“Years and Years”: a série que retrata o agora
O escritor e realizador Russell T. Davies deixou-nos boquiabertos com o mais recente drama televisivo “Years and Years” – um conjunto de seis episódios que mistura questões políticas e sociais, novas tecnologias e fortes laços familiares que tentam resistir à avalanche de problemáticas que os envolve – e que acaba também por nos envolver de tal forma que o enredo da história parece acontecer connosco, tal a carga emocional que absorvemos sem nos darmos conta. E não é para menos.
A história da série inicia em 2019, num ano em que Viviene Rook (Emma Thompson), uma candidata a primeira-ministra do Reino Unido, faz fortes declarações durante um debate televisivo – o início de uma campanha que continuamos a seguir ao longo da série e que se mostra bastante controversa, dividindo as opiniões da população. Ao mesmo tempo, acompanhamos a vida familiar da família Lyons, natural de Manchester, onde ainda vive sozinha a avó da família, Muriel Deacon (Anne Reid), pelo que os restantes membros residem em Londres. Os Lyons, que raramente se encontram pessoalmente, mantêm contacto diariamente através de chamadas via Internet, num mundo onde os assistentes pessoais tecnológicos são os mais recentes membros familiares.
A dada altura o ritmo da série acelera e somos conduzidos pela família Lyons para os anos que se seguem. Durante esse tempo, Donald Trump é reeleito como Presidente dos Estados Unidos da América, a China constrói uma ilha artificial e uma base militar designada Hong Sha Dao em território sob disputa, o Brexit é ainda tema central do debate político, a Rainha Isabel II morre, forças militares russas invadem a Ucrânia e a candidata independente Viviene Rook (Emma Thompson) vence as eleições e torna-se primeira-ministra do Reino Unido. Assiste-se ainda a uma grave crise nos bancos, que entram em falência após o colapso de uma empresa de investimentos americana e que afetam as economias e finanças da população britânica. Todos estes acontecimentos vão, de alguma forma, afetar os membros da família britânica Lyons.
A questão primordial da série desenvolve-se com o apogeu do desenvolvimento tecnológico e, em simultâneo, de conflitos políticos generalizados. A globalização no seu expoente máximo, portanto. Um acontecimento que decorre na América provoca consequências na população de todas as partes do mundo. A questão da imigração toma contornos cada vez mais nefastos. E, perante tudo isto, as crianças e jovens tapam os seus olhos com simuladores de jogos.
A série “Years and Years”, cuja transmissão foi proibida na China logo após os primeiros episódios, tem como objetivo claro provocar os telespectadores, levando-nos a questionar qual o propósito da realidade em que vivemos. É quase impossível não terminar os episódios com uma expressão aterrorizada perante o futuro retratado, cuja probabilidade de se concretizar na realidade nos deixa inquietantes e, atrevo-me a dizer, desesperados.
O drama televisivo é transmitido na BBC One e na HBO e o último episódio da primeira temporada foi apresentado no dia 18 de junho. Russell T. Davies não confirmou ainda uma segunda temporada. Contudo, em declarações à Express.co.uk, o escritor referiu que a ideia de produzir uma série neste formato o acompanhava há 20 anos.
Artigo escrito por Beatriz Céu