Eduardo Souto de Moura, do Porto para o mundo
Eduardo Souto de Moura é um dos nomes grandes da edificação portuguesa. Portuense de gema, foram várias as obras arquitetadas e compostas tanto no seu país como no resto da Europa. Com pendor essencialmente voltado para a civilização, as suas criações prevalecem como cabeçalho da sua vida e é avistado de vários locais do mundo, tal como expressa o seu pecúlio de condecorações. Souto Moura assume, de uma forma prática mas útil, a folha de rosto da arquitetura lusa, ao lado de Tomás Taveira e de Álvaro Siza Vieira. Do Porto para o mundo, eis Eduardo Souto de Moura.
O arquiteto nasceu a 25 de julho de 1952 na cidade invicta, filho de José Alberto Souto de Moura e de Maria Teresa Ramos Machado, contando também com dois irmãos. No ingresso no Ensino Superior, o portuense cursou inicialmente escultura mas foi súbita a sua mudança para a área que lhe providenciaria maior êxito e realização, após privar com o artista norte-americano Donald Judd. Souto de Moura fez, assim, parte de uma das principais escolas da arquitetura europeia, sendo ela a Escola do Porto. Esta, assente nos ideais modernistas, simplistas e concisos, abriu as portas à inovação criativa dos talentos da cidade e pôs a tónica no potencial da atuação dos mesmos num âmbito social e utilitário. Após licenciar-se na Escola Superior de Belas Artes do Porto, instituição-base do movimento atrás mencionado, tornou-se associado no atelier do emergente compositor de edifícios Álvaro Siza Vieira e encarregou-se de um importante projeto que o iria projetar tanto num nível nacional como internacional. Este consistia no Centro Cultural da Secretaria de Estado da Cultura no Porto e seria arrebatado por concurso pelo emergente artista, projeto esse que demoraria uma década. Este para além de outros que viria a efetuar em paralelo com a formação adicional em urbanismo na qual vinha trabalhando.
Da mesma forma conquistou a possibilidade de conceber um hotel para a cidade austríaca de Salzburgo em 1987, replicando projetos com moldes similares em outros espaços sociais na Alemanha, em Espanha, França, Suíça, etc. Casado com a também arquiteta Maria da Paz Penha Souto de Moura e tendo com ela três filhos, o portuense assumiu um estilo autónomo desvinculado da tutela de Siza Vieira, criando o seu próprio atelier. Como inspiração para as suas produções, Souto de Moura tomou o germano-americano Ludwig Mies van der Rohe como exemplo e foi apologista da horizontalidade das linhas condutoras das suas obras, reportando ao minimalismo e atendendo sobretudo às necessidades do espaço. Esta orientação da sua obra foi levada a cabo com sucesso nessa política pertinente do seu trabalho, assumindo-se não só nas primeiras residências que coordenou mas também nos referenciados espaços sociais. Para além destas influências, também a corrente experimentalista dos anos 50 e 60 encetada por arquitetos californianos (nomes como Craig Ellwood ou Pierre Köning) e teóricos como Roland Barthes e Fernando Pessoa deram um mote complementar ao seu afinco profisisonal.
Outro aspeto interessante da sua conduta artística é o emprego de variados materiais para a construção dos edifícios, tais como o granito, a madeira, o mármore, o tijolo, o aço e o cimento, para além da pouca ortodoxia na aplicação de cores. Contudo, o uso destes materiais via-se condicionado pela visão sustentável e ecológica do luso, não descartando não só a utilização moderada desses materiais mas também o planeamento prévio dos recursos materiais, financeiros e humanos a incluir.
Porém, o paradigma da sua obra foi-se alterando a partir do projeto da Casa em Cascais (2002) e verificou-se na construção do Estádio Municipal de Braga, na qual a dimensão complexa das formas combinada com o minucioso desenho espacial expõem a sustentada novidade. O contraste entre o palco desportivo e a pedreira que ladeia a construção expõe uma nova faceta do trabalho de Souto de Moura, transcendendo as premissas mais lacónicas do seu estilo. Uma linha que se descreveu por vários projetos essencialmente concebidos e implementados a nível distrital, tendo o Porto como habitual sustento para o seu talento. A sua carreira teve como corolário a conquista do Pritzkier em 2011, prémio conotado como o “Nobel da Arquitetura”. Outras honras nacionais incluem as eleições como Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique (1995), Ordem do Mérito (1999) e Ordem Militar do Sant’Iago da Espada (2011).
Como docente, e para além de lecionar na Universidade do Porto, o arquiteto foi convidado para dar aulas na Suíça, nomeadamente em Lausanne e Zurique, assim como em Harvard, nos Estados Unidos. Estes convites viriam a facilitar a troca de impressões pela parte do portuense com outros artistas de nomeada, como o italiano Aldo Rossi e o suíço Jacques Herzog.
Eduardo Souto de Moura é um dos baluartes que sustenta a edificação da arquitetura portuguesa. Neste insigne setor artístico, o portuense apresenta-se como um dos que, bebendo do minimalismo apregoado em terras norte-americanas, tentou unificar a necessidade social à imponência escultural. O seu profícuo repertório tem relação de proporcionalidade com o reconhecimento granjeado nacional e internacionalmente e a sua preponderância física estende-se a todo o continente europeu. Sustentando-se nos preceitos da escola artística da sua cidade, Souto de Moura deu (ainda) mais sociedade à arte. Da comum necessidade para uma hirta verdade. Nesta se apresenta a arquitetura cuja nomenclatura traz este compositor de edifícios em elevada postura. Do Porto para o mundo, eis Eduardo Souto de Moura.