Já se conhece a programação do Festival de Teatro de Almada. Bob Wilson e Isabelle Huppert são os dois grandes destaques
O Festival de Teatro de Almada realiza-se de quinta 4 de Julho a quinta 18 de Julho, com uma programação de origem maioritariamente europeia mas que inclui também artistas da América latina e de África. 14 espaços (11 em Almada, 3 em Lisboa e 1 em Cascais) abrem-se para acolher 38 espectáculos de teatro, dança e música.
Voluntariamente ecléctica, esta 36.ª edição do Festival reflecte realidades e preocupações do século XX que se têm prolongado e agravado neste século XXI, propondo diferentes olhares sobre temas candentes dos nossos dias: a desestruturação social, a desigualdade, a emigração, o exílio, as questões de género, a indiferença, o medo, a ascensão dos regimes políticos autoritários.
Espectáculos
Bob Wilson e Isabelle Huppert no Festival
Mary Said What She Said (Mary disse o que disse), com texto de Darryl Pinckney e música de Ludovico Einaudi, numa encenação de Robert Wilson com a grande actriz Isabelle Huppert, é um dos mais importantes espectáculos da programação deste ano do Festival de Almada. Mary Said What She Said estreou no dia 22 de Maio no Espaço Cardin, em Paris, numa produção do Théâtre de La Ville. Depois de se apresentar no Festival de Viena (Áustria), e de voltar a Paris até ao dia 6 de Julho, o espectáculo apresenta-se nos dias 12 e 13 de Julho no Festival de Almada.
Outras novidades – e também alguns regressos
Há outras novidades este ano: a estreia em Portugal do Sardegna Teatro, com Macbettu, um Macbeth em língua sarda que em 2017 foi distinguido em Itália como Espectáculo do Ano pela Associazione Nazionale dei Critici di Teatro e pelos prestigiados Prémios Ubu; a vinda da encenadora francesa Célie Pauthe, que dirige duas actrizes de amplo currículo: Bulle Ogier e Maria de Medeiros; a apresentação do espectáculo-ritual de Phia Ménard e Jean-Luc Beaujault (Saison Sèche); uma outra proposta coreográfica, pelo congolês Andréya Ouamba, com encenação da francesa Catherine Boskowitz; e ainda uma celebração teatral sobre a arte do flamenco, coreografada e dançada pelo grande bailador espanhol Fran Spinosa.
Da Argentina trazemos ao Festival Un poyo rojo (Uma luta de galos), espectáculo de teatro físico, na fronteira com a dança, e País clandestino, uma produção transnacional que envolve criadores não apenas da Argentina mas também do Uruguai, do Brasil, de Espanha e de França.
As estreias e a presença portuguesa no Festival
A Companhia de Teatro de Almada estreia, numa encenação de Rogério de Carvalho, Se isto é um homem, uma adaptação de um dos mais tocantes testemunhos de um sobrevivente do Holocausto: Primo Levi. Estrear-se-ão também os espectáculos O Sonho, de Strindberg, com encenação de Carlos Avilez, pelo Teatro Experimental de Cascais, numa co-produção com a Escola Profissional de Teatro de Cascais, e ainda As três sozinhas, uma criação de Anabela Almeida, Cláudia Gaiolas e Sílvia Filipe.
Também no âmbito da presença portuguesa no Festival, vamos acolher as novíssimas companhias Teatro da Cidade e Sul – Associação cultural, esta última apresentando-se com A Boda de Bertolt Brecht, autor também do texto do espectáculo encenado por António Pires (Terror e Miséria), para o Teatro do Bairro. Marco Martins concebeu e encenou Provisional Figures, um trabalho de teatro comunitário criado na costa Leste de Inglaterra com a participação de emigrantes portugueses.
Contamos ainda com a presença do Teatro dos Aloés (com Lovers – Vencedores, do grande dramaturgo irlandês Brian Friel) e do Teatro Meridional (com Feira Dell’Arte, de Mário Botequilha, que encerrará o Festival).
A Companhia Nacional de Bailado apresentará nos dois últimos dias do Festival coreografias de João Penalva e Rui Lopes Graça.
Grandes produções de teatro de rua
A Praça São João Baptista, em pleno centro de Almada, será animada com dois espectáculos de rua, ambos chegados de Espanha: La Partida (daperformer catalã Vero Cendoya) e Fahrenheit Ara Pacis, uma grande produção da Companhia Xarxa Teatre.
A Noite das Crianças: “Eu também vou ao Festival!”
Trata-se de um convite aos espectadores para que tragam os seus filhos e netos ao Festival de Almada e se divirtam com eles. Para uns e outros programámos Porque voa o tempo?, de Nuno Cintrão, um espectáculo musical interactivo.
Actos Completamentares
Pensamento, debate, exposições, convívio e animação
Como é já tradição no Festival de Almada, uma programação extra-espectáculos oferece um conjunto diversificado de acontecimentos que dialogam com o que se passa nos palcos.
No que designámos por Ciclo Primo Levi (de quem se comemora este ano o centenário do nascimento), e a propósito da estreia de Se isto é um homem, os Encontros da Cerca reúnem-se em torno da herança testemunhal do escritor italiano. Com o apoio do Instituto Italiano de Cultura, contará com a presença de Esther Mucznik, Martina Mengoni, Giovanni Tesio, António Martins e Ricardo Presumido, especialistas na memória do Holocausto. Conta com a colaboração da Memoshoá. Ainda integrado neste ciclo, será exibido um filme no Instituto Italiano de Cultura, em Lisboa.
Também na Casa da Cerca, terá lugar o 3.º Encontro Internacional de Teatros da América Latina, com participantes vindos do Brasil, do Chile, de Espanha, do México e de Portugal.
Como é habitual, na Esplanada da Escola D. António da Costa haverá quase diariamente colóquios com os artistas participantes no Festival (realizados com a colaboração da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro) e, à hora do jantar e depois dos espectáculos no Palco Grande, os espectadores que ali decidam fazer uma refeição, ou deixar-se ficar até um pouco mais tarde, poderão usufruir de uma programação de espectáculos musicais ao ar livre: os já famosos concertos da Música na Esplanada.
“O Teatro faz a festa: o Festival Internacional de Teatro de Almada (1984-2018)”, tese de Rita Henriques com prefácio de Carlos Vargas, numa edição da Companhia de Teatro de Almada, será lançada no âmbito do Festival.
O Sentido dos Mestres, curso de formação que conhece este ano a sua 6.ª edição, estará a cargo de Hajo Schüler, da Companhia alemã Familie Flöz, versando sobre a actuação com máscara.
Como sempre, as exposições marcam a agenda do Festival de Almada: duas sobre a figura homenageada este ano, e, na Casa da Cerca, Zoo de Luís Lázaro Matos, o artista que assina a imagem do Festival deste ano.
Homenagem
O homenageado deste ano do Festival de Almada é Carlos Avilez, fundador do Teatro Experimental de Cascais e da Escola Profissional de Teatro de Cascais, ex-director do Teatro Nacional D. Maria II, que começou a sua carreira como actor na Companhia de Rey Colaço-Robles Monteiro, dirigido por Francisco Ribeiro (o Ribeirinho).
O preço das Assinaturas para todos os espectáculos do Festival é este ano de 75 euros para o público em geral e de 60 euros para os membros do Clube de Amigos do Teatro Municipal Joaquim Benite.