Um programa dedicado ao silêncio cruzará áreas artísticas e do conhecimento em Lisboa
As Coisas Fundadas no Silêncio é uma programação destinada a refletir sobre o tema do silêncio, que envolve a participação de intervenientes de várias disciplinas artísticas e das ciências naturais, sociais e humanas, e que se realiza de 3 de março a 31 de maio, em Lisboa.
Para abrir esta programação, realiza-se um ciclo de conferências, nos dias 3 e 4 de março na Culturgest, com o objetivo de refletir sobre o lugar do silêncio na atual era do ruído e que inclui oradores de áreas tão distintas como o cinema, o teatro, a literatura, a astrofísica, a música, a epistemologia do som, a filosofia ou a religião.
A artista plástica Susana Mendes Silva vai inaugurar no dia 9 de abril “Como silenciar uma poeta”, um trabalho que nasce a partir da obra da escritora portuguesa Judith Teixeira (1880-1959). Esta exposição vai estar patente na Sala Sonae do Museu Nacional de Arte Contemporânea até ao dia 31 de maio e inclui também duas performances e a leitura da conferência “De Mim”, que a poeta e novelista publicou em 1926.
Rui Catalão, dramaturgo, encenador e jornalista, vai orientar um workshop na Appleton Square nos dias 28 e 29 de março, com o intuito de desenvolver um conjunto de “exercícios de silêncio”, dedicados à observação e intercalados com a leitura de pequenos textos, cenas de filmes, reproduções de pinturas e temas musicais.
Já o coreógrafo brasileiro Gustavo Ciríaco e a atriz e cantora portuguesa Isabél Zuaa, vão apresentar a performance inédita “Uma voz” no dia 24 de abril, às 21:00, na igreja anglicana de St. George. Pretende-se tomar esta igreja como um imenso instrumento a ser tocado pela voz de uma mulher, usando a sua acústica para a exploração sonora, levando o público num passeio pelos cheios e vazios de um espaço compartilhado.
No dia 7 de maio vai realizar-se uma visita à câmara anecóica do Instituto Superior Técnico de Lisboa, um espaço onde o isolamento sonoro é tão grande que o visitante consegue ouvir os seus próprios batimentos cardíacos. Até hoje, o máximo de tempo que uma pessoa conseguiu ficar numa câmara anecóica foi 45 minutos. Convidamos o público a vir perceber porquê.
O pianista Tiago Sousa vai estar em concerto no Museu da Música, no dia 16 de maio, um momento para ouvir alguns dos seus temas originais e as composições de Federico Mompou, Arvo Pärt (com a violoncelista Bruna Maia Moura) e John Cage, entre elas “4’33’’”, a célebre peça silenciosa que alterou a estrutura convencional da música.
No Cinema São Jorge, nos dias 25, 26 e 27 é programado um ciclo de seis filmes que se ligam ao tema desta iniciativa, entre eles “Land of Silence and Darkness” de Werner Herzog, “Berlin 10/90”, de Robert Kramer, “Two Cabins” de James Benning e “Vitalina Varela” do realizador português Pedro Costa. As sessões serão apresentadas por Nuno Lisboa, diretor do Doc’s Kingdom.
Para encerrar este programa, no dia 30 de maio, vai ser apresentada a performance inédita de Gonçalo Alegria “Jogo da bomba” na Galeria Monumental, onde dois artistas atravessam o espaço, transportando objetos sonoros, com o objetivo de serem o mais silenciosos possível. Esta é uma coreografia que procura resistir ao ambiente que ela própria gera e que conta com a performer Maria LaLande.
A pensar nos mais novos, na livraria Tigre de Papel vão decorrer três oficinas com Joana Saraiva, nos dias 11 e 18 de abril, para que as crianças possam refletir sobre o silêncio, com recurso a imagens, textos ou filmes.
Marta Rema, diretora artística deste programa, partiu de um verso de Sophia de Mello Breyner para dar nome ao projeto. Rema foi a vencedora da 3ª edição do Prémio de Curadoria Atelier-Museu Júlio Pomar/EGEAC com “Muitas vezes marquei encontro comigo próprio no ponto zero”, uma exposição que já abordava o tema e que convocava propostas visuais diversificadas. Nesta programação dá continuidade à sua inquietação com o silêncio na relação com o corpo, o tempo, a linguagem, a música, o cinema e as artes plásticas.
Todas as atividades têm entrada livre, à exceção do ciclo de cinema no Cinema São Jorge.