Quatro novas exposições celebram os três anos do MAAT

por Conteúdo Patrocinado,    2 Outubro, 2019
Quatro novas exposições celebram os três anos do MAAT
MAAT

A artista Angela Bulloch apresenta a sua primeira grande instalação em Portugal; “Ama Como a Estrada Começa, da dupla João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira, apropria-se do título de um poema de Mário Cesariny e retoma pesquisas contemporâneas sobre as sexualidades dissidentes e identidades de género não normativas; a Central Tejo recebe a 5.ª edição da Trienal de Arquitetura de Lisboa que, neste ano, tem como tema A Poética da Razão; e o artista português Vasco Barata apresenta um novo projeto na sala do Cinzeiro 8.

Nos dias 4, 5 e 6 de outubro, o MAAT abre as suas portas à cidade para comemorar o terceiro aniversário do museu. O programa especial inclui dois concertos de The Legendary Tigerman, performances de Alice Joana Gonçalves com Daddy G. (Massive Attack) e de Isabel Costa, festival de curtas metragens de arquitetura, oficinas para crianças, visitas guiadas às exposições e ainda uma edição especial do Somersby OutJazz.

Angela Bulloch
“Anima Vectorias”
Curadoria: Inês Grosso e João Ribas

Angela Bulloch emerge no final dos anos 80 do grupo dos Young British Artists [Jovens Artistas Britânicos], ou YBAs, que frequentavam o Goldsmith College, em Londres. Desde então, a artista tem vindo a trabalhar com diversos suportes para abordar a relação do nosso comportamento e perceção com sistemas, espaços e abstrações. A expor regularmente em Portugal há mais de uma década, Bulloch foi convidada pelo MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia para encerrar o ciclo de exposições do programa do museu para este ano. ‘Anima Vectorias’, a primeira grande exposição da artista num museu nacional, apresenta facetas da sua longa pesquisa e projeto colaborativo nos domínios da música experimental, escultura, computação e composição digital. Bulloch utiliza novas tecnologias digitais e de modelação visual para criar uma série de trabalhos nos quais explora as distinções difusas entre o físico, o digital e o virtual. ‘Anima Vectorias’ é uma experiência imersiva e multissensorial que convida o espectador a participar numa série de momentos nos quais vários objetos, arquétipos, sons, geometrias e avatares coexistem e interagem — como sombras, duplos e imagens especulares.

Bulloch desafia e examina as estruturas que definem o comportamento social, numa prática conceptual muito marcada. É possível perceber o seu fascínio por sistemas, padrões e regras, um território entre a matemática e a estética, com algumas alusões à sua herança minimalista. João Ribas, que partilha a curadoria da exposição com Inês Grosso, explica a simultânea simplicidade e complexidade inerentes ao trabalho de Bulloch: «a experiência de cada escultura vai-se alterando à medida que nos movemos em seu redor, a sua geometria alternando entre a pilha modular e o poliedro irregular. Cada escultura parece mudar, deformar-se e reconstituir-se enquanto nos movemos pelo espaço, mudando de cor e de forma, com as variações de luz a alterar a sua superfície. O corpo do espectador em movimento também altera a forma redonda e luminosa de Interpassive Spotlight (2019), um trabalho que dá continuidade ao interesse de Bulloch pelos códigos sociais, regras de conduta formais e informais, e formas passivas de interatividade.»

Utilizando novas tecnologias digitais de representação 3D, animação e modelação virtual, o projeto compreende um conjunto de novos trabalhos em vídeo, integrando múltiplas projeções, animações 3D, avatares e dispositivos de realidade virtual. A instalação inclui ainda algumas peças icónicas da artista, como as suas geométricas stacked columns e wall paintings, além de trabalhos associados a conceitos de cibernética, interatividade, simulação e imersividade.

Na tradição das intervenções anteriormente apresentadas na Galeria Oval, Bulloch traz a este espaço uma proposta singular de integração de novas tecnologias digitais na arte contemporânea. «Este projeto revela a impressionante habilidade de Angela Bulloch de desestabilizar a perceção do espectador, num exercício que transforma e reconfigura aquele que se tornou num dos espaços mais icónicos do novo edifício do MAAT.» Inês Grosso.

João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira
“Ama Como a Estrada Começa”
Curadoria: Inês Grosso

A exposição de João Pedro Vale & Nuno Alexandre Ferreira parte de uma investigação realizada em Paris, na residência artística La cité internationale des arts, e toma como título um poema de Mário Cesariny, cuja vida e obra serviram de mote para o desenvolvimento do projeto.

No dia 16 de setembro de 1964, Mário Cesariny dá entrada na prisão de Fresnes, em França, acusado de atentado ao pudor, depois de ser preso a tentar engatar um polícia num cinema em Paris. É durante a sua estadia de dois meses na prisão que escreve o livro A Cidade Queimada, livro de poemas, desenhos, colagens e textos diarísticos onde fala sobre a sua relação de fascínio com a Torre de Saint Jacques.

Durante a sua residência em Paris, João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira começam a tentar um perceber qual o motivo de fascínio do poeta pela Torre de Saint Jacques – cada do livro A Cidade Queimada e qual a relação do poeta com a cidade de Paris, quando descobrem o episódio da sua prisão. Este episódio biográfico de Cesariny leva ao desenvolvimento de um projeto inédito pensado especificamente para a Project Room do MAAT, que se assume como uma reflexão sobre espaços de controlo e dissidência dos corpos.

A escultura é composta por uma estrutura de dois andares, como se fosse um edifício de rés-do-chão e cave que foi arrancado do seu local de origem e transportado para o espaço da exposição. A estrutura funciona como uma descoberta arqueológica e aciona um conjunto de leituras ao ser percorrido.

Os artistas justapõem uma amálgama de referências antagónicas que invocam imagens de impureza e higienização, doença e cura, crime e castigo, associando estruturas de encarceramento e vivências relegadas à clandestinidade. O espaço é uma mistura entre sex-club, prisão, balneário, lavadouro, sauna, numa referência, quer ao espaço da prisão de Cesariny em Fresnes, quer a possíveis espaços de engate que estão na origem deste tipo de condenação por atentado ao pudor público. A exposição alude a ambientes que marcam a existência e o imaginário queer e equaciona a perpetuação e reconfiguração de formas de aprisionamento e apropriação.

A peça será ativada durante o período da exposição por dois performers (Duarte Pinho e Melo e Guilherme Leal) que seguirão a coreografia desenvolvida por João dos Santos Martins.

A peça pode também ser completada e ativada pelo público que pode colocar cadeados (como na Pont des Arts); atirar moedas para a fonte central ou atar fitas do Bonfim.

Trabalhando em colaboração desde 2004, João Pedro Vale & Nuno Alexandre Ferreira são a primeira dupla de artistas a expor neste espaço do MAAT.

“Economia de Meios”
Trienal de Arquitetura de Lisboa
Curadoria: Éric Lapierre

Economia de Meios’ sugere o desafio de usar apenas um meio para múltiplos fins, investigando o que faz desta abordagem uma marca e uma pré-condição para uma arquitetura racional. É uma verdade universalmente reconhecida que todos os tipos de recursos devem ser usados com maior consciência e cuidado, situação que o século XXI tornou mais premente. Ao reduzir os meios – materiais, económicos e conceptuais – a que recorrem num projeto, os arquitetos exploram os limites e a definição da própria arquitetura. Na disciplina, isso pode significar um material, um espaço, uma forma ou um processo.

A exposição propõe uma tipologia das formas pelas quais a economia de meios se exerceu até agora, e questiona as diversas formas através das quais ela se poderia exercer hoje. Através de exemplos contemporâneos e históricos, esta exposição multissensorial explora as formas inovadoras que guiam os autores rumo a soluções não só mais responsáveis, éticas e sustentáveis, como mais belas para os desafios locais e globais. Esta exposição integra a 5.ª edição da Trienal de Arquitetura de Lisboa, que tem por título A Poética da Razão.

Concebida através de exemplos tanto contemporâneos como históricos, esta exposição multissensorial explora as formas inovadoras pelas quais os autores são guiados para soluções mais responsáveis, éticas, sustentáveis, mas também mais belas, para desafios locais e globais, bem como interseções entre arquitetura e outras artes visuais, música e gastronomia.

Vasco Barata
“Dreamers Never Learn”
Curadoria: Carolina Grau

Vasco Barata tem-se dedicado a explorar os interstícios da imagem e o espaço entre visível e invisível, ou o material e o imaterial. Neste projeto, o artista transforma o espaço expositivo numa instalação com um cenário urbano em estado de semiabandono, no qual os visitantes mergulham. Fisicamente «ocupado», o espaço mostra também o que fica quando a maré recua.

‘Dreamers never learn (tidal)’ procura refletir o espaço livre temporário que fica desobstruído entre o fluxo e o refluxo das marés económicas. Durante a crise económica e financeira, a sociedade europeia viu-se forçada a entrar num permanente «modo de sobrevivência». Os investidores estrangeiros aproveitaram para inundar o mercado imobiliário e aumentar a especulação, agarrando a oportunidade de lucrar com o negócio. Os ciclos constantes das marés revelam um espaço livre, criando novas e efémeras fronteiras. Tais fronteiras geram oportunidades não só para as vagas humanas de imigrantes à procura de um novo começo, como para os investidores que, governados pelo capitalismo, procuram fazer negócio.

O espaço especulativo estaria num ciclo permanente entre marés altas e baixas, sempre em movimento, criando novas oportunidades. Tudo arriscaria perder-se, mas o espaço transforma-se com o início de um novo ciclo. Os «sonhadores» são aqueles que optam por permanecer fora do mercado económico. E estes «sonhadores» facilmente se veriam eternamente agrilhoados aos padrões do ciclo, repetidos até ao infinito. Como diz Barata: «[…] e o espaço está a encolher, mas… os sonhadores nunca aprendem».

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