Ben Ehrenreich: “Quando a Autoridade Palestiniana reprime manifestações usa as mesmas táticas que Israel”
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13 de Setembro de 1993. O dia era histórico. Assinava-se a “Declaração de Princípios sobre os acordos de Auto-governação Interina”, o primeiro documento dos Acordos de Oslo que, até então, tinham sido negociados em segredo na capital Norueguesa.
Bill Clinton, na altura presidente dos Estados Unidos da América , tinha a seu lado Yasser Arafat, líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Mahmoud Abbas, também da OLP, Yitzhak Rabin, primeiro-ministro de Israel, Shimon Peres, ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, e outros líderes políticos palestinianos, israelitas, americanos e russos. Tinham como cenário o Jardim Sul da Casa Branca, em Washington D.C..
Uns dias antes, a 9 de Setembro, três cartas oficiais tinham sido trocadas entre Arafat, Rabin e o ministro dos Negócios Estrangeiros norueguês, Johan Jorgen Holst. Nelas, lê-se que o governo israelita decide, pela primeira vez, “reconhecer a OLP representante do povo palestiniano”, mas não um Estado palestiniano. Por outro lado, Arafat reconhecia “ao Estado de Israel o direito de existir em paz e segurança”. Mas foi mais longe: “a OLP renúncia ao uso de terrorismo e de outros atos de violência e assumirá a responsabilidade sobre todos os elementos e funcionários da OLP, de modo a assegurar o seu cumprimento, prevenindo infrações e punindo os infratores”.
Para muitos palestinianos, abdicar da hipótese de se defenderem, mesmo que forma violenta, é indesculpável. Mas assim foi. A partir dos Acordos de Oslo, o papel da liderança política palestiniana, que outrora era de combate, tornou-se, cada vez mais, parte da ocupação. Ben Ehrenreich, jornalista americano, diz: “A Autoridade Palestiniana (AP) [governo interino criado a partir dos Acordos de Oslo] age como a força avançada da ocupação em termos de reprimir a resistência. Não é metafórico, não é assim tão complexo. É muito fácil de assistir a isso. Quando alguém quer realmente desafiar as forças da ocupação, a AP é das primeiras a estar lá, para garantir que isso não acontece”. Ativistas são presos por criticar o governo, manifestantes são reprimidos nas ruas. Um governo autoritário num território ocupado.
Enquanto isso, quem vive na Palestina luta por sobreviver. E os empregos, escassos, vão sendo criados com dinheiros internacionais: pela Autoridade Palestiniana e pelas Organizações Não Governamentais (ONGs) internacionais que têm vindo a crescer desde que os Acordos foram celebrados. Ben Ehrenreich escreve no seu livro “The Way to the Spring: Life and Death in Palestine”: “Grande parte da população palestiniana encontrou trabalho nas 2100 ONGs que surgiram nos anos seguintes a Oslo. Quase todas essas organizações sobreviveram através do financiamento de doadores internacionais, acima de tudo norte-americanos e europeus. Os seus trabalhos refletem inevitavelmente mais as prioridades das nações doadoras do que as necessidades dos palestinianos. Os doadores, afinal, apesar dos protestos sobre Direitos Humanos e Direito Internacional, eram aliados do ocupante”.
É a “ONGização da sociedade civil palestiniana”, diz Ehrenreich. Quem antes resistia nas ruas, atirando pedras à ocupação, hoje está em escritórios, a submeter candidaturas a fundos ou a escrever relatórios de atividade. Sossegados, como se quer.
Em Junho, entrevistámos Ben Ehrenreich sobre as consequências da assinatura dos Acordos de Oslo e sobre a paz que parece cada vez mais distante. Falámos sobre o Estado de Israel, que o autor classifica como “apartheid, e ferozmente racista e assassino”, sobre como a Autoridade Palestiniana, perpetua a ocupação com o seu regime autoritário e repressivo, sobre a interferência dos Estados Unidos da América e ainda sobre Ahed Tamimi, ativista palestiniana presa com 17 anos e libertada, mais tarde, oito meses depois.
Texto e entrevista: Ricardo Esteves Ribeiro
Preparação: Maria Almeida e Ricardo Esteves Ribeiro
Som: Bernardo Afonso e Ricardo Ribeiro
Sabe mais sobre este tema: “Palestina, histórias de um país ocupado”.