Realizador iraniano Jafar Panahi inicia greve de fome em protesto por continuar preso
O realizador iraniano Jafar Panahi iniciou na quarta-feira uma greve de fome, em protesto por continuar detido em Teerão, mesmo depois de a sua sentença de prisão ter sido declarada nula.
De acordo com um comunicado divulgado pela mulher, Tahereh Saeedi, o cineasta iniciou a greve de fome na quarta-feira na prisão de Evin, perto de Teerão, onde está detido desde julho de 2022.
“Recusar-me-ei a comer, beber e a tomar qualquer medicação até à minha libertação. Permanecerei nesta situação até que, talvez, o meu corpo sem vida seja libertado da prisão”, afirmou o realizador em comunicado, citado pela agência France Presse.
Jafar Panahi, um dos mais acarinhados e premiados realizadores iranianos da atualidade, foi detido a 11 de julho de 2022, porque se apresentou em tribunal para acompanhar a detenção de um outro realizador iraniano, Mohammad Rasoulof, no âmbito de protestos contra o governo do Irão.
Com aquela detenção, as autoridades reativaram uma sentença, de seis anos de prisão, que tinha sido declarada contra Panahi em 2010, à qual se juntou uma proibição de saída do país, por “propaganda contra o regime“.
No entanto, em outubro, o Supremo Tribunal do Irão anulou a aplicação daquela sentença e ordenou um novo julgamento, mas Jafar Panahi, 62 anos, permanece detido.
Jafar Panahi obteve um Leão de Ouro em 2000, no festival de cinema de Veneza, pelo filme “O Círculo”, e o Prémio de Melhor Argumento, em Cannes, em 2018, com “Três Faces”, três anos depois de ter conquistado o Urso de Ouro, em Berlim, por “Táxi”.
Este filme, também conhecido por “Taxi Teerão”, foi realizado e protagonizado clandestinamente pelo próprio Panahi, depois de ter sido proibido pelo governo iraniano de voltar a filmar, durante 20 anos.
Apesar de todas as restrições, Panahi continua a filmar e o mais recente filme, “Ursos não há”, premiado em 2022 em Veneza, está atualmente nas salas de cinema em Portugal.
Jafar Panahi iniciou a greve de fome no dia em que centenas de personalidades publicaram um apelo conjunto a um apoio “inabalável” aos iranianos que protestam contra o regime do país e desafiam a repressão.
Publicado pela organização não-governamental (ONG) norte-americana Freedom House, o apelo estima que “o triunfo da liberdade no Irão poderia relançar a onda global de democratização, que era tão forte no final do século XX mas que enfraqueceu face ao contra-ataque autoritário“.
Assinada por 480 personalidades, incluindo a escritora bielorrussa Svetlana Alexievich, Nobel da Literatura em 2015, a ex-secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton e o ator Richard Gere, a declaração sublinha que os manifestantes “merecem o apoio total dos amantes da liberdade de todo o mundo“.
A onda de protestos contra o regime teocrático do Irão intensificou-se após a morte de Mahsa Amini em setembro de 2022. A jovem tinha sido presa por alegadamente violar o rigoroso código de vestuário das mulheres.
O desafio ao regime tem continuado desde então, apesar de uma feroz repressão que resultou na execução de quatro homens e na prisão de pelo menos 14.000 pessoas, segundo a ONU.