Como discutir melhor na era da pós-verdade (ou não)
“A man convinced against his own will is of the same opinion still.”
Dale Carnegie
Steve Tesich escreveu em 1992, referindo-se à população americana, que “como um povo livre, decidimos livremente que queremos viver em algum tipo de estado de pós-verdade.” A história registou este termo há 20 anos, mas só agora ele entra no imaginário popular. Se hoje vivemos num estado de pós-verdade, onde estão os registos desse período áureo em que a verdade reinava?
Falar do diálogo que impera na arena pública é uma missão complexa. Envolve um hábil equilíbrio sob um ténue fio, facilmente quebrado pelo uso da palavra errada ou de uma hashtag que não se adequa. Em “Mr. Rogers and the Power of Persuasion”, Will Schoder consegue manter esse equilíbrio, sem nunca pôr o pé em falso.
Ao longo de curtíssimos 20 minutos, o vídeo ensaísta viaja pela história da filosofia até ao famoso discurso de Fred Rogers ao Senado, em que o apresentador de programas infantis defendia o orçamento para a programação da PBS. Ao desconstruir este brilhante exemplo de um diálogo público, Schoder elogia estratégias discursivas que se perderam algures pelo caminho.
Sem apontar o dedo às partes responsáveis, Schoder dá pistas de um problema que reside na intransigência, de lado a lado. Da parte de quem se insere num lado tão completamente, que chega a fingir que é dor que sente, quando o seu lado é desafiado. Factos não convencem agora, mas quando é que convenceram? Não é a bula que leva o paciente a usar um medicamento, mas a voz de um médico, que melhor convencerá se for de família.
Os grandes oradores da história eram exímios no apelo às emoções. Apelavam às emoções para, idealmente com factos, convencer os ouvintes heterogéneos do mérito do seu discurso. Em 2017, as maiores mentes da minha geração usam o seu talento para insultar trolls no Twitter, envergonham apoiantes de políticos no Facebook e apontam o dedo aos malfadados consumidores de carne, incapazes de ver a razão, e aderir à solução final: o Veganismo.
O estado que vivemos não é de pós-verdade, porque nunca foi de verdade. Foi, sim, de menor antagonismo e maior empatia, de emoções positivas que, aliadas à verdade, persuadiam sem alienar. Will Schoder dá-nos o exemplo de Mister Rogers, que convence um rival a lutar a sua luta, lado a lado, e explica-nos como nós podemos fazer o mesmo, passo a passo, à nossa maneira.