‘Macbeth’ é uma trágida como filme
Será sempre difícil para qualquer cineasta colocar em tela tudo o que a tragédia Macbeth, de William Shakespeare transporta em si. Ainda assim, nomes como Orson Welles ou Roman Polanski conseguiram-no com qualidade (sobretudo o primeiro). O realizador Justin Kurzel quis reinventar a linguagem transportando-a para a imagem, mas falhou. É Shakespeare, e por consequência está tudo no texto que neste filme foi completamente descurado.
De fraco resultado final, a obra de Justin Kurzel encontrar-se-á na história (contando que lá fica para os poucos que não a preferem esquecer) como o Macbeth “ornamentado”. Não haverá porventura pior elogio a fazer a um filme baseado num texto de Shakespeare que dizer que o seu ponto forte reside no seu aspecto visual, como é o caso.
A falta de essência ou chama nos diálogos erradamente ou só por mau gosto poderá alguma vez conseguir ser confundido com um niilismo propositado sob forma de desculpa ao vazio textual que se esconde na textura da fotografia no filme. Ora garrida ora exangue e fria que com uma só cor prevalente em cena explora em volta o ambiente que existe no centro do ecrã, o texto shakesperiano mais parece um adereço ao look do filme por culpa do realizador australiano.
Tentando dar alguma vitalidade na oratória está um inspirado Fassbender que no meio de tanta mediocridade arriscava-se a passar despercebido. Como o bravo guerreiro Macbeth, que busca a conquista pelos próprios meios de uma profecia, Fassbender suja as suas mãos de sangue para chegar ao trono da Escócia. Talvez por culpa de uma Marion Cottilard bela mas sem alma para Lady Macbeth, que não consegue dar-lhe um herdeiro desejado da mesma forma que não consegue causar sensação no texto debitado, Macbeth, outrora guerreiro, vira rei louco. No meio de tanta coisa mal encaixada por Kurzel ficamos na dúvida sobre se não será este o verdadeiro motivo da loucura “deste” Macbeth.
Com tanta matéria prima à sua disposição, Macbeth causa desilusão por não conseguir aliar à barbaridade sanguinária de muitas das cenas à intensidade de oratória que o texto merece, muito menos por ter encontrado um equilíbrio saudável entre a bela fotografia do filme e a força textual de William Shakespeare.