Concerto 1986: uma viagem solidária à decada de 80
No passado dia 17 de Maio, realizou-se o concerto da série 1986, do realizador Henrique Oliveira e do argumentista Nuno Markl, que tem marcado presença nos serões de terça-feira da RTP. A Altice Arena foi palco para uma viagem à década de 80 – como prometido por Markl – ainda que com artistas bem atuais. Movido pelo objetivo de angariar fundos para a Associação Novo Futuro, o concerto reuniu os músicos responsáveis pela banda sonora, o elenco, a produção e, claro, familiares, amigos e uma série de pessoas que, movidas pela curiosidade, queriam ter uma experiência direta daquilo que têm acompanhado na televisão.
Tiago Garrinhas fez as honras e, no seu papel de Tó, iniciou aquele foi o oitavo concerto solidário da associação, referenciando a tão famosa rádio Boa Onda, a estação pirata da série que funciona como elo de ligação entre as várias personagens. Após ouvirmos o genérico da produção, Nuno Markl fez uma pequena apresentação, acompanhado de Laura Dutra e Miguel Moura e Silva e, finalmente, entraram as vozes de canções como “Pensamos no Futuro Amanhã” ou “A Verdade Nunca Sai à Rua”.
Começaram por subir ao palco Ana Bacalhau, Márcia e Rita Redshoes. Entre as músicas da banda sonora que interpretam, houve ainda tempo para cantarem alguns marcos dos eighties, como “What About Love”, de Heart, ou “Sweet Dreams” dos Eurythmics. Sozinhos ou a solo, e seguindo a mesma lógica de alternância entre as canções da série e os êxitos dos anos 80, participaram Samuel Úria, Catarina Salinas, pertencente à banda Best Youth, David Fonseca, João Só, Miguel Araújo e Tatanka, dos Black Mamba. Não é possível, também, esquecer o realizador Henrique Oliveira, antigo músico dos Táxi, que se juntou ao grupo com a sua guitarra.
O grande momento da noite ficou marcado pela presença de Lena D’Água que, ao entrar em palco, não hesitou em cumprimentar Marcelo Rebelo de Sousa, sentado na primeira fila, e relembrar o momento em que ambos se encontraram num elevador. Juntamente com Ana Bacalhau e Rita Redshoes, e entre pedidos de casamento, interpretou “Dou-te um Doce”, canção que assina.
Entre as atuações musicais, Miguel Partidário leu um poema e avisou Marcelo que pretendia ‘tirá-lo’ do Palácio de Belém, Markl apresentou o elenco e Laura Dutra apelou a que o público dançasse. A verdade é que, entre o pop e o rock, temas como “Sultans of Swing”, dos Dire Straits, “You Make my Dreams”, dos Hall & Oates ou “Smooth Operator”, de Sade são difíceis de deixar as pessoas fixas à cadeira sem, pelo menos, bater o pé ao ritmo da bateria.
A banda sonora, da autoria dos artistas já referenciados, relembra o pop emergente dos anos 80 e, através de timbres tão diferentes, transporta-nos para um universo distante, onde o Futuro e o Espaço estão na ordem do dia. Fala-se ainda de medos e protestos em “América ao Pequeno-Almoço”, onde Samuel Úria mistura metal numa doce balada. João Só e Miguel Araújo juntam-se em “Hoje Eu Vi o Mundo”, que evoca sonhos e desejos de amor. Por outro lado, enquanto Ana Bacalhau “conquista o seu canto no espaço”, em “Pensamos no Futuro Amanhã”, João Só espera que “as estrelas entrem em conjugação”, em “Quanto é que Falta?”. Sem dúvida, letras e sonoridades complementam-se e contribuem para a singularidade da criação de 1986.
Para concluir, sublinho como foi bonito a equipa de 1986 ter-se unido em torno de uma causa, quebrando as barreiras entre o mundo ficcional e a própria realidade. Ainda que a sala não estivesse cheia, o concerto demonstrou a força que uma produção portuguesa pode ter quando, como Markl diz, “chega às pessoas certas”, conseguindo juntar artistas nacionais, uma série de pessoas curiosas e o próprio Presidente da República.
Fotografias de Marta Vicente