Sistemas como ChatGPT “vão ser cada vez mais importantes” na indústria das telecomunicações
A engenheira de inteligência artificial (‘AI engineer’) da Altice Labs Sara Furão considera, em entrevista à Lusa, que sistemas como o ChatGPT “vão ser cada vez mais importantes” na indústria das telecomunicações.
O ChatGPT, que tem sido um fenómeno viral desde que ficou disponibilizado ao grande público há cerca de dois meses — sistema de inteligência artificial (IA) que permite uma interação semelhante ao de um humano — que trouxe para a ribalta a importância desta tecnologia em todas as vertentes e é uma realidade que veio para ficar.
“Achamos que cada vez mais este tipo de soluções, agora tem-se falado muito sobre o ChatGPT, vão ser cada vez mais importantes nesta área da indústria das telecomunicações“, afirma Sara Furão,
E porquê? “Porque funciona como uma ponte de comunicação entre os clientes e as empresas e, portanto, através deste tipo de comunicação os clientes podem facilmente questionar sobre as soluções que as empresas oferecem, podem conseguir tirar dúvidas ou resolver questões que tenham“, prossegue a responsável.
No caso da área de atendimento ao cliente, “este tipo de sistemas vai conseguir automatizar certas tarefas que possam ser mais repetitivas e, portanto, deste modo, vai conseguir entregar melhor eficiência“, nomeadamente, por exemplo, no tempo de espera, que irá diminuir, exemplifica.
Para Sara Furão, o sucesso do ChatGPT tem a ver com “aplicabilidade que está a ter“, que está “realmente a gerar este impacto junto do público“.
Isto porque a tecnologia base por trás do ‘chatbot’ “já existia e existem outras soluções” noutras empresas que já estão também a utilizar essa base.
No entanto, o grande destaque passa pela “forma como eles [OpenAI, empresa que desenvolveu o ChatGPT] conseguiram trabalhar com este volume de dados, porque ele sabe muitos temas“, prossegue. O conhecimento do ChatGPT vai até 2021.
No que respeita às vantagens desta solução, “quando usamos o ChatGPT conseguimos perceber a rapidez com que ele consegue entregar-nos a informação e que, antes disso, se calhar teríamos de aceder a várias fontes de informação e fazermos o sumário“, aponta.
A “rapidez e eficiência” na informação disponibilizada pelo ChatGPT e a sua automização nestas tarefas colocou o algoritmo da OpenAI em destaque e “este auge” que está a ter “vai permitir que exista uma capacidade maior” nas novas aplicações de inteligência artificial, diz Sara Furão. Ou seja, acaba por aumentar o nível de exigência deste tipo de soluções.
Este é um tema que “vai continuar a ser bastante procurado” e os riscos que existem já existiam antes de o ChatGPT ter surgido, refere a responsável de IA da Altice Labs.
No entanto, “temos que trabalhar nas técnicas que vão conseguir mitigar esses riscos“, salienta, dando como o exemplo o facto de a OpenAI ter anunciado recentemente uma forma de se conseguir perceber se determinado texto foi gerado utilizando a IA ou não.
Porque o ChatGPT já deu provas de ser ‘bom aluno’, com trabalhos que é difícil distinguir se foi a máquina ou o humano que elaborou e até já passou exames, colocando novos desafios às instituições de ensino.
No caso das universidades, adianta, há aquelas “que estão a ir por um caminho que é abolir o ChatGPT e há outras que estão a aceitar que isto é uma inovação e que vão existir outras [soluções semelhantes] e estão já a trabalhar também em forma de conseguir mitigar este risco e conseguir aferir a capacidade dos alunos por outros métodos“, salienta Sara Furão.
Aliás, a responsável recorda o uso da calculadora nas salas de aula, que no início originou debate.
“Vai continuar a existir esta evolução“, salienta.
Sara Furão sublinha que a IA “desde sempre” tem vindo a ser “parte do ADN” da Altice Labs, “que tem bastantes projetos de investigação” e produtos com inteligência artificial em vários âmbitos, quer na alarmística (previsão de que vai acontecer uma avaria) ou em plataformas para as ‘smart cities’ (cidades inteligentes) ou 5G.
Uma dessas plataformas é a BOTSchool, que “permite a criação de assistentes virtuais de forma simples e mais ágil” e “já temos alguns casos de sucesso dos quais, se calhar, o que poderá ser mais conhecido pelo público é o da operadora Meo, em que já desde há algum tempo que esta plataforma tem vindo a dar resposta a bastantes chamadas que chegam ao ‘call center’” da operadora da Altice Portugal, exemplifica.
“A BOTSchool consegue perceber, fazer o entendimento do tema e neste caso poderá dar uma resposta direta“, resolvendo o problema do cliente.
Aliás, “consegue já fazer uma triagem e dar um atendimento mais personalizado” e depois, caso seja necessário, passa a chamada a operadores humanos.
“Existem provas dadas de que efetivamente é uma mais-valia para nos ajudar nas nossas tarefas de dia a dia“, sublinha Sara Furão.
Portanto, “acredito que com o surgimento destas soluções, cada vez mais vai-se apostar nesta área da inteligência artificial e vão ser desenvolvidos sistemas cada vez mais inteligentes, com capacidade cognitiva maior, mais automação em mais tarefas e em mais setores“, admite.
No caso da Altice Labs, “o nosso compromisso é que vamos continuar a entregar este tipo de soluções e fazer com que estas cheguem às empresas” e “conseguir contribuir para a sociedade de forma a conseguirmos ajudar as pessoas em dificuldades que possam ter no dia a dia e que consigamos simplificar ou mesmo resolver“, sublinha.
Sara Furão, que também já experimentou o ‘chatbot’ da OpenAI que é capaz de ter uma conversa como se de um humano se tratasse, destaca o “grande volume de dados” que é usado nesta solução e que “não tinha sido feito antes“.
No entanto, “temos de ter em atenção que estas tecnologias são baseadas em probabilidade, temos de ter sempre também a consciência de aferir a informação“, alerta.