“Plasticus Maritimus”: desafia miúdos e graúdos para um problema que está longe de ser biodegradável

por Mariana Vasconcelos,    18 Dezembro, 2018
“Plasticus Maritimus”: desafia miúdos e graúdos para um problema que está longe de ser biodegradável
“Plasticus Maritimus – Uma Espécie Invasora” / Fotografia de Mariana Vasconcelos

“Plasticus Maritimus – Uma Espécie Invasora”, da autoria de Ana Pêgo, bióloga marinha criadora do projecto com o mesmo nome, é um livro para crianças, que fala sobre a problemática da poluição por plástico, que os adultos também precisam de ler. Editado pela Planeta Tangerina, com textos de Isabel Minhós Martins e ilustrações de Bernardo P. Carvalho, o livro é um misto de guia científico/diário de detective sobre uma espécie que não deveria existir (mas existe) e em volta da qual ainda orbita muita desinformação. O objectivo de “Plasticus Maritimus” é precisamente esclarecer e alertar para a necessidade de proteger os oceanos, tão próximos de Ana Pêgo, cuja paixão pelo mar nasce de uma infância passada a brincar por entre as poças das marés na praia das Avencas, a 200 metros de sua casa.

“Plasticus Maritimus – Uma Espécie Invasora”

Essa praia ficou na infância mas Ana nunca se afastou muito do mar e quando percebeu o crescente problema da poluição por plástico nunca mais parou e tornou-se uma beachcomber – alguém que recolhe lixo das praias mas também o coleciona e se interessa pela sua origem. Isso tem permitido não só perceber os comportamentos associados ao uso de alguns plásticos, mas também a sua durabilidade e as autênticas voltas ao mundo que alguns deles já deram. Mas antes de chegarmos ao plástico o livro começa por explicar, sempre numa linguagem simples mas ainda assim cientifica e desafiante, a importância dos oceanos tanto no seu papel como termóstato do planeta mas também como o grande berço da biodiversidade que está em constante risco devido a uma grande variedade de comportamentos humanos.

De seguida o livro torna-se num autentico guia de espécies fazendo em curioso paralelismo entre as informações normalmente fornecidas nesses guias e as características da espécie “classificada” por Ana Pêgo. É já neste ponto que começamos a perceber o enorme perigo deste tipo de poluição devido à longa durabilidade, toxicidade e “poder de adaptação” do plástico. Existe em todo o lado, sobrevive em todos os ambientes e não tem predadores naturais. Além disso reproduz-se como nenhuma outra, como mostram os dados sobre a quantidade de plástico que vai parar aos oceanos todos os dias.

“Plasticus Maritimus – Uma Espécie Invasora”

Não só a autora reúne os diversos efeitos e perigos que advêm da poluição por plástico como incentiva a que todos os leitores sejam também eles activistas, ensinando a organizar uma saída de campo para limpar a praia, sempre relatando as suas próprias experiências como “o dia das palhinhas” durante o qual apanhou mais de uma centena delas.
A partir daqui este guia torna-se num eficaz exercício de consciência esclarecendo sobre os objectos mais encontrados: beatas, cotonetes, embalagens, garrafas, etc. e reforçando a realidade de que o surgimento deste problema é uma responsabilidade de todos nós, quer por falta de informação, cuidado ou preocupação. Ana fala sobre os balões que caem no mar depois de lhes perdermos a vista, das palhinhas que são deixadas para trás, das beatas enterradas na areia como se a praia fosse um cinzeiro gigante.

“Plasticus Maritimus – Uma Espécie Invasora”

“Plasticus Maritimus” não deixa nenhum lado da problemática do plástico por abordar, desmistificando também a questão da reciclagem e dando dicas e alternativas para um consumo mais responsável e sustentável que nos conduza na direção de uma economia circular.

Ana Pêgo e Isabel Minhós Martins criaram aquilo que faltava: um livro para crianças que toca na consciência dos adultos, que resume o problema em todas as suas complexas facetas de forma simples mas não infantil, sem pintar nada de cor de rosa (mas com fantásticas ilustrações). O caminho parece ser este: expor a realidade, desafiar, e promover a iniciativa de miúdos e graúdos para resolver um problema que está longe de ser biodegradável.

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