. Como tenho cada vez mais coisas para fazer, agora que há estas personas todas, deixo de estar tão concentrado. Sinto que no principio, quando comecei a escrever músicas, estava fascinado com a coisa de escrever músicas, qualquer texto era bom para escrever uma música. Hoje em dia qualquer texto é bom para fazer um som e trabalhar em alguma máquina. Quando é para escrever canções tenho de me concentrar, tenho de ver as coisas que já escrevi para trás, o que vou escrever agora. Tenho de perceber o que vai acontecer. Isto foi a propósito de quê?! Ah o deadline! Por isso faz bem o deadline. Gosto de trabalhar com deadlines. Gosto que me digam “preciso de uma canção tua daqui a duas semanas”. Isso é porreiro porque me ajuda a trabalhar e a editar principalmente. Às vezes uma pessoa fica numa indecisão durante muito tempo se for preciso. Assim tomas logo decisões. As primeiras ideias que tu tens, continuo a achar, que são as melhores por serem as mais naturais. Mais intuitivas. Mais puras. O deadline rápido é bom para manter essa pureza.
Regressando à pergunta Filipe é a tua vez.
Tomara: Também vou começar a gravar o segundo disco. Agora estou numa fase muito ocupada porque tenho andado a tocar com a Carminho. Gravei o disco com ela e tenho andado a fazer alguns concertos. Também trabalho em vídeo, para a Carminho também, por isso tenho de me desdobrar em dois. Os concertos acabam dia 25 de Maio. Dia em que faço quarenta anos. Se eu sobreviver até essa data, que a agenda está muito apertada, a minha ideia é em Junho começar. Acho que vou fazer a cena em duas fases: a primeira fase é de isolamento para me organizar, que tenho uma série de ideias pensadas, canções começadas. Depois tenciono fazer mesmo o que referi anteriormente. Juntar algumas pessoas de quem eu gosto muito, mandamo-nos para um sitio qualquer e trabalhamos as minhas canções. Se resultar resulta se não volto para casa. Tenho de ter disco para o ano que vem que já tenho um concerto marcado para o disco novo! É um deadline tramado que é de um ano e meio! Mas quero lançar algo novo ainda este ano. Falta de material não tenho, tenho mesmo muito coisa para fazer.
Débora que tens para nos dizer?
Surma: Eu estou um pouco como o Tiago. Tenho de lançar algo até Setembro. Já estou com um deadline puxadíssimo que a agenda está tramada. Irei lançar, também, uma cena à Surma antiga, até junho, se tudo correr bem. Ando um bocado a fritar com coisas estranhas que quero fazer para o Primavera Sound e para o Festival A Porta. Vou sair daqui e vou já ter ensaios. Ando a trabalhar simultaneamente para os dois festivais e quero fazer coisas diferentes em ambos. Para o ano queria ver se lançava um álbum novo. Este ano está complicado, com muita coisa a acontecer. Acho que as pessoas estão um pouco fartas de ouvir o Antwerpen e queria fazer algo diferente do habitual.
Falando em discos gostaríamos de saber se para vocês, ainda, é importante o disco em si como objeto físico.
Tomara: Eu não abdico dos meus quarenta anos! Nem que não seja pelo processo criativo que leva a fazer o disco. Cada vez mais dou importância às canções individualmente. Não faz sentido trabalhar as coisas avulso. Quando começo a fazer uma coisa e descubro um caminho qualquer novo esse caminho desdobrasse automaticamente em várias coisas mas não perde a origem. Logo não consigo olhar para aquilo como algo isolado. Começo a perceber a lógica das canções, esta nova lógica. Tenho a noção que, o público que conhece Tomara, 99% deste conhece só uma canção. Olho para o disco e penso “Ok eu fiz este disco com estas canções todas e aquilo afunila afunila afunila e chega às pessoas uma canção”. Essas são as regras do jogo e eu aceito-as mas continuo a pensar no trabalho de fundo que é um trabalho de disco.
Tiago Bettencourt: Eu acho que se vê a longo prazo. As pessoas que ficam contigo vão saber o resto do teu trabalho. A longo prazo as pessoas que te sustêm enquanto artista são as pessoas que apreciam o que fazes. Se o teu trabalho tiver qualidade vai crescer devagarinho, devagarinho mas vai crescer sólido que é o mais importante.
Surma: Eu sinto um bocado isso. Eu sou um pouco uma old soul. Sempre fui habituada a ouvir muito vinyl, CD, ter o objeto físico na mão é bonito. É ter todo o processo criativo de um álbum.
Admitimos que a conversa (muito boa e espontânea) não ficou por aqui, temos mais minutos de gravação. Inevitavelmente ainda falámos do Festival da Canção, da sua nova roupagem e do impacto deste. Ainda nos perdemos num diálogo acesso sobre o paradigma da musical nacional. Ainda e ainda. Mas parece-nos que por agora, por hoje, o foco é a residência. O que se obteve desta. O foco, a marcar na agenda, é o Festival Impulso. Por isso, desta forma impulsiva, terminamos.
Entrevista por Idalécio Francisco e Ana Moreira