A Rosa de Luísa Sobral não tem espinhos, mas é muito verdadeira
Oito da noite e o recinto do Sol da Caparica, na Margem Sul de Lisboa, já está bem composto para receber Luísa Sobral. Meia hora antes, com o lusco-fusco, a CCA falou com Luísa sobre o concerto que ia dar e um novo álbum quase a sair.
Interrompemos o momento em que se vestia, mas a serenidade – que é tão característica sua – nunca saiu dela. “Estou tranquila. São as vibes do surf, a maresia”, assegura-nos Luísa. Vai ser a primeira a atuar e há sempre receio de não encontrar um público em peso à sua espera. “Dizem que é uma hora muito bonita para atuar porque tem o pôr-do-sol. Mais que tudo está-me a apetecer tocar, e eu gosto tanto de tocar com os meus músicos que isso é o mais importante.” Apesar das preocupações da artista, podemos assegurar que muitas pessoas pararam para ouvir Luísa Sobral. Já no palco, agradece às pessoas por terem saído da praia para a ouvirem.
Para quem está habituada a concertos de uma hora e vinte, 45 minutos é pouco, mas para Luísa sabe sempre bem tocar e ao público sabe bem ouvir. Prova disso é um homem, por entre o público, que deixa escapar as palavras: “Esta música é tão harmoniosa”. Quem o acompanhava não podia deixar de ouvir Luísa e responde apenas com um “hm hm”, como quem concorda.
Em conversa, Luísa diz à CCA que espera que as pessoas gostem do alinhamento das músicas, já que é um concerto um bocadinho mais curto que o normal, mas deixou a nota para uma surpresa: “Vamos tocar com bateria, o que é uma coisa um bocadinho diferente daquilo que temos andado a fazer. Vai ser um concerto especial.”
Foi um concerto de música harmoniosa, como se previa. E a bateria (surpresa em palco) colocou o espetáculo ao vivo noutro patamar. Claro que o público queria mais. Claro que a artista também – nem que fosse para poder falar um pouco mais entre as músicas, explicar as histórias por detrás das letras, que são sempre muito poéticas. Tudo o que canta é muito cru e afaga a alma. Luísa canta (claro), Luísa ri, Luísa dança, Luísa toca trompete com a boca. Deve ser algo de família.
A artista diz-nos que não tem superstições, o “antes” não é um ritual sagrado. Só precisa de se acabar de vestir. Deixamo-la, ela aquece a voz, toca um pouco guitarra e está pronta para começar por tocar “Nádia”, do novo álbum “Rosa”, que não será o único exibido. No fundo do palco há cinco faixas de pano com as imagens de um bolbo, que o tempo faz germinar para que nasça uma rosa: é a capa do álbum que homenageia a filha, Rosa. Luísa, que nos diz estar bem na pele de compositora e de intérprete das suas canções, encantou com doçura e emoção. Mostrou que uma rosa pode não ter espinhos e continuar a ser real.
E novidades? Luísa diz que está a pensar num novo álbum, “um álbum com um conceito, que ligue as pessoas”. Para isso, por entre algum mistério diz que vai lançar a ideia no próximo ano e que espera ter a ajuda das pessoas, dos fãs, se for pelo caminho em que está a pensar: “Em janeiro vão saber como ajudar”, assegura Luísa.
A artista que escreve e canta em inglês – tendo também músicas em francês – diz que o álbum do próximo ano vai ser em português. “Eu tenho de fazer aquilo que sinto e neste momento sinto que tenho de escrever em português”, descreve Luísa Sobral