Azeméis Seasons Sounds lança série documental com Bartolomeu Gusmão e os First Breath After Coma
O Azeméis Seasons Sounds, festival de música e arte, está de regresso!
Foi na quarta edição que se encerrou um ciclo de estações, as quais contaram com os mais variados nomes do mundo da música portuguesa, como: Luís Severo; Noiserv; B Fachada; Janeiro; You Can’t Win, Charlie Brown; entre outros. Todos eles sempre acompanhados por uma vertente artística, proporcionando momentos únicos, que já soma diversas performances, exposições e projeções audiovisuais.
Como a falta de ritmo lhe é desconhecida, desta vez o festival surge de uma forma reinventada e segura, para fazer frente às circunstâncias atuais. Durante uma semana vão ser lançados três episódios de uma série documental que incluirá entrevistas exclusivas e uma live session. Do lado artístico apresentam Bartolomeu Gusmão, e do musical First Breath After Coma.
No primeiro episódio, que fica disponível já hoje, é possível encontrar a primeira parte da entrevista feita aos elementos dos FBAC e assistir à atuação com músicas do seu último álbum de estúdio, NU, tais como: “The Upsetters”; “Howling For a Chance”; e “Please, Don’t Leave”.
A banda First Breath After Coma é constituída por João Marques, Pedro Marques, Roberto Caetano, Rui Gaspar e Telmo Soares. Atualmente somam quatro álbuns, presença em diversos festivais nacionais como NOS Primavera Sound e Vodafone Paredes de Coura e ainda várias digressões internacionais.
Aqui fica um breve registo do que vão puder encontrar na entrevista que decorre ao longo de dois episódios:
Em primeiro lugar, como é que se conheceram e daí parte a ideia de se juntarem e formarem uma banda?
Telmo: Nós conhecemo-nos porque andávamos na mesma escola. Nós quando começámos a tocar tínhamos 13, 14 anos e a única razão que havia para querermos tocar era porque cada um de nós estava a aprender um instrumento. Guitarra o meu caso e o do Rui e o Pedro estava a aprender a tocar bateria. Pronto, e gostávamos de ouvir música e de tocar música.
Este início de banda de covers, era apenas uma “brincadeira” como forma de lazer e, entretanto, foram crescendo de forma orgânica, ou sempre tiveram presente o objetivo de se tornarem uma banda profissional?
Telmo: As covers eram só porque é onde se começa. Nessa altura ainda não temos sequer a cabeça programada para começar a fazer música, por isso pronto começámos nas covers. Não houve assim uma razão muito específica sem ser garotos que querem fazer barulho e tocar. Na altura ouvíamos bué … grunge, ouvíamos nirvana, e depois também tocávamos cenas mais… (risos de todos) Não me quero alargar na…
Pedro: Ya, é melhor não.
Telmo: E depois tocávamos cenas tipo Strokes, Arctic Monkeys e Joy Division um bocado mais tarde. Basicamente era o que gostávamos de ouvir na altura e dava pica para tocar. Epah, podia haver aquele sonho de garotos de querer um dia ser uma rock star, mas não havia nenhum objetivo, basicamente era…
Pedro: Fazer barulho quando começámos a tocar.
Rui: Ainda não somos bem uma banda profissional.
Telmo: Sim, nem hoje.
Pedro: Quando começas a tocar não pensas nisso, é só queres tocar porque queres tocar e tocas porque queres tocar.
Telmo: Sim, não havia nenhum propósito.
A eleição de um nome para a banda é também um marco importante, e no vosso caso em particular, devem ser constantemente questionados, visto que se trata de um título de uma música dos Explosions in the Sky. Como é que este surgiu e de que forma é que vos influenciou e definiu enquanto banda?
Roberto: Nós nunca pensámos assim “Olha vamos pôr este nome porque idolatramos Explosions in the Sky”, nunca foi esse o objetivo. Eu acho que esse nome marcou um bocado uma transição de criação musical quando passámos de covers para querermos os nossos originais. Houve ali um processo que não correu muito bem, umas sei lá, eram ali 5 ou 6 músicas que tínhamos, um EP. Mandámos aquilo fora porque estava muito colado àquilo que nós ouvíamos e tocávamos nos covers. E foi quando tivemos parados, ali um processo em que tivemos em coma, se podemos fazer assim a associação, que começou a surgir os nossos primeiros originais, que todos gostássemos, não é? Depois de alargarmos horizontes em que o post rock foi se calhar a primeira chapada que levámos de algo que estávamos, sei lá, que não ouvíamos tão regularmente. E o facto de metermos First Breath After Coma, que é o primeiro respiro depois desta situação embaraçosa para uma banda que epah deixa-nos deprimidos e muitas vezes frustrados. Então, mais do que ser uma música de Explosions in the Sky, era uma citação que fazia sentido naquela altura.
Ainda falando em evolução e tendo em mente o caminho que ainda tencionam percorrer, é possível definir a fase em que se encontram atualmente?
Telmo: Quando fazemos um álbum novo temos um propósito para o álbum, temos um objetivo. Mas depois há sempre uma fase, por exemplo, nós agora estamos numa fase num limbo. Porque acabámos o último álbum, tivemos aqui um ano e pouco a promover o álbum e, entretanto, ainda por cima surgiu esta situação toda e acabámos por voltar àquela estaca quase zero. Não é estaca zero porque já há um percurso de álbuns anteriores, mas voltámos aqui a um momento em que temos que voltar a repensar qual é a nossa sonoridade e o que nós queremos fazer no próximo álbum e começar a reunir e a ensaiar. Por isso acho que acaba sempre por dar a volta, há sempre um momento de objetivos de “Ok, este álbum tem que chegar aqui, bora tentar internacionalizar desta vez, bora fazer uma tour grande lá fora”. E depois quando acaba a fase de promoção do álbum voltamos outra vez a casa, tipo, ao por detrás da camara, por assim dizer, voltamos outra vez ao behind the scenes e estamos só a tentar perceber por onde é que vamos e o que é que queremos fazer porque neste momento é nesse limbo que nós nos encontramos. Não é uma fase muito agradável porque estamos meio perdidos mas faz parte.
Rui: Ou seja, se não houvesse pandemia acho que devíamos estar mais ou menos por aqui na mesma.
Pedro: Mas pode intensificar um bocado.
Rui: Mas claro
Pedro: Pode intensificar
Telmo: Acho que não intensificou. Criou uma expectativa de que…
Pedro: Que foi abaixo.
Telmo: … estando nós com mais tempo e cada um em sua casa e com acesso a instrumentos à mesma, que a coisa ia fluir e não fluiu, foi igualzinho a todos os outros álbuns. Ou seja, pode vir a pandemia, o mundo pode estar do avesso que nós é igual, nós funcionamos assim por: nós vamos lá cima tipo “Álbum novo musicas novas, bora lá” e depois vimos mesmo abaixo tipo ao zero, ao fundo do poço, até nos tentarmos reconstruir. Nós não é uma coisa assim muito linear, é muito de picos. Por isso a pandemia veio só criar uma expetativa de que “Olha boa, chegámos a uma fase de fazer um novo álbum e estamos cheios de tempo”. Mas não, isso não aconteceu nada, não foi por isso que fizemos mais músicas nem que criamos mais.
Falemos sobre o vosso último álbum. Estiveram em residência artística na qual a reabilitaram e viveram durante seis meses e construíram o NU, que conta com áudio e filme. Esta residência apareceu como uma necessidade criativa do grupo, onde procuraram este isolamento para compor? Ou a oportunidade surgiu por outras razões e decidiram que era o momento ideal para trabalharem num novo álbum?
Roberto: Nós já nos conhecíamos à uma porrada de anos e já tínhamos partilhado tours e concertos só que é uma dinâmica completamente diferente viver numa casa que nunca tinha acontecido. Cada um tinha o seu espacinho. Mas mesmo assim há coisas novas que tivemos de aprender uns dos outros, como eu chegar atrasado ao ensaio, como o Telmo não lavar a loiça, como o Pedro não dormir aqui e ir dormir a casa porque mora a 100 metros.
Pedro: Lá está, a cena é que nós estamos na nossa cidade.
Telmo: A partir do momento em que nós estamos, aprendemos a lidar uns com os outros… há aqui uma coisa que é um bocadinho à parte disso que é: nós desde o primeiro álbum que temos ensaios intensivos. Ou seja, nós sempre tivemos uma, aliás, até se tem vindo a transformar, já não é tanto assim. Mas nós nos primeiros dois álbuns passávamos horas e horas e horas e horas enfiados em quatro paredes minúsculas, a aturar-nos uns aos outros. E depois, como somos muito amigos fora disso, acabámos por: acabava o ensaio e nós “O que é que vamos fazer?” “Olha vamos jantar aí a um sítio qualquer e ficamos aqui só a conversar”. Ou seja, passávamos tanto tempo juntos que acabámos a saber lidar uns com os outros. Eu sinto que depois de tanta horas e horas, milhares de horas de ensaios e depois de aprendermos a conviver dentro duma carrinha nessas tais digressões, eu acho que viver na casa não foi assim um desafio tão grande. As pessoas perguntam-nos porque têm curiosidade tipo “Como é que é viver em…” mas não…
Rui: A única diferença era que dormíamos na mesma casa porque de resto o dia- a-dia…
Telmo: Era igual.
Pedro: A nossa cidade, a nossa terra, tudo igual.
Roberto: Eu acho que ainda o mais curioso foi o processo criativo em si em que nós estávamos todos a viver aqui, ou seja, ao mesmo tempo de sair da casa e entrar na sala de ensaios e conhecemos que há dinâmicas diferentes. Há uns que gostam mais de manhã, outros que gostam mais à tarde, outros que gostam mais à noite… e foi muito raro encontrarmo-nos todos num processo inicial de experimentação de instrumentos. Encontrarmo-nos todos, os cinco ao mesmo tempo na sala de ensaios. E isso foi o processo criativo dos primeiros dois álbuns e aqui, em contrapartida, estarmos a viver mesmo colados todos ao mesmo tempo colados à sala de ensaios percebemos que isso foi acontecendo naturalmente.
Para assistirem à entrevista completa e à performance das músicas “The Upsetters”, “Howling For a Chance”, “Please, Don’t Leave”, “Change”, “Heavy” e “Feathers and Wax”, podem fazê-lo através do IGTV ou perfil do Facebook do Azeméis Seasons Sounds.