Festival indiano Durga Puja: uma oportunidade para renovar o sentido de comunidade
Entre os passados dias 21 e 23 de Outubro, o Mercado de Culturas, espaço localizado no Mercado do Forno do Tijolo, em Lisboa, recebeu uma celebração do festival indiano Durga Puja, organizada pela associação sem fins lucrativos Bhoomi. Esta associação, formada em Lisboa, dedica-se a divulgar a rica cultura indiana em Portugal, de forma a fortalecer os laços entre os indianos e pessoas de origem indiana que vivem no nosso país, assim como com aqueles que pretendam conhecer mais sobre a Índia. Uma das suas missões é passar da conexão virtual para momentos ao vivo, de forma a celebrar momentos de alegria com pessoas que partilhem essa paixão, como é o caso deste festival Durga Puja, organizado pelo segundo ano consecutivo em Lisboa. Foi isso que sentimos ao visitar o certame.
Nas próprias palavras dos organizadores, “Durga Puja é uma ocasião alegre e profundamente significativa durante a qual honramos a deusa Durga e celebramos sua batalha triunfante contra o mal”. Durga é uma deusa que “simboliza a coragem inabalável, a força indomável e o empoderamento das mulheres”.
Para a celebração em Lisboa, inaugurada pelo Embaixador da Índia, Manish Chauhan, o espaço pintou-se de vívidas cores, tanto no altar votivo repleto de motivos religiosos e no palco que recebeu inúmeras actuações de diferentes estilos, como nos sáris envergados pelas mulheres que fizeram questão de marcar presença neste evento que as homenageia. Para além disso, houve ainda bancas a vender vestes indianas e artesanato, e uma mostra culinária de diferentes partes da Índia. Provámos masala dosa, que é um crepe preparado com farinha de grão de bico e recheado com uma espécie de caril de batata, e duas variedades de petiscos salgados. E apesar de a comida indiana ser bastante prevalente em Lisboa, acho que dificilmente tínhamos provado versões tão caseiras por cá.
Apesar de este ser um evento profundamente espiritual, não era fechado à comunidade indiana, fazendo questão de acolher calorosamente qualquer outra pessoa que o visitasse, fosse local ou turista. Aliás, até foi uma pena termos visto poucas pessoas não-indianas a fazê-lo, algo que se poderá ter devido à comunicação do evento não ter chegado a mais gente.
Por outro lado, isso fez com que a sensação ao longo da nossa visita fosse de nos estar a ser revelado um segredo escondido. Sair do bulício das ruas lisboetas, onde muitos dos imigrantes indianos se vêem associados a aspectos mais práticos da vida, para um espaço onde podem dar largas à cultura que certamente guardam tão perto do seu coração foi comovente. Dizemos isso pela clara felicidade das famílias que se reencontravam neste espaço, que dançavam e riam de forma despreocupada. Esta foi uma oportunidade para renovarem o seu sentido de comunidade.
A escolha deste espaço polivalente pertencente à Junta de Freguesia de Arroios é particularmente adequada. Não só pela natureza do seu nome, Mercado de Culturas, mas também por se situar numa das freguesias lisboetas com maior diversidade cultural. Sabe-se que a integração de imigrantes é poucas vezes feita da melhor forma, tanto pela pobre recepção de quem em Portugal habita, como pela formação de comunidades demasiado fechadas e que não acabam por não comunicar harmoniosamente com os restantes habitantes da cidade. Eventos como este tentam reduzir esse rifte da melhor forma possível: através de uma demonstração de cultura cativante e calorosa, aberta a todos.