Afinal, o que se passa no Barreiro?
A curta distância para a capital não limita o Barreiro em absolutamente nada. Apesar de ficar na margem sul do Tejo, essa afamada zona de Portugal, esta bela cidade industrial tem evoluído a um ritmo alucinante, muito graças à perseverança dos jovens da terra, que a têm dinamizado de diversas formas. O facto de estar tão próximo de Lisboa poderia retirar-lhe algum protagonismo e sufocar a cidade de opções, já que por norma as pessoas recorrem diversas vezes à capital quando procuram algo.
OUT.FEST, Barreiro Rocks, Fablab Barreiro, OUT.RA, Hey, Pachuco! e Estúdio King são apenas alguns dos projectos/festivais/Associações interessantes criadas nesta cidade à beira mar. Nomes como Nick Nicotine (agora Nick Suave, de nome real Carlos Ramos), Vera Marmelo, Rui Pedro Dâmaso, Fast Eddie Nelson (Nelson Oliveira), Cláudio Ferreira, entre outros, têm elevado o nome do Barreiro ao que de melhor se faz em Portugal em diversas áreas como a Música e a Fotografia.
A grande questão que se coloca é: afinal, o que se passa no Barreiro? Bem, um pouco de tudo. A sua identidade industrial deu-lhe um toque castiço, fruto da simplicidade das suas gentes. O que mais impressiona do ponto de vista cultural é que os nomes fortes da cidade não lhe viraram as costas em nenhum momento. Carlos Ramos (Nick Suave) tem sido um dos maiores impulsionadores culturais da cidade, tanto através da música como do associativismo e dizer que grande parte da cultura do Barreiro passa por ele não é de todo mentira. O seu mais recente projecto, intitulado “Suave”, tem vindo a ganhar cada vez maior destaque. Por outro lado é impossível falar na cultura do Barreiro e não mencionar Vera Marmelo, uma das mais reconhecidas fotografas portuguesas, que além de ter uma presença incrível em grande parte dos eventos musicais do país, tem também no seu repertório fotográfico inúmeros artistas internacionais que vão desde Emma Ruth Rundle a Angel Olsen, para citar apenas alguns nomes.
Há dois eventos no Barreiro que atraem cada vez mais espectadores para esta cidade de média dimensão: OUT.FEST e Barreiro Rocks. O primeiro, “Festival Internacional de Música Exploratória do Barreiro, é um evento de periodicidade anual, iniciado em 2004, que celebra a música experimental em todas as suas vertentes estéticas (música improvisada, electrónica, jazz, música clássica contemporânea, novas linguagens), juntando na sua programação a história, o presente e o futuro da criação musical de vanguarda.” O segundo, “(..)é um festival de referência Internacional no que diz respeito aos estilos mais puros do Rock and Roll. Ao longo dos últimos dezoito, passaram pelo Barreiro e pelas festas de apresentação na Península Ibérica milhares de pessoas de toda a Europa, centenas de bandas de todo o mundo e o festival passou a ser considerado no concorrido mapa dos festivais europeus da especialidade como um dos melhores da actualidade.”
É impossível ficar indiferente a qualquer destes dois festivais, principalmente se tivermos em conta que desde a Margem Sul do Tejo até Sines, estes são (a par do Moita Metal Fest) os dois festivais musicais mais relevantes, e estamos a falar de cerca de 150 km.
Podemos apontar o sucesso cultural do Barreiro para os seus agentes culturais, para as associações, boas ideias, patrocinadores ou boa gestão, mas a verdade é que nenhum polo cultural sobrevive sem o seu público e o público do Barreiro (e que se desloca até ao Barreiro) tem noção da sua qualidade e a garantia de que irá ser sempre surpreendido pela positiva.
Em 2018, o Barreiro é dos poucos sítios no distrito de Setúbal que ainda mantém a mística cultural underground, depois de Almada, Montijo e Setúbal terem dado um passo atrás, com este último a melhorar aos poucos.