24 livros que podes oferecer no Natal

por Comunidade Cultura e Arte,    21 Dezembro, 2017
24 livros que podes oferecer no Natal

Qualquer altura do ano é boa para oferecer um livro. Em Dezembro, e a somar a isso, temos o Natal que faz com que as pessoas se sintam mais dispostas a oferecer coisas àqueles com quem se relacionam. O problema é que muitas vezes acontecem enormes processos de indecisão quanto ao que podemos oferecer. Aqui na Comunidade Cultura e Arte decidimos apoiar quem precisa de uma ajudinha e recomendamos 24 livros que podem ser bons presentes – para os outros, mas também para ti próprio.

A juntar a estas sugestões vamos oferecer em forma de passatempo um destes livros (é segredo qual deles é) e para ficares habilitado só tens de pôr like e partilhar, de forma pública e através do nosso Facebook/Twitter, este artigo. O vencedor será anunciado até 20 de Dezembro.

A Estranha Ordem das Coisas‘, livro de António Damásio

A apresentação da obra “A Estranha Ordem das Coisas“, editada pela Temas e Debates, decorreu no pavilhão gimnodesportivo da Escola Secundária António Damásio, no dia 31 de outubro, mas não se ficou por uma mera introdução e contextualização daquilo que esta consiste. Contando com a fonte dos seus agradecimentos, Hanna Damásio, fiel companheira, na primeira fila, António Damásio fez uso da sua loquacidade e da eloquência ímpares para abordar uma série de questões que não se confinam à plataforma científica, mas que a convida para a atuação e interação com toda a realidade cultural.

O subtítulo do seu mais recente trabalho ressalva a vida, os sentimentos e as culturas humanas. Da vida, falou de toda a capacidade suprema que o ser humano tem e contém no seu âmago, desde o intelecto até à exemplar estrutura celular que o corpo apresenta, numa dinâmica de autorregulação constante e consistente. O conceito de homeostasia veio para ficar, trazendo, para lá do equilíbrio, todas as ferramentas e mecânicas para o pleno da atividade humana. Para além disso, os desígnios da bactéria, mesmo despojada de um sistema de regulação, surgem como especialmente peculiares, detendo uma espécie de intuição que consegue combater ou impedir uma série de infeções. A dinâmica gregária e solidária destaca-se, desta forma, num panorama biológico e neurocientista. Tudo isto não descura, claro está, o luminoso ambiente, a partir do qual toda a atmosfera interrelacionada se torna povoada. É neste decurso que surgem os sentimentos, elos de ligação para com o mundo, que se estabelecem a partir das célebres emoções, estas recortes das mais pungentes vivências (ler mais)

‘Crónicas de um Vendedor de Sangue’,  livro de Yu Hua

Num mundo de pobres, trabalhadores agrários e operários, o acto de vender do próprio sangue pode ser a diferença entre passar fome ou viver desafogadamente. Quando o dinheiro adquirido através do suor de cada dia não chega para os mais básicos gastos, resta vender um pouco da própria vida para que aqueles que de nós dependem sejam capazes de sobreviver dignamente.

É neste contexto que vive Xu Sanguan, o protagonista de Crónicas de um Vendedor de Sangue, de Yu Hua, título inaugural da série de livros agora criada pela Relógio d’Água, onde, além deste, serão publicados clássicos contemporâneos da literatura chinesa, todos traduzidos a partir da língua original, facto mais que louvável, dada a ausência, não apenas de traduções do original, como mesmo de literatura chinesa, no panorama editorial português (ler mais)

No Inverno‘, livro de Karl Ove Knausgård

Karl Ove Knausgård alcançou fama mundial quando se dispôs a narrar a sua vida, com um registo híbrido entre memória e ficção, num conjunto de livros ao qual deu o nome de A Minha Luta. Com uma totalidade de seis volumes e cerca de três mil páginas – quatro dos volumes estão já publicados em português, pela Relógio d’Água – este projecto chocou o mundo, ou parte dele, pelo menos, pela forma como o norueguês não poupou qualquer detalhe nem ninguém aos seus retratos do quotidiano. Praticamente todos os seus familiares são englobados nessa obra de larga escala, e quase nenhum sai de lá com uma imagem propriamente positiva, como também não sai, aliás, o próprio autor. Mas, se a atenção recaiu sobre ele em parte motivada por esses factores mais escandalosos, o mérito reconhecido foi o da forma meticulosa como o autor descreve episódios do seu quotidiano e da sua vida, uma exploração descritiva ao máximo (ler mais)

Nota sobre a Supressão Geral dos Partidos Políticos‘, livro de Simone Weil

Simone Weil foi, sem dúvida, uma das personalidades mais marcantes do século XX, descrita inclusive por Camus como “o único grande espírito do nosso tempo”. Professora de Filosofia de profissão, foi sobretudo como activista política e humanista que se destacou, juntando a isso a peculiaridade de ter sido uma das poucas activistas de esquerda que, nascida numa família agnóstica, se converteu ao catolicismo, ainda que rejeitando a Igreja Católica como organização. Foi neste contexto, doando parte do seu salário de professora a associações operárias, estando ao lado dos anarquistas na Guerra Civil Espanhola, e chegando até a trabalhar como operária nas fábricas da Renault para melhor compreender a vida das classes baixas (neste caso, dos operários) que acabou por falecer aos 34 anos em Inglaterra, enquanto ajudava a resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial, vítima de uma tuberculose que, tudo indica, terá sido facilitada pela pouca quantidade de alimento que ingeria em solidariedade com os colegas submetidos ao racionamento (ler mais)

As Últimas Testemunhas’, livro de Svetlana Alexievich

Svetlana Alexievich (n. 1948), Prémio Nobel de Literatura 2015, continua a registar a história da União Soviética utilizando as vozes das vítimas. Mais do que uma análise da macroestrutura das condições políticas, ou da exegese biográfica dos protagonistas, a escritora nascida em Minsk dá espaço para as vozes das pessoas se fazerem ouvir. Enquanto o historiador olha para o global, para esses grandes acontecimentos e grandes personagens, Svetlana olha para o pormenor, para o aldeão, para a criança, olha para quem a tragédia foi muito mais do que algo abstracto.
“As Últimas Testemunhas – cem histórias sem infância” (Elsinore; trad. Galina Mitrakhovich) mantém a estrutura de livros como “Vozes de Chernobyl”“Rapazes de Zinco”, ou “A Guerra Não Tem Rosto de Mulher”.
O combate do exército soviético no Afeganistão, entre 1979 e 1989, foi o “leitmotiv” de “Rapazes de Zinco” (ler mais)

Pastoralia‘, livro de George Saunders

A naturalidade com que cumprimos rotinas ou ordens sem nexo é, ela própria, irreal. As horas que demoramos para chegar ao trabalho, o almoço que se come em pé, como fazem os cavalos, aquele inútil cartão de crédito que se tem guardado, pois não se paga anuidades, a aceitação do conselho do colaborador que vende um crédito para não gastarmos as poupanças que perfazem o valor pedido, ou o colega que tem imenso trabalho a fingir que trabalha. São muitas as idiossincrasias que encaramos com normalidade.
“Pastoralia” (Antígona) apresenta essa realidade com um “twist” que nos leva a um plausível mundo alternativo.
George Saunders (Texas, 1958) utiliza a estranheza para sublinhar o ridículo das situações, enquanto mostra um sorriso irónico perante o absurdo. Quem lê vê-se reflectido (ler mais)

Políticas de Inimizade‘, livro de Achille Mbembe

Aos olhos do Ocidente, a história de África (mas também da América) começa com o Colonialismo, a partir do séc. XV, que aos olhos dos colonizadores, era responsável por trazer África (e a América) para o mundo, ignorando os milhões de Homens que já viviam nesses continentes, com a sua própria história, aniquilados, quando não escravizados, pelos colonizadores. Só no século XX, com as Guerras de Libertação Nacional, estes povos subjugados se conseguiram soltar das amarras do colonialismo que, entre outros, tinha trazido a escravatura e a discriminação.

Essa nova independência e liberdade não viria, no entanto, a resolver todos os problemas causados ao longo de cinco séculos, que haviam deixado graves fissuras nos colonizados. Porque, se se pode dizer que a escravatura foi efectivamente abolida e é repudiada pela grande maioria dos ocidentais de hoje, os estragos que causou não foram apagados simplesmente pela mesma ter deixado de ser imposta, já nem referindo os séculos de trabalho forçado que se seguiram. Num mundo pós-colonial, onde os povos colonizados conseguiram finalmente auto-administrar-se através de estados independentes, a memória do que se passou e, mais do que isso, as suas consequências, ainda estão inteiramente presentes quer na vida Ocidental, quer, essencialmente, na dos povos anteriormente colonizados (ler mais)

A Civilização do Espetáculo’, livro de Mario Vargas Llosa

No auge de uma vida literária, académica, cultural, e política vivida, o peruano Mario Vargas Llosacontemplou a atualidade com uma obra de seu título “A Civilização do Espetáculo“, da Quetzal Editores. Llosa nasceu a 28 de março de 1936 na cidade peruana de Arequipa, e sempre se notabilizou por uma profícua carreira académica, na qual foi professor e investigador, para além de dar corpo a uma série de ensaios. A literatura tornou-se num acréscimo ao trabalho laboratorial e formal, que permitiu avistar uma vertente distinta mas colorida da sua personalidade criativa, sem nunca prescindir de se ocupar com os contextos mais problemáticos e indagáveis. Tudo isto não esqueceu, para além de muita filosofia, uma carreira política, tendo-se candidatado à presidência do seu país, embora sem sucesso. A sua experiência de vida tornou-se de tal forma rica, que só conhece par em todo o seu repertório literário, contemplando uma visualização ampla para além das fronteiras do continente sul-americano. O mundo está plasmado nas visões, especulações e teorias de Vargas Llosa, que decidiu, em 2012, caraterizar a nossa civilização como a do espetáculo (ler mais)

Yoro’, livro Marina Perezagua

Lloro por ella. Assim poderia começar “Yoro” (Elsinore), de Marina Perezagua (n.1978, Sevilha). A fonética do nome desta menina aproxima-se da primeira pessoa do verbo Llorar [Chorar].
O testemunho de H, personagem principal deste livro, é um lamento, um choro, por Yoro.
Em 1945, é lançada a bomba atómica sobre Hiroxima. A bomba que desumanizou tinha um nome carinhoso: “little boy”. H., com treze anos, estava na escola, a dezenas de quilómetros do local onde “Enola Gay”, bombardeiro comandado por William Sterling Parsons, gerou destruição. H. sentiu a violência do impacto principalmente no sexo (ler mais)

O Vendido’, livro de Paul Beatty

Sentado no Supremo Tribunal Americano, o personagem Me, um afro-americano criado no gueto de Dickens, cidade fundada com o intuito de ser “livre de chineses, espanhóis de todos os tons, dialetos e chapéus, franceses, ruivos, citadinos e judeus sem qualificações”, acende um charro enquanto espera para ser julgado no que ele considera ser mais um caso racial nos Estados Unidos da América. Me é acusado de esclavagismo (tem um escravo que não quer deixar de ser escravo) e de reinstalação da segregação racial.

O desconcertante início de “O Vendido” (Elsinore) promete o que virá ser cumprido:
Paul Beatty (Los Angeles; 1965) escreveu o romance mais “badass” que o leitor vai ter nas mãos este ano.
É entre juízes, advogados e réus, que Me conta que a sua motivação visava o bem comum. Sem o racismo, a comunidade perdeu a sua dinâmica e as pessoas ficaram “perdidas”. Onde encontrar novas causas e novas bandeiras? (ler mais)

O Simpatizante‘, livro de Viet Thanh Nguyen

Guerra do Vietname, como lhe chamam os Americanos, ou a Guerra dos Americanos, como lhe chamam os Vietnamitas, opôs o Vietname do Norte, apoiado fundamentalmente pela União Soviética e pela República Popular da China, ao Vietname do Sul, apoiado fundamentalmente pelos Estados Unidos da América, naquele que foi um dos conflitos das chamadas guerras indirectas durante a Guerra Fria. É nesse quadro geral da Guerra Fria que os americanos veêm a guerra, mas para os vietnamitas, o que se discutia ali, mais que o poder de russos ou americanos, era mesmo o futuro do seu país. Referências diferentes trazem perspectivas diferentes (ler mais)

As Veias Abertas Da America Latina‘, livro de Eduardo Galeano

Nos últimos anos, na generalidade dos países da América Latina, esforços tinham sido feitos para devolver o poder à população e melhorar as suas condições de vida, nomeadamente com o intuito de tirar de lá os muitos que estavam embrulhados na pobreza e na fome. A chamada ‘onda rosa’, que, desde o final dos anos 90 do século passado, levou ao poder diversos governos com programas baseados em políticas reformistas de esquerda, partia essencialmente duma premissa comum (obviamente com as devidas diferenças internas): opor-se às directrizes políticas e económicas impostas pelos Estados Unidos da América e pelo Fundo Monetário Internacional, controlado em grande parte pelos Norte Americanos. Lula da Silva, no Brasil, Évo Morales, na Bolívia, Hugo Chávez, na Venezuela, Néstor Kirchner, na Argentina, entre muitos outros, trouxeram ao país a esperança da reversão de séculos de subjugação da população dos seus países, procurando inspiração em nomes como Símon Bolívar e Salvador Allende, este último morto durante o Golpe de Estado financiado pelos EUA que pôs Pinochet no poder no Chile (ler mais)

Breve História de Sete Assassinatos’, livro de Marlon James

Neste livro de quase 700 páginas recém-editado pela Relógio d’Água, há chacinas frequentes, há histórias de gangues, de música, de drogas, mas, acima de tudo, de personagens – inspiradas em pessoas reais – que cresceram em ambientes de extrema violência, nomeadamente na Jamaica da segunda metade do séc. XX. O ponto de partida é uma tentativa de assassinato a Bob Marley (quase sempre tratado como “O Cantor” ao longo da obra) quando este se preparava para protagonizar o concerto pela paz Smile Jamaica em 1975, mas a história avança bem além disso, até 1991.
Marlon James reflecte, com esta obra, acerca do papel que um artista pode ter na vida política e cívica de um país e sociedade; de que forma é possível, por trás de uma bandeira ganha com o poder da música, ter influência sobre quem manda, sejam eles políticos ou gangsters (ou ambos). Será isso possível ainda para mais com a oposição dos EUA que, provavelmente ainda mais que actualmente, estendiam a sua influência ao resto do mundo, muitas vezes sobre a forma de incentivo à violência (ler mais)

Cartas de Amor e de Guerra’, livro de Mikhail Chichkin

É discutível até que ponto a Rússia alguma vez conseguirá regressar ao seu período literário áureo, presente desde a segunda metade do séc. XIX ao início do séc. XX, e embarcando nomes como Dostoiévski, Tólstoi ou Tchékhov. Nos dias de hoje o grande nome, unânime nos círculos dos críticos e dos prémios russos, mas também internacionalmente, é Mikhail Chichkin, já apontado várias vezes, aliás, como favorito a receber o prémio Nobel. Chichkin chega, pela primeira vez, ao mercado português, pela mão da editora Ítaca, que nos traz agora Cartas de Amor e de Guerra (ler mais)

Octaedro’, livro de Julio Cortázar

Orientar o leitor até ao sentido, dispensando o esforço de quem recebe o texto, é algo rejeitado por escritores como Jorge Luis Borges, ou Edgar Allan PoeJulio Cortázar (1914-1984), influenciado por estes dois escritores, construiu narrativas que exigem do leitor redobrada atenção. O escritor argentino dá liberdade e pede responsabilidade, num jogo literário que depende da participação de quem decide caminhar por esta teia construída de forma exemplar. A Cavalo de Ferro continua a publicar a obra do autor de O jogo do mundo – Rayuela. Surge agora um dos últimos livros do escritor, Octaedro, publicado em 1974, mas inédito em Portugal até agora (ler mais)

Em Crítica da Razão Negra, publicado pela Antígona em 2014, Achille Mbembe, filósofo e cientista político camaronês, um dos pensadores maiores do pós-colonialismo, propõe-se agregar num livro os diferentes conceitos e abordagens que marcaram o pensamento raciocinado sobre o Negro, enquanto raça, enquanto ser. Partindo dos conceitos desenvolvidos por pensadores antes de si, dos quais Frantz Fanon merece o principal destaque, a obra remete-nos para a Négritude de Aimé Césaire ou para o Movimento Pan-Africano de Marcus Garvey, aos quais reconhece imensas valências, mas que critica por perpetuarem o conceito de raça, a distinção entre Negro e Branco. Assim, estes resgatam o Negro da subalternidade, dando-lhe uma identidade própria, tão relevante quanto a do Branco, mas continuam a manter a raça enquanto conceito diferenciador (ler mais)

A Vida Invisível de Eurídice Gusmão’, livro de Martha Batalha

O romance A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, de Martha Batalha, foi inicialmente rejeitado no mercado editorial brasileiro. Porém, no decorrer da Feira de Frankfurt — considerada a mais importante a nível mundial —, a obra foi adquirida instantaneamente por seis editoras internacionais. Ademais, já foi anunciada uma adaptação cinematográfica, que será realizada por Karim Aïnouz, cuja produção iniciará em 2017. Perante tamanha agitação no universo editorial, jornais como a FolhaEstadão Globo acabaram por atribuir um grande destaque à primeira obra de Martha Batalha. A questão coloca-se de imediato: como puderam rejeitar, em primeira instância, a história de “Eurídice Gusmão, a mulher que poderia ter sido” (Batalha, 2016: 42)? (ler mais)

Margarita e o Mestre’, livro de Mikhail Bulgakov

Nascido numa família de elite intelectual russa, em 1891, na cidade de Kiev, numa Ucrânia dominado pelo Império Russo, Mikhail Bulgakov viria a estudar medicina e a exercer a profissão, mas o seu interesse por literatura russa e por toda a  europeia mudou o seu caminho. Ainda jovem, Bulgakov apaixonou-se por autores, como Dostoievski, Goethe, Gogol, Pushkin e Dickens. Fruto da época atribulada na qual viveu, veio a participar na Primeira Guerra Mundial como cirurgião, e na Guerra Civil Russa, nas quais sofreu várias lesões de ordem física (ler mais)

Nossos Ossos‘, livro Marcelino Freire

Valter Hugo Mãe, no prefácio a Nossos Ossos, introduziu Marcelino Freire como o “(…) mestre. (…) um escritor de maravilha, na esteira dos maiores do seu país, na esteira dos maiores da língua portuguesa” e terminou, afirmando: “Não dá medo ler Marcelino Freire. Dá juízo”. Iniciamos uma espécie de ritual de preparação para o que se aproxima e antevemos; respiramos de modo profundo, porque nos iremos embrenhar (ou embater?) no colosso literário que Valter Hugo Mãe nos promete. Porém, falhámos redonda e inegavelmente. Qualquer preparação não terá sido suficiente. A violência, a angústia e a individualidade de Nossos Ossos impõem-se como um percurso, uma luta. Temos de suspender a leitura para recomeçar com outro fôlego. Imbuímo-nos em Heleno Gusmão, bebemos do seu amor a Cícero, também referido como o boy. Uma viagem visceral, sem dúvida (ler mais)

O teu rosto amanhã‘, livro de Javier Marías

Ao longo dos seus já treze romances (e outros tantos livros de contos e colectâneas de crónicas e artigos), o narrador de Javier Marías parece ser sempre o mesmo. Com as devidas variações de um livro para o outro, o seu trabalho incide sempre em algo que lide com interpretar o outro, seja através de traduções ou subtextos, ou sendo um escritor fantasma (vulgo ghostwriter) ou até mesmo um intérprete de ópera. Acima de tudo, o narrador de um livro de Javier Marías parece-se com o próprio, como se, no fundo, cada romance fosse sempre narrado pelo autor (até pela similitude dos temas de livro para livro), que vai variando os traços biográficos do narrador ficcionado, mas que os mantém sempre próximos uns dos outros e, consequentemente, de si mesmo, numa mistura entre ficção e biografia que o autor nos engana (ler mais)

Viagem ao Sonho Americano‘, livro de Isabel Lucas

Todas as narrativas acerca dos Estados Unidos da América acabam inevitavelmente por ir dar ao Sonho Americano, a noção de que um futuro próspero está à tua frente se te esforçares e trabalhares no duro. De que, não importa o teu passado, para poderes prosperar no país de todas as possibilidades. Inegavelmente ligada à ideia de migração, uma saída do local onde crescemos, em direcção a uma terra desconhecida, à procura de sucesso, o Sonho Americano está na fundação daquele que é, ainda hoje, provavelmente o mais poderoso país do mundo.

Isabel Lucas, jornalista do jornal Público, esteve durante cerca de um ano a viajar por este país, num projecto apelidado A América pelos Livros, consistindo numa reportagem por cada um dos doze meses do ano dedicada a uma geografia específica do país, partindo de uma obra literária que a esta geografia estivesse associada. Esses doze artigos, reportagens com sabor ensaístico, foram agora agrupadas e publicadas em formato livro com o nome de Viagem ao Sonho Americano, pela Companhia das Letras, juntando, aos textos publicados no Público(o primeiro no dia 1 de Maio de 2016, o último dia 2 de Abril de 2017), pequenos apontamentos ao longo da viagem, em jeito diarístico, que encerram, em poucas frases, pensamentos e relatos de Isabel Lucas em relação ao que se vai passando no seu dia-a-dia (ler mais)

A Revolução do Algoritmo Mestre‘, livro de Pedro Domingos

Numa conferência, e em jeito de recomendação literária, o fundador da Microsoft Bill Gates deixou a obra de um português. De nome “The Master Algorithm” (traduzindo fica “O Algoritmo Mestre”, o multimilionário aponta para a necessidade de toda a gente a ler para se compreender os contornos e os possíveis retornos da Inteligência Artificial. Para além dessa reflexão, justifica também a sua sugestão com a grande plataforma de projeções e idealizações para todos aqueles envolvidos na investigação e configuração tecnológica. Bastou esta nota deixada por Gates para o número de vendas disparar e para estes horizontes serem percecionados com maior clareza e firmeza por um mais vasto leque de leitores (ler mais)

Partículas Comensais”, livro de Jaime Milheiro

Jaime Milheiro, psiquiatra e psicanalista, é considerado uma das vozes mais importantes da psicanálise em Portugal, pelo seu contributo ao longo de várias décadas, quer em termos clínicos, quer em termos académicos. O seu novo livro tem como título “Partículas Comensais”, da Cordão de Leitura.

Como o próprio autor refere, todos os Homens procuram, principalmente no fim das suas vidas,  as suas próprias partículas comensais, essas que lhes poderão dar um significado que ainda buscam, mas “as partículas regressivas já não serão comensais: serão cinzas: apenas cinzas, sem eco nem retorno.” Quer isto dizer que tudo na vida tem o seu tempo, a sua oportunidade, a sua circunstância singular. Não se poderão repetir episódios do passado, mas apenas perceber-lhes o sentido e a forma como eles ainda ressoam no presente (ler mais)

Apanhados pela Revolução’, livro de Helen Rappaport

O livro de Helen Rappaport não é, certamente, único e, por certo, não será o último de uma lista, sem surpresa, longa. Mas  traz algo mais à enorme torrente de bibliografia sobre as revoluções de 1917 de Fevereiro e Outubro. Para se perceber de que forma o estudo desta historiadora pode trazer um contributo valioso e singular, basta percorrer as oito páginas ocupadas pelo «Glossário de Testemunhas Oculares». Entre jornalistas, estudiosos, activistas e diplomatas, há, nesse elenco, profissionais de saúde, aristocratas, artistas, mas também cidadãos sobre os quais pouco ou nada é possível saber. Todos eles, no entanto, têm algo em comum: estavam em Petrogrado antes, durante e/ou depois das revoluções de 17. E deixaram marcas e testemunhos, escritos ou relatos por interposta entidade. Vislumbres que permitem ao leitor, à distância de um século exacto, acesso à impressão recolhida in loco (ler mais)

A Gorda‘, livro de Isabela Figueiredo

Na contracapa: “Estou aqui de passagem, é para seguir em frente, sou de ferro e ninguém me dobra. Em silêncio, sou sempre eu e o que em mim se compõe e apruma”. Abrimos o romance e debatemo-nos com três epígrafes: uma da autoria de Mary Shelley, outra de Javier Cercas e, por fim, Henry David Thoreau. O que as une? A solidão, a luta e a confissão. De seguida, colidimos com uma epígrafe sonora, que engloba artistas como Nina Simone, Prince e Lou Reed. De pulmões cheios, esta ‘gorda’ avisa-nos: esta é uma narrativa para se ler atenta e inteiramente. Existe uma intenção clara em contar, em partilhar, em fazer-se ouvir. Falará das suas entranhas, entranhar-se-á no nosso cerne. Narrará o seu passado neste romance confessional, porque, como afirma Javier Cercas, “viver um presente sem passado é viver um presente mutilado”. A partir do momento em que escutamos a sua playlist, o nosso mundo funde-se na vivência experiencial desta mulher. Ela falará e falará nos seus termos, descartando o comedimento. Não há grande lugar para nós, contudo acolhemos, talvez resignados, mas aceitamos e escutamos (ler mais)

A Porta’, livro de Magda Szabó

Inegavelmente, ou não teriam como fazer o seu próprio trabalho, as empregadas domésticas, ou criadas, como eram em tempos chamadas, são das poucas pessoas com acesso à nossa privacidade. O nosso lar, vedado a tantos, é lhes aberto, entram em nossa casa, limpam aquilo que sujamos, arrumam aquilo que desarrumamos, às vezes cuidam até dos nossos filhos, ou, se trabalharmos em casa, até acesso aos nossos hábitos de trabalho têm. O privilégio que, à partida, nos dá a possibilidade de poder ter uma empregada doméstica, acaba por nos colocar numa posição de condescendência em relação à pessoa a quem delegamos aquilo que consideramos de menos importância, não por não precisarmos que seja feito, mas por não termos como ser nós a fazê-lo, quer por julgarmos ser bons demais para isso, quer meramente pela impossibilidade de conciliar tais actividades com a vida profissional (ler mais)

Reaccionário Com Dois Cês‘, livro de Ricardo Araújo Pereira

rabugices sobre os novos puritanos e outros agelastas”, esta é uma pequena frase que está na capa da obra literária e que explicar de certa forma o conteúdo o conteúdo do novo livro de Ricardo Araújo Pereira.

Depois de em Dezembro de 2016 ter lançado “A Doença, O Sofrimento e a Morte Entram Num Bar”, editado pela Tinta da China, é agora lançado, pela mesma editora, e a 10 de Novembro, “Reaccionário Com Dois Cês” (ler mais)

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