25 anos de ‘Dookie’, dos Green Day
A década de 90 do século XX foi uma época onde várias vertentes musicais mais remotas e outras ainda pouco exploradas, ou exploradas de uma forma não tão apelativa, foram implementadas de um modo mais sublime numa indústria musical cada vez mais madura e exigente perante uma sociedade em constante transformação.
O punk rock, que viria a perder alguma força em anos anteriores e que para alguns críticos fora introduzido de um modo demasiado impetuoso por algumas bandas no final da década de 70, com o intuito de impor esta vertente do rock de uma maneira predominante e hegemónica, começava assim a renascer de um modo muito mais apelativo e enérgico do que as versões mais primordiais graças a jovens músicos que ambicionariam dar-lhe um novo ânimo e adaptá-lo a uma era onde as transformações a nível político e social foram vividas com uma enorme intensidade. Estes novos músicos conseguiriam conferir ao punk rock letras fortes e controversas, uma condição empírica nesta vertente musical, e que causaria um impacto bastante considerável num mundo em constante mudança tal como na década de 70.
Acontece que em 20 anos o mundo mudou assim como o punk que, com este novo renascimento começava a ser denominado como punk revival, desta vez prometia vir para ficar. Para alguns parece que fora ainda ontem que três rapazes de Berkeley, na California, juntos formariam uma banda que se mostrava em fase de ascensão que poderia vir a atingir patamares bem mais elevados. Já com dois álbuns de estúdio e vistos como uma promessa musical para os anos seguintes, lançariam aquele que seria o álbum que os projectaria para um lugar definitivo na história da música rock e que teria um sucesso à escala mundial, continuando a ser ouvido ainda hoje como se tivesse sido lançado ontem. Falamos certamente nos Green Day e do seu terceiro álbum de estúdio Dookie que conferiu uma nova energia ao punk rock dos anos 90 marcando assim toda uma geração. Lançado a 1 de Fevereiro de 1994, Dookie é considerado um dos melhores trabalhos musicais desta década que foi altamente influenciada pela inclusão de estilos musicais que teriam um impacto gigantesco não só a nível musical mas também a nível cultural e social. Com o carismático vocalista e guitarrista Billie Joe Armstrong, o baixista Mike Dirnt e o baterista Frank Edwin Wright, mais conhecido como Tré Cool, os Green Day são considerados hoje como uma das maiores bandas de sempre. E há 25 anos lançariam assim um álbum de originais que, após duas tentativas com um impacto modesto, teria um efeito nunca antes visto sendo considerado por muitos como um dos mais bem-sucedidos trabalhos da música rock e até mesmo como a maior obra-prima do punk revival, contando com mais de 20 milhões de cópias vendidas em todo o mundo.
O álbum, gravado entre Setembro e Outubro de 1993 sob a tutela do já conhecido produtor musical Rob Cavallo, é composto por catorze canções (com uma adicional, que fora introduzida anos mais tarde noutras reedições), grande parte delas de curta duração e com algumas letras que carregavam algum conteúdo mais obsceno e controverso como a orientação sexual, ansiedade, relações falhadas, masturbação, entre outros temas que eram tabu na época mas que, ao serem transmitidos através de canções com letras altamente explícitas e difundidas em melodias alegres, conseguiram exibir a nova vertente e energia que o punk rock viria a acrescentar ao mundo da música. Tudo isto graças aos membros talentosos da banda mas também muito graças às letras de Billie Joe Armstrong que o tornaram inevitavelmente no rosto principal dos Green Day e também num dos grandes protagonistas do punk revival. A capa do álbum está repleta de desenhos coloridos que fazem alusão a uma enorme explosão, com bombas que geram a confusão total, numa mistura de desenhos com diferentes personagens dando a ideia de que traria consigo uma explosão musical. E essa explosão musical é imediatamente verificada em Burnout, uma canção repleta de energia e vivacidade que dá início a este álbum repleto de novidades, seguindo-se de Having a Blast e Chump, faixas do mesmo género que contam com o estilo característico deste novo punk que tinha muito para oferecer. Longview, canção com uma letra altamente controversa, inicia-se num registo mais suave, crescendo para um registo mais agressivo do punk rock que se torna paradisíaco com o ilustre Welcome to Paradise, uma canção animada ao estilo da própria banda assim como Pulling Teeth que exibe um compasso mais lento.
Contudo, é na sétima faixa que surge um dos maiores clássicos dos Green Day e que praticamente lhes conferiu o passaporte para o estatuto de uma das maiores bandas punk de sempre. Basket Case é uma canção que, mais do que uma obra do punk revival enérgico e sedutor, marcou uma geração que testemunhou e viveu este espírito com a mais alta das intensidades. Com uma letra baseada nas vivências de Bille Joe Armstrong, nomeadamente no combate às crises de ansiedade, Basket Case consegue trazer o aroma dos anos 90 ao presente, fazendo com que esta seja uma das canções mais influentes desta década, juntamente com um videoclip que consegue criar uma harmonia perfeita com a música e com os versos da canção.
O punk rock continua a fluir de modo intenso com She, canção cuja letra fala da namorada de Billie Joe Armstrong na altura, mostrando uma vez mais a enorme identidade da banda assim como também Sassafras Roots. When I Come Around trata-se de outra canção que conseguiu enaltecer o poder dos Green Day na música que, tal como Basket Case, os projectou ainda mais no universo do rock. Seguem-se ainda Coming Clean, Emenius Sleepus, única canção escrita por Mike Dirnt, e In the End, todas elas com o mesmo estilo por detrás, conseguem dar a conhecer ao ouvinte um pouco mais do reportório da banda. O álbum termina com F.O.D. uma canção que aparenta ser uma melodia acústica, mas que muda para o punk rock de modo espontâneo. All by Myself, uma melodia acústica composta pelo baterista Tré Cool, fora introduzida no álbum noutras edições seguintes e que é assumida como uma hidden track deste trabalho musical.
Um quarto de século depois do estouro, os Green Day tornaram-se numa banda de nível mundial continuando ainda hoje a procurar novos trabalhos, dando um pouco de mais do seu contributo ao rock, ao punk e ao universo da música. Os rumores da eminência de um novo álbum dos Green Day causam um impacto tão grande nos amantes da música como os rumores que surgiam após o lançamento de Dookie, o que faz com que esta seja uma banda que se consegue manter actual com o passar dos anos. Goste-se mais ou menos dos últimos trabalhos ou daqueles que ainda virão a ser lançados, um álbum dos Green Day é sempre um álbum dos Green Day. Um álbum que, tal como Dookie e outros tantos lançados em quase trinta anos, acabará por dar uma alavancagem ao punk rock fiel às letras e ao estilo mais primitivo, mas que conseguiu ser um pouco mais enternecedor e afável muito graças a bandas que tiveram a ousadia de o moldar e fazer renascer, mantendo-o ainda hoje mais vivo do que nunca.