Steven Wilson: afinal, devemos voltar onde já fomos felizes
Praticamente um ano depois de iniciar a tour de apresentação do seu mais recente álbum, To The Bone, Steven Wilson voltou a Lisboa, e à Sala Tejo da Altice Arena. Numa tour que entretanto deu a volta um pouco por todo o Mundo e que voltava agora com o mesmo álbum, era então interessante saber – pelo menos para quem esteve no exacto local a 31 de Janeiro de 2018 – o que é que Steven Wilson e a sua banda trariam de novo. O amadurecimento e experiência acumulada com um ano de estrada valeram inteiramente o bilhete a quem voltou a ver o multi-instrumentalista inglês num curto espaço de tempo.
A Sala Tejo foi-se compondo de forma tímida, mas montou-se uma bela moldura humana para receber de novo Steven Wilson e a sua banda. Como é apanágio da cultura inglesa, não demorou até que o concerto agendado para as 21 horas tivesse início, semelhante ao de há um ano. Uma tela transparente, figura presente em muitas das canções – já lá iremos -, que separava o palco do público estende-se e lá é projectada uma série de imagens acompanhadas de um título que as descrevia. Mas à medida que o filme intitulado de “truth” (“verdade”), as descrições vão sendo alteradas, e a perspectiva sobre as imagens é obrigatoriamente alvo de outra interpretação por quem as vê. “Truth is about perspective”, um tema abordado na nossa entrevista a Steven Wilson.
Há um ano, o começo era ligeiramente diferente. “To The Bone”, música que dá nome ao álbum, não é mais a de abertura, mantendo-se o resto do alinhamento inicial inalterado, inclusive a projecção de Ninet Tayeb na tela e a sua voz a acompanhar Steven durante “Pariah”, um dos hits do álbum. O “prog pop” que dividiu a crítica é bem aceite pelos fãs mais ou menos recentes do cantor, mas é com “Home Invasion” e “Regret #9” que Steven conquista o público que o ouve, até que “The Creator as a Mastertape”, música dos Porcupine Tree, irrompe nos primeiros acordes trazendo um sentimento de nostalgia dos fãs do prog rock e de composições complexas que Porcupine nos trazia.
A pausa, que se mostra uma boa opção num concerto de tamanha duração (quase três horas), é interrompida por “No Twilight Within the Courts of the Sun”, uma escolha interessante e surpreendente, pois há um ano tinha sido com “Arriving Somewhere But Not Here”, também ela dos Porcupine Tree, e portanto uma música aguardada. Esta segunda parte do concerto traz ainda mais diálogo e interação com o público. Primeiro, Steven revela-nos mais uma vez o seu amor pela música pop, por Prince – que ele considera um dos grandes génios da música -, ou ABBA. Música que foi ouvindo na sua infância e pela qual sempre ganhou adoração. O mote necessário para pedir que a plateia saltasse e dançasse ao som da “Permanating” e os seus laivos de “Mamma Mia”, histórica música do grupo sueco ABBA.
Já no final, e após uma dissertação sobre a importância da guitarra eléctrica na construção e composição musical, estavam ainda guardadas algumas surpresas como “Blackfield”, música que deu nome a outro dos projectos músicais de Steven Wilson e “Sign o’ The Times”, uma cover do herói musical Prince. Para o final estava reservada uma reedição do final de há um ano com a “The Raven That Refused To Sing”, apresentado em jeito de brincadeira por Steven Wilson como um momento de tristeza e melancolia que os seus fãs nunca rejeitam. É porventura na tristeza que as nossas emoções estão mais à flor da pele, e é assim que Steven e os seus fãs também se querem despedir.
Com To The Bone, Steven Wilson desafiou-se, e ao desafiar-se, desafiou também os fãs. O resultado maravilhou a Sala Tejo, ainda mais do que há um ano. Afinal devemos voltar onde já fomos felizes.