Yada, yada, yada, Seinfeld, yada, yada, yada
Aparentemente, as palavras que se seguem pronunciam-se sobre o fenómeno referente ao nada. A hipérbole foi escrita sem qualquer consentimento dado pelo autor do texto, até porque o dito cujo se caracteriza pelo constante pedantismo em relativizar o termo e, dessa forma, atribuí-lo a acontecimentos com aurora distinta. A mudança de planos ocorreu à velocidade de um orgasmo masculino em tempos de contenda. Bem, que parvoíce… A palavra “nada” é conotada negativamente, traduzindo-se numa receita composta por dez gramas de caráter desprezível, duzentas gramas de insignificância e cem gramas de banalidade.
Altere-se, pois, o vocábulo. Resgate-se o seu antónimo. Debata-se o “tudo”. A totalidade, a íntegra, – referente ao todo, não à postura adotada por alguém – a universalidade de algo. Repare: o “tudo” pode ser apenas aquilo que é considerado imprescindível, tanto de uma totalidade como de uma parte dessa ou de outra totalidade e a matéria à qual se confere a autenticidade que rege os próprios padrões. Transfigure-se, após breve reflexão, a temática da folha branca munida de dupla introdução, objeto que acicata a cólera de qualquer comum. Escusado será denominar – novamente – o acontecimento de “estupidez”.
A caracterização lida pertence à série Seinfeld. Melhor, a uma parte de si, a que representa o ponto onde as duas partículas se intersetam. A outra reproduz o romper do estabelecido, do socialmente aceitável e da (i)moralidade que a populaça teima em encobrir. Jerry Seinfeld e Larry David são espécies portadores de uma crueldade apaixonante: ao longo de nove temporadas, pejaram-se da perícia e inteligência necessária e – muito mais do que – suficiente para abordar e satirizar relações interpessoais, enformando os quatro protagonistas de máculas e incorreções sob o ponto de vista do protótipo de autor frequentemente volatilizado.
É provável que nada do que tenha sido escrito até ao parágrafo anterior alicie ou persuada a irracionalidade exclusiva de quem lê estas linhas. Sim – respondendo à sua pergunta – considero fulcral imbuir-se “espírito kafkiano” para a visualização desta série pelo simples facto de a realidade colocada defronte dos olhos de quem a vê assumir contornos paralelos – sem a prática da inversão peça a peça, fator a fator – e não coexistir com a denominada situação normal. Estranho?
Por falar em estranho, surge em cena Cosmo Kramer: o orgasmo em pessoa no que às reações e à articulação de palavras em estado de nervos concerne, o grau zero da convencional vulgaridade, a subversão sem qualquer salpico de malícia, o equilíbrio insólito e a ponte entre o quarteto principal. Cumpre os requisitos de um caso de observação e deleite. Cumprirá, também, os parâmetros relativos a um caso de estudo?
Um caso de estudo, por norma, gera agitação. A agitação anda de braço dado com os gritos. Escutam-se, de imediato, grunhidos em barda. George Constanza é a personificação lapidar de um ser humano perturbado até ao tutano, o homem dos sete distúrbios mentais elementares da Psicologia, a pessoa capaz de domar qualquer profissional de saúde do foro psíquico, a principal vítima da conspiração do universo e o somítico dos somíticos. A narração soou a uma pequena apresentação de alguém no mundo televisivo?
Juntando o útil ao agradável e aproveitando a última deixa: Jerry Seinfeld, comediante stand-up, o Adónis humano e a cola do grupo, o conselheiro e a tentativa imutável da “voz da razão”, o germofóbico e a pessoa mais apta para tornar algo aparentemente insignificante num problema sem resolução visível. Além disto, catapulta o humor para circunstâncias mundanas, servindo-o num cocktail que aglutina a vida profissional e a vida pessoal. Constrói estados de raiva unicamente dirigidos a Newman, foi – em tempos – namorado de Elaine Benes e, em nome da amizade, respeita – por vezes – o estado de fusão.
Fim de dedicatória.
(Elaine Benes contacta o autor do texto e, suportada pela sua autoconfiança e inteligência, insulta-o, ameaça-o e dadiva-o com uma palestra demorada acerca da mulher. No seguimento da chamada, o autor responsabiliza-se pela não menção e corrige a crap que fez). A carapaça é dócil, inofensiva, extremamente sedutora e carregada de um sorriso que enlouquece todo e qualquer rabo de saia. As profundezas são inevitavelmente… (a probabilidade de receção de uma nova chamada telefónica é elevada).
(Na conclusão de um escrito, tem por hábito afirmar-se que o que acabou de ser visado é a melhor das coisas e, consequentemente, apelar e convencer os leitores a x ou y.)
Voz interior: Façam isso! Não se arrependem!
Leitores: E agora?
Agora é tudo! Ou nada!