Álbuns com Pó. Um afro-funk único em Conflict, de Ebo Taylor
O lendário guitarrista ganês Ebo Taylor emergiu durante a década de 50, com o aparecimento das grandes bandas de música highlife no seu país natal. Antes de uma carreira a solo, que o tornou num dos maiores músicos africanos de sempre, Taylor fez parte de diversas colectividades como os Stargazers, os Broadway Dance Band ou os The Blue Monks, tendo colaborado com outros grandes da cultura musical subsariana. Nos anos 60, Ebo Taylor viveu em Londres, assim como Fela Kuti ou Peter King, tendo regressado ao Gana para trabalhar como produtor em projectos de artistas como Pat Thomas. É por esta altura que Taylor combina sonoridades tradicionais do Gana com ritmos afrobeat, jazz e funk para criar um som único, que se tornou reconhecível como sendo um género à parte a partir dos anos 70.
Depois de décadas a produzir, a tocar e a lançar a sua própria música, um curto reconhecimento internacional viria com o surgimento do hip hop nos E.U.A., onde vários grupos começaram a recuperar as raízes musicais africanas nos seus sons. Mais tarde, com a descentralização da indústria musical em várias editoras independentes originárias da era da internet, Ebo Taylor, já na casa dos 70 anos de idade, obteve finalmente o reconhecimento a nível mundial que merecia. A Strut Records apadrinhou o seu ‘renascimento’, editando aclamados álbuns como Love & Death ou Apia Kwa Bridge e a ‘obrigatória’ compilação Life Stories (Highlife & Afrobeat Classics 1973-1980), que incluiu muitos dos seus principais trabalhos, até aí bastante desconhecidos.
Baseada em Londres, a mítica editora, loja e arquivo cultural Mr. Bongo reedita agora um dos melhores álbuns de Taylor. Conflict foi originalmente lançado em 1980 pela Essiebons Records, mas já há muito que os coleccionadores do género clamavam por uma nova edição. As cinco canções que compõem Conflict representam na perfeição aquele que é o som de marca de Ebo Taylor, carregando com doses generosas de funk o highlife tradicional do Gana numa tentativa de dar novas qualidades e influências ao som que cresceu a ouvir. Abrindo com “You Need Love” e o seu ritmo positivo e viciante, rapidamente Taylor mostra-nos sonoridades mais funky e grooves mais compostos em “Love & Death” e “What Is Life?”. “Christ Will Come” é um dos pontos altos do disco, combinando uma percussão hipnótica com ritmos que nos induzem em transe, servindo de alegoria para uma visão apocalíptica do regresso de Cristo. Conflict fecha com “Victory”, baseada na música tradicional do povo Asafo, sincronizando a rápida e repetitiva percussão com uma secção de sopros, reminiscente de Fela Kuti, e coros que pedem a união de toda a humanidade.
Os característicos arranjos musicais de Ebo Taylor poderiam ser, hoje em dia, considerados como um património cultural imaterial, combinando tradições musicais do Gana com elementos sucedâneos da diáspora africana. Conflict é uma das suas melhores obras, tocando em assuntos como o ‘amor’, a ‘religião’, a ‘morte’ e a ‘união’ ao longo de apenas cinco faixas. Trata-se de um trabalho único que nos convida a descobrir e redescobrir tantas outras coisas boas. Disponível em vinil através da Mr. Bongo, este é um álbum que nunca pode ganhar muito pó.
O Sotão é uma webmagazine focada no mais alto quilate da música lançada por artistas e editoras independentes. Junto com a Comunidade Cultura e Arte contribui mensalmente com a rubrica “Álbuns com Pó”, dedicado aos reissues de artistas do passado, alguns deles ainda completamente desconhecidos; e semanalmente com “Hoje à Noite n’O Sótão”.