14 anos de “Favourite Worst Nightmare”, dos Arctic Monkeys
Aqueles que viveram a sua adolescência e testemunharam o nascimento de novas bandas durante a primeira e segunda décadas deste século estarão, ao ler este título, muito provavelmente a pensar como é que o tempo passou tão depressa.
A prova disso é que o segundo e ilustre álbum Favourite Worst Nightmare dos Arctic Monkeys, que em 2007 ainda era uma banda de rock britânica em fase de afirmação, celebra 14 anos. Dado o seu conteúdo marcante, presente em qualquer playlist dos amantes do rock alternativo ou daqueles que acompanharam o percurso da banda até aos dias hoje, parece que foi ontem que o disco girava constantemente nas estações de rádio e era a grande novidade nas lojas de música. Os Arctic Monkeys, na altura com excelentes indícios de que poderiam ter um caminho repleto de sucessos e tudo graças ao álbum Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not lançado no ano anterior e que tivera um impacto estrondoso, teriam grandes hipóteses em ser uma das mais promissoras bandas rock do novo século. Como tal arriscar-se-iam a lançar o seu segundo álbum pouco tempo depois do primeiro, até porque metade das canções já estavam compostas há já algum tempo e foram até exibidas em concertos juntamente com as canções do primeiro álbum. Nunca é fácil, para uma banda, manter o sucesso depois de um primeiro álbum que tenha tido um impacto tão estrondoso como foi o caso dos Arctic Monkeys. O público e a crítica estão sempre à espera de mais e melhor, de novas ideias e conteúdos e é sempre difícil tentar superar tais espectativas. Contudo, embora Favourite Worst Nightmare não tenha tido um número de vendas tão elevado como Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not, o álbum soube corresponder às exigências, sendo descrito pela crítica como “mais rápido e barulhento” e também “mais ambicioso” do que o álbum anterior.
A banda inglesa, formada nos subúrbios da cidade de Sheffield, composta pelo ilustre Alex Turner, vocalista, guitarrista, e autor de grande parte das letras das canções dos Arctic Monkeys; Jamie Cook, guitarrista principal; Matt Helders, baterista; e Nick O’Mailley baixista, todos eles com um aspecto bem mais juvenil do que aquele que conhecemos hoje, procuravam então prosseguir com o sucesso explosivo que tiveram no seu primeiro álbum, um desafio que era aliciante para uma banda tão jovem. Pegando no Indie Rock (já desenvolvido por uma série de bandas da década de 90 do século passado), misturado com o Garage Rock (uma das tendências das primeiras bandas rock do novo século) com um toque de Punk à mistura, o reportório dos Arctic Monekys era um dos mais apelativos e tinha tudo para ter um sucesso constante. O álbum fora lançado em diferentes países entre os dias 18 e 24 de Abril de 2007, começando no Japão e acabando nos Estados Unidos. A capa, algo escura e acinzentada, exibe uma moradia em que três das janelas apresentam padrões coloridos, dando a sensação de luzes acesas no seu interior.
O álbum começa com um início acelerado de bateria que se mistura com a velocidade rítmica dos instrumentos de cordas e da voz de Alex Turner, intitulada por Brianstorm, canção inspirada num episódio com um fã chamado Brian durante uma digressão da banda pelo Japão, nome que juntamente com a palavra inglesa Brainstorm forma um trocadilho. Seguem-se Teddy Picker, que exibe bem o Indie Rock que dá a identidade aos Arctic Monkeys; D Is for Dangerous que dá o nome álbum fazendo referência ao “pior pesadelo preferido” de alguém, “I think you should know you’re his favorite worst nightmare”; e ainda Balaclava, canções estas que fazem do álbum tudo menos um pesadelo, dando a luz e as cores necessárias que clareiam uma capa aparentemente sombria. Cores essas que também coloriram a adolescência de muitos ao ponto de a tornar mais viva e florescente, daí que a quinta faixa seja intitulada por Fluroscent Adolescent. Os acordes de guitarra iniciais bastante característicos bem como o modo como Alex Turner a interpreta faz com que a canção seja um rápido reviver de episódios, algo que embora difícil de cantar devido ao seu ritmo bastante acelerado, ficou constantemente no ouvido daqules que iniciaram e viveram a adolescência nesta altura. Seguem-se Only Ones Who Know, a única faixa do álbum que se assemelha a uma balada, Do Me a Favour, e ainda This House Is a Circus, canção que pode justificar a casa representada na mística capa de Favourite Worst Nightmare. As faixas seguintes, If You Were There Beware, The Bad Thing e Old Yellow bricks mostram riffs de guitarra e ritmos bastante característicos e que são facilmente identificáveis com o estilo próprio dos Arctic Monkeys. A última faixa é intitulada com o número 505, tratando-se de uma canção que retrata uma espécie de romance, o desejo de regressar a um lugar longínquo onde ficou para trás alguém com quem foi vivido um romance intenso. Começando com o ritmo de uma balada, havendo no meio uma explosão dos instrumentos e da voz de Alex Turner que se mantêm constantes até ao fim, esta é uma das mais emblemáticas canções dos Arctic Monkeys e até mesmo do rock do século XXI. Consta que seja o número de um quarto de hotel onde Alex Turner esteve e conheceu alguém por quem se apaixonou e que marcou fortemente a sua vida.
Favourite Worst Nightmare foi a prova de que os Arctic Monkeys tinham tudo para ser uma das maiores bandas de rock de uma nova era. Os trabalhos seguintes, Humbug (2009) e Suck It And See (2011), foram álbuns bastante apreciados pela crítica mas não tiveram o mesmo impacto que Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not teve ou até mesmo o próprio Favourite Worst Nightmare. Só em 2013, com o álbum AM, é que os Arctic Monkeys mostraram a sua reafirmação com um álbum que teria um impacto muitíssimo maior que os anteriores. Hoje, com cinco álbuns de estúdio, os Arctic Monkeys ganharam o estatuto de uma das mais influentes bandas rock do século XXI. Dez anos depois, Favourite Worst Nightmare é visto como um álbum actual e uma referência do melhor que a música rock produziu nos últimos anos. Muitas outras bandas, artistas ou trabalhos podem entretanto surgir mas os Arctic Monkeys serão sempre uma referência na música actual, dadas as suas características inovadoras e extremamente apelativas. Os fãs e amantes do rock anseiam pelo sexto álbum que parece tardar em sair, alimentando espectativas sempre que surgem rumores ou notícias sobre a sua chegada. Só uma grande banda provoca tais impactos e sensações no público, sendo este uma das metas que qualquer banda ou intérprete ambiciona atingir. O trabalho dos Arctic Monkeys talvez ainda seja curto para garantir o estatuto de eterno ou de imortal, mas o céu é o limite e certamente que em breve teremos mais um trabalho marcante desta que é uma banda que já faz parte da história do rock.