O primeiro passo para uma Universidade ecológica
O nosso quotidiano pode forçar-nos a decisões e ações que, tomando o tempo para as pensar e refletir friamente, nos sobreviriam sem devaneios como sendo erradas. Por vezes tomamo-las por conveniência, por hábito ou simplesmente por ignorância. É importante aceitar o fardo da responsabilidade pelas nossas escolhas mas, mais do que isso, a humildade de saber reconhecer os nossos erros e a disposição para alterar os nossos costumes no sentido de os ultrapassar devem ser imperativos nas nossas vidas.
“Bad times have a scientific value. These are occasions a good learner would not miss.”, palavras do escritor, filósofo e poeta Ralph Waldo Emerson.
Não é notícia para ninguém que o mundo está a mudar. A existência das alterações climáticas é ponto assente e o seu efeito no mundo tenderá apenas a crescer em intensidade nos anos vindouros. Chegou a altura de fazermos algo quanto a isso. Chegou a altura de olharmos para lá do conforto ludibrio em que vivemos e de encararmos de frente o desgaste ambiental na sua senda. Chegou a altura de realizarmos o ideal que queremos ver no mundo e que o mundo precisa tão desesperadamente de ver em nós. O caminho da mudança é sempre longo e sinuoso mas percorre-se caminhando, e qualquer jornada começa com o primeiro passo. Hoje venho apelar apenas a isso: a darmos, enquanto faculdade, o nosso primeiro passo.
O Instituto Superior Técnico alberga mais de 12000 pessoas, entre alunos e docentes. É lamentável a quase total ausência de ecopontos nesta instituição centenária que sempre primou pela atitude progressiva e pelo pensamento crítico de vanguarda. Chegou a altura de alterarmos este paradigma: há que instalar mais pontos de reciclagem na nossa faculdade.
Mas mais até do que reciclar, é necessário eliminar o desperdício de recursos. É tão agradável poder comprar água engarrafada numa das inúmeras máquinas de venda automática do campus, em vez de beber água da torneira, e é tão cómodo tomar café todas as manhãs em copos descartáveis, em vez de trazer um copo reutilizável de casa. Porém, há que olhar para além das aparências e ver a essência dos grandes efeitos que as nossas pequenas ações têm no mundo: a disponibilidade de todos estes confortos está de tal modo embrenhada no nosso âmago que nos tornámos insensíveis à sua presença, tomando-a por banalidade; na verdade, a sua produção requer um gigantesco consumo de plástico e de papel, bem como a desflorestação e o uso de combustíveis fósseis que à exploração destes materiais estão associados e o dano ambiental que deles advém.
Assinando a petição pela instalação de ecopontos e pela eliminação de produtos descartáveis no Instituto Superior Técnico podemos lançar a nossa faculdade no caminho da mudança e do progresso. Estas medidas estão longe de ser decisivas para o destino do planeta, mas podem ser o primeiro passo de uma longa jornada, sendo evidente que não serão o último. O futuro que nos espera trará com ele, certamente, tempos difíceis a nível ambiental; no entanto, parafraseando as palavras do poeta Ralph Waldo Emerson que dão abertura a este texto, os tempos maus constituem oportunidades que um bom aluno não desperdiçaria. Façamos, então, jus ao renome da nossa faculdade mostrando a todos que o que a alimenta é exatamente a qualidade dos seus alunos e tornemos os problemas que ameaçam o nosso planeta numa oportunidade de superação e melhoramento pessoais; aceitemos a responsabilidade de dar ao mundo o melhor da nossa geração e de deixar nele uma marca positiva; demos juntos o primeiro passo desta longa caminhada em direção a um futuro melhor.
NOTA: só os alunos do Instituto Superior Técnico é que podem assinar a petição, já que é obrigatório indicar o número de aluno. Ainda assim, agradecemos a todos os que ajudarem a tornar isto um debate na sociedade e a partilharem com mais pessoas.
O texto foi publicado originalmente no jornal do Instituto Superior Técnico, Jornal Diferencial, sendo da autoria do grupo Ambiental IST.