“Vai no Batalha”, de Pedro Lino, inaugura o Porto/Post/Doc
De hoje até ao dia 25, o cinema documental é no Batalha! Mas não só.
Seria difícil encontrar um título mais feliz para a abertura da 10.ª edição do Porto/Port/Doc. Não só por Vai no Batalha soar como um chamamento para o certame dirigido por Dario Oliveira (co-fundador do Curtas Vila do Conde) e ancorado nas diversas captações contemporâneas do real, mas sobretudo por este documento ilustrar e revelar a história centenária de uma das salas mais antigas de cinema do mundo, ainda em funcionamento. E cujas portas abrem hoje, dia 17, às 21h, até ao dia 25. Não só no Batalha Centro de Cinema, é claro, mas em diversos outros pontos da Invicta.
Este um que filme ilustra o convite formulado ao realizador Pedro Lino após a exibição de Lupo, em 2019, no festival Il Cinema Ritrovato, em Bolonha, um filme biográfico dedicado ao rebelde italiano Rino Lupo, um cineasta singular capaz de captar a arte e os sinais dos tempos em vários pontos da Europa, incluindo Portugal, onde realizaria vários filmes. O desafio lançado pela produtora Kolam, para que Pedro Lino selecionasse uma sala de cinema com história para integrar o projeto de documentários ‘Cinemas Míticos’, consagrado às ‘mais fascinantes de todo o mundo’. É aqui que é plantada a semente de Vai no Batalha, uma co-produção assegurada pela Ukbar Filmes. Uma oportunidade também para o cineasta portuense de 43 anos aliar a sua ligação pessoal ao próprio espaço, enquanto assíduo espetador cinéfilo.
Mesmo ancorado num registo que não foge muito a uma narrativa algo académica que dificilmente descola de um episódio de série televisiva, ainda assim, os cerca de 50 minutos de narrativa são suficientes para oferecer uma viagem à história do cinema, aos cinemas do Porto, mas igualmente às marcas deixadas por diversos eventos fraturantes ao longo do século XX. Desde logo, o testemunho que o edifício fez da história portuguesa, desde o fim da monarquia, passando pelas guerras, pela ditadura, até à Revolução de Abril.
Da mesma forma, optando sobretudo por um relato de voz off, alternado entre o arquiteto Alexandre Alves Costa (filho do crítico e cineclubista Henrique Alves Costa) e Margarida Neves (bisneta do fundador do edifício, António Neves, pela voz de Paula Guedes), escapando assim a uma certa ligeireza das talking heads, ou ‘cabeças falantes’, devidamente complementadas com imagens de arquivo raras e outra atuais, bem como diversos excertos de filmes.
A aventura começa em 1906 com um projetor Pathé e uma pequena coleção de filmes, trazidos por Edmond Pascaud e pela sociedade entretanto formada com António Neves. E terminará após o longo período de reabilitação do espaço, de resto, devidamente acompanhado por Lino. Incluindo até a recuperação dos painéis de Júlio Pomar, iniciados em 1946 e terminados em 47, entretanto tapados pela PIDE no ano seguinte, durante o período da censura, como reação à sua prisão do autor por motivos políticos. Isto apesar de serem inofensivas relatos da festa de São João.
Pelo meio, a experiência do cinematógrafo, do barracão do High-Life e da construção de um edifício de ‘pedra e cal’, tal como a construção do Batalha, inaugurado em 1951, e sobretudo do impacto que teve na cidade, bem como num certo portuense que haveria de se dedicar ao cinema, chamado Manoel de Oliveira, aliás, padrinho de Alexandre, como o próprio confessa.
Sim, são razões para ‘ir’ ao Batalha. As portas já estão abertas. Agora, vai (ou ‘bai’)!