O sol nasceu e veio para ficar em ‘Let’s Go Sunshine’, dos The Kooks
Se, para umas gerações anteriores à minha, a palavra ‘kooks’ remetia para a canção homónima, lançada por David Bowie em 1971 e dedicada ao nascimento do seu primeiro filho, hoje certamente que a palavra assume outra responsabilidade. O quarteto formado em Brighton em 2004 que dá pelo nome de The Kooks acaba de lançar aquele que, para além de ser o seu sexto álbum, é também o seu mais completo, harmónico e maduro trabalho.
Let’s Go Sunshine caracteriza-se pela genialidade e perspicácia que a banda tem de, num leque de músicas aparentemente tão diferentes entre si – quer a nível de estilos, quer a nível de letras – conseguir manter um fio condutor, a que a confortável voz de Luke Pritchard já nos tem vindo a habituar, assim como os acordes consistentes da guitarra acústica de Hugh Harris. Estes são tão marcantes como aqueles que dão entrada a esse hino que foi “She Moves In Her Own Way”, do primeiro álbum, e que hoje se espelham em “Picture Frame”, “All the Time” e “Fractured and Dazed”.
Ao longo de todo o álbum destes Kooks, damos por nós num safari entre o indie rock que sempre os caracterizou – fazendo lembrar Alex Turner com o seu cabelo à tigela e sem os óculos vintage – e o pop rock, revelando-se este tão decisivo neste álbum, sendo ele o núcleo duro de 15 extraordinárias faixas…
O álbum começa como também as nossas vidas, “Kids”. E se o amor (ou a falta dele) costuma ser a base das letras dos The Kooks, aqui Pritchard decide reiterar a sua opinião sobre o atual estado do mundo e da sua Grã-Bretanha em particular, fundindo-se com um grunge limpo. É assumida uma posição – “good England thrown to the wolves” – o amor estúpido e louco dá então lugar à maturidade e posições interventivas destes também outrora ‘kids’.
O sol acorda e surge então na terceira posição – não necessariamente levando a medalha de bronze – com o primeiro single divulgado, “All the Time”. O regresso das letras apaixonadas e apaixonantes e a falta de vergonha de uns solos de guitarra sublimes e uma batida contagiante, levam-nos a crer que nas próximas dezenas de minutos ouviremos os nossos amigos de Brighton a fazer o que sabem melhor, conjugando a experiência e técnica que foi conquistada ao longo da sua carreira.
Já praticamente com esse nascer do sol consolidado, “Pamela” ensina-nos uma lição: que o rock ainda corre nas veias destes quatro britânicos como nos tempos do seu primeiro álbum – Inside In / Inside Out – afirmando terem como grande inspiração para esta décima primeira música os saudosos Green Day. Sai do forno então uma canção diferente do resto do álbum, incompreendida por alguns fãs, possivelmente, mas nunca de qualidade inferior. Não seria deles.
E é sem pressão que o sol efetivamente nasce. Quase apetece que se ponha só para podermos vê-lo nascer outra vez. A música na qual percebemos que chegou o fim fala-nos de como tudo começa. Do início de uma paixão, de um início de uma conversa, do medo e da vergonha desse incerto, e da maneira como tudo evolui… Da vontade de um “I love you” ser inexplicavelmente substituído por um “I like you” surge esta última faixa repleta de emoções.
Em temas como “Weight of the World” ou “Fractured and Dazed” – tema que deu o mote para o resto do álbum, como revelou Luke em entrevista – os The Kooks trazem-nos então uma lufada de ar fresco naquela que tem vindo a ser uma demasiado elétrica vanguarda do indie rock. Os instrumentos precisos e notáveis, juntamente com as letras românticas e complexas, definem o estado de espírito da banda neste bom momento.
O sol nasceu, compôs canções e decerto veio para ficar… Para já ficam as reflexões e as interpretações equidistantes a retirar destas letras e destes acordes de uma produção musical que nos fazem sentir diferentes depois de a escutarmos. Fica a esperança de uma visita da banda a Portugal depois do quase no NOS Alive. Quando quiserem, no pressure…
Texto de Filipe Bento Moreno