‘TURP’: a curta portuguesa à conquista de Cannes
Por trás de ‘TURP’ está uma história, mas antes da história estão as pessoas que a compõem. Falamos nomeadamente de Liliana Gonçalves. Prestes a licenciar-se em Cinema, Vídeo e Comunicação Multimédia pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.
A sua (sua, da sua equipa e um pouco de todos nós pelo seu significado e alcance emocional) curta-metragem venceu o Grande Prémio de Melhor Curta Metragem pela Universidade Lusófona e pelo ICA no mês de Julho de 2015 no Cinema São Jorge.
‘TURP’ recebeu também uma notícia especial. A de que iria estar em Maio onde merece estar. A curta foi seleccionada para o Short Film Corner do Festival de Cannes.
O filme: ‘TURP’ é os silêncios e as imagens. São eles que nos trazem a mensagem forte que esta curta carrega em si. Forte psicologicamente a curta tem na guerra do Kosovo o seu cenário de incidência e condutor de narrativa para nos fazer chegar aquilo que se presta a abordar. Com uma produção de qualidade assinalável, ‘TURP’ tem ainda interpretações de actores de renome em Portugal como o Miguel Nunes e José Fidalgo.
Prestes a viajar para Cannes, a Liliana Gonçalves conversou um pouco connosco sobre a sua fabulosa curta-metragem. Aqui a curta entrevista:
Porquê a escolha deste tema, da guerra do Kosovo e questões psicológicas tão fortes como a culpa, o sentimento de revolta e impotência por parte de um ser humano?
Esta história surgiu em 2012, para um conto. Alexandre Lopes (no qual o personagem Aleksander se baseia), um grande amigo, Tenente para-quedista no Exército Português na altura, encontrava-se em missão no Afeganistão por um período de 6 meses quando lhe contei sobre o conto. Decidimos que iríamos trocar ideias sobre uma história que eu queria contar, colocando na mesma algo de real e algo que, metaforicamente, representasse um episódio da minha vida, uma depressão que tive aos 18 anos. O personagem Aleksander (interpretado pelo Miguel Nunes) representa esse mesmo episódio.
Kosovo porque por motivos familiares ligados às Forças Armadas, e por eu mesma estar ligada também, achámos (eu e o Alexandre) que faria todo o sentido colocar o personagem nessa guerra que ainda hoje está tão presente. Felizmente quando me recuperei da depressão, voltei a uma vida saudável e normal, e hoje dou todo o valor aos que mais amo, e aos que mais me amam. Fez todo o sentido criar uma história auto biográfica como se fosse um olhar para trás e ao mesmo tempo com orgulho.
Liliana, é fantástico saber que há um significado tão forte na curta. Como conseguiram juntar à mesma nomes tão conhecidos do teatro e representação em Portugal?
Foi uma história que agradou a todos os actores de início. É algo ainda muito presente como referi anteriormente. O Miguel Nunes interessou-se logo pelo seu personagem, com uma carga dramática muito forte. O José Fidalgo tinha terminado uma novela quando falei com ele para general, gostou também do guião. Igualmente para quem interpreta os papéis dos pais na curta.
Qual a sensação de estarem presentes no Festival Internacional de Cinema de Cannes?
Ir a Cannes, para qualquer um é um sonho, cereja no topo do bolo. Para alunos recém licenciados é algo quase mágico. Para um filme que ‘sofreu’ tantos problemas a todos os níveis, é ainda mais valioso!
Tens algum agradecimento especial que gostasses de fazer?
Não posso deixar de referir uma pessoa, o meu médico psicoterapeuta Francisco Xavier. Foi e continua a ser uma pessoa muito importante na minha vida, pois devo-lhe parte da minha recuperação.
Quem quiser ajudar a Liliana a ir a Cannes poderá fazê-lo monetariamente – e não só – através do link para o grupo da curta no facebook. À Liliana um obrigado pela simpatia, disponibilidade e sinceridade com que nos trouxe o significado subjacente a todo este projecto. A ela e à sua equipa, a CCA deseja a maior das sortes em Cannes.